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“Tomei remédio errado”, diz vítima de clínica que emitia falsos exames

Além de enganar pacientes, responsáveis por estabelecimento clandestino captavam clientes oferecendo consultas a preços promocionais

atualizado

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Abre exame ed
1 de 1 Abre exame ed - Foto: iStock/Foto ilustrativa

Fechada por emitir falsos resultados de diagnósticos, a Clínica do Povo aumentava sua clientela vendendo exames a valores bem abaixo dos praticados no mercado. Numa postagem no Facebook, o gerente do estabelecimento, Tiago Henrique Gonçalves, 27 anos, anunciava consulta ginecológica, ecografia transvaginal, prevenção e retorno por R$ 110. O Metrópoles ligou para dois centros especializados do DF e o pacote não sai por menos de R$ 400.

As ofertas eram publicadas em páginas como “Feira do Rolo Santa Maria” e “BazarTendtudo” como as “mais baratas do Brasil”. Os preços populares tinham uma razão: nenhum exame era enviado para análise em laboratório. Thiago foi preso na quarta-feira (1º/11), pela Polícia Civil.

O Metrópoles ouviu duas vítimas da clínica. Em setembro deste ano, Juliana*, 23 anos, desconfiou que estava com um quadro depressivo e procurou uma psiquiatra. A médica solicitou vários exames, todos feitos pela jovem na Clínica do Povo. Orientada pelos resultados, a profissional receitou dois remédios controlados: Depakote e Citalopram.

Com o esquema implodido pela Operação Falso Resultado, na quarta-feira (1º/11), Juliana entrou em desespero, pois desconfia ter ingerido os medicamentos desnecessariamente.

Minha médica receitou os remédios com base nos resultados dos meus exames, mas eles nunca foram realizados. Tomei remédio errado esse tempo todo

*Juliana, vítima da Clínica do Povo

Cátia*, 33, foi outra paciente enganada pela Clínica do Povo. No estabelecimento, ela foi submetida a coleta de sangue para confirmar um hipotiroidismo. O endocrinologista estranhou tanto os resultados do teste que pediu para a mulher refazê-lo. “De fato, eu estava com a doença, mas meu médico disse que os resultados estavam bem fora dos padrões. Por segurança, refiz em outra clínica”, conta.

Reprodução/Facebook
Gerente da Clínica do Povo anunciava falsas promoções no Facebook

 

Comércio clandestino 
Além de ludibriar pacientes e induzir médicos ao erro, a Clínica do Povo funcionava clandestinamente. De acordo com a Administração Regional de Samambaia, o comércio não contava com alvará de funcionamento.

Até a tarde de quinta-feira (2), pelo menos 41 pessoas tinham procurado a Polícia Civil para denunciar o estabelecimento, mas agentes da 32ª Delegacia de Polícia (Samambaia) — onde o caso é investigado — acreditam que o número crescerá ao longo dos próximos dias.

“Os depoimentos vão nos ajudar a dimensionar a gravidade das fraudes e saber se alguém teve o estado de saúde agravado em razão dos golpes”, explica o chefe da 32ª DP, delegado Joás Borges

PCDF/DIVULGAÇÃO
Clínica do Povo foi alvo da Operação Falso Resultado, da PCDF

 

De acordo com as investigações, cerca de 40 pessoas procuravam diariamente as clínicas que funcionavam no Recanto das Emas e em Samambaia, esta última ao lado de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), o que aumentava a rotatividade de pacientes.

Vários computadores, arquivos, prontuários e pendrives foram apreendidos durante a ação desencadeada na terça. As diligências  da Operação Falso Resultado começaram há cerca de dois meses, quando duas mulheres fizeram exames e os resultados se revelaram idênticos. Como eram pacientes do mesmo médico, ele desconfiou e avisou sobre o possível golpe.

Em seguida, as vítimas registraram ocorrência. Os agentes descobriram que o estabelecimento tinha pelo menos seis meses de funcionamento.

*Nomes fictícios a pedido das vítimas

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