metropoles.com

TJ barra atividades em 85 lotes para serviços públicos em Águas Claras

Terrenos eram originalmente destinados à construção de equipamentos públicos, segundo moradores, que cobram ressarcimento de R$ 396 milhões

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Rafaela Felicciano/Metrópoles
Águas Claras
1 de 1 Águas Claras - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) barrou a venda e a construção de empreendimentos privados em 85 lotes de Águas Claras, pois os terrenos eram originalmente destinados à instalação de equipamentos públicos – como escola, posto de saúde ou delegacia.

A decisão liminar determinou a interrupção das atividades em 20 lotes do total, que chegaram a ser vendidos e têm obras em andamento ou estão com terreno ainda livre; outros 34, sob responsabilidade do Governo do Distrito Federal (GDF), têm algum equipamento público instalado ou estão vazios. Nos dois casos, os responsáveis por entrar com a ação civil pública na Justiça cobram derrubadas do que tiver sido construído diferentemente da destinação original.

Os demais 31 lotes foram vendidos e tiveram as obras concluídas. Para esses, o processo não cobrou remoções, apenas ressarcimento financeiro, a título de danos morais e ambientais. A Justiça ainda vetou temporariamente a emissão de alvará de construção ou Habite-se para novos empreendimentos.

O TJDFT também proibiu a venda, cessão, penhora, doação ou qualquer outro tipo de registro vinculado à matrícula dos lotes, atualmente em áreas pertencentes à Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap).

Em dezembro último, a Associação dos Moradores e Amigos de Águas Claras (Amaac) entrou com a ação civil pública no TJDFT que questionou a legalidade da requalificação e desafetação dos terrenos, conduzidas pela Terracap e pelo Governo do Distrito Federal (GDF).

Na última quarta-feira (17/1), o juiz da Vara do Meio Ambiente, Carlos Frederico Majora de Medeiros, decidiu interromper comercialização dos lotes ou obras nas áreas.

Danos morais e ambientais

O GDF e a Terracap receberam R$ 990.269.827 por meio da venda dos 31 lotes, com construção consolidada, segundo a Amaac. Os moradores  da região administrativa pedem o ressarcimento de 40% do valor, a título de danos morais e ambientais.

Segundo a ação, existem 34 lotes que já estão ocupados por equipamentos públicos ou continuam vazios. Estes deverão deverão ser destinados para serviços públicos. A ação cobra que as construções dos empreendimentos particulares sejam retomadas só após o pagamento.

Além disso, a associação quer que os R$ 396.107.930,80 por danos morais e ambientais sejam revertidos para construção dos equipamentos em falta na região.

Para o presidente da Amaac, Román Cuattrin, a liminar – uma decisão provisória – representa uma vitória para a população de Águas Claras. A Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio (Pdad) de 2021 constatou que aproximadamente 20 mil moradores não têm plano de saúde na região e 7 mil estudam na rede pública.

Contudo, a cidade não conta com unidade de saúde nem escola públicas. “O próprio GDF é ciente da necessidade dos equipamentos públicos, mas fecha os olhos e acaba vendendo lotes onde, depois, teríamos a chance de contar com o serviço”, criticou Román. “A cada mês, mais um lote vai para licitação e é perdido.”

“Paliteiro de espigões”

Na decisão, o juiz Carlos Frederico Maroja mencionou os prejuízos decorrentes do crescimento desordenado e da especulação imobiliária em Águas Claras.

“[Resulta em] uma situação que, obviamente, afeta negativamente a qualidade de vida dos moradores daquela região: um paliteiro de espigões com dezenas de pavimentos, em uma cidade inchada, com problemas graves de mobilidade (é comum a afirmação de que os engarrafamentos em Águas Claras começam desde as garagens dos edifícios) e com escassa oferta de serviços públicos de saúde, segurança e educação”, destacou o magistrado.

Para o juiz, “o enorme incremento da população de Águas Claras exigiria, como pondera corretamente a associação autora, não a redução, mas o aumento do número de equipamentos públicos comunitários”.

A disputa pelos terrenos é antiga. Em protesto realizado em junho de 2021, os moradores pintaram na parede de um dos terrenos a seguinte frase: “Aqui jaz uma escola“.

Anteriormente, a população entrou com ação para questionar a constitucionalidade da mudança de finalidade para uso dos lotes. As obras foram suspensas, mas a Justiça questionou a validade da ação; então, as obras e vendas continuaram. A Procuradoria-Geral do Distrito Federal (PGDF) informa que o Distrito Federal ainda não foi intimado da decisão.

Posicionamentos

Sobre o tema, a Procuradoria-Geral do Distrito Federal (PGDF), que representa o GDF no processo, informou ainda não ter sido intimada da decisão.

Por meio de nota, a Terracap comunicou que o projeto urbanístico de Águas Claras foi aprovado e licenciado na década de 1990. “Como determina a legislação, foram criados lotes destinados a equipamentos públicos, imediatamente registrados em nome do Distrito Federal”, detalhou a empresa pública.

“Todos os demais imóveis destinados a uso comercial, residencial e institucional foram registrados em nome da Terracap e, ao longo dos anos, disponibilizados para venda por meio de editais de licitação. A presente ação judicial refere-se a tema já tratado no âmbito do TJDFT”, pontuou a Terracap.

Além disso, a agência informou que os lotes comercializados pela Terracap tem os usos definidos no projeto original e na legislação vigente à época de cada venda. “A empresa recorrerá da decisão proferida pela Vara de Meio Ambiente Desenvolvimento Urbano e Fundiário”, concluiu.​

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?