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“Tinham plena autonomia”, diz Adriana sobre demora em procurar os pais

Acusada de ser mandante do crime da 113 Sul afirma que vítimas eram “pessoas fortes”. Por isso, só foi à casa deles três dias após as mortes

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1 de 1 Julgamento-Villela-1-de-outubro-12 - Foto: :Rafaela Felicciano/Metrópoles

O início da tarde desta terça-feira (01/10/2019) no julgamento de Adriana Villela, denunciada pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) como sendo a mandante do triplo homicídio da 113 Sul, segue com o depoimento da acusada sobre os dias que cercam o crime. Antes do almoço, ela contou ao  juiz Paulo Rogério Santos Giordano os passos até o domingo (30/08/2019), dois dias depois da morte de José Guilherme Villela, Maria Villela e Francisca Nascimento Silva.

Na continuação, o magistrado pediu para Adriana relatar o que ocorreu após o almoço com a filha, Carolina, na segunda-feira (31/08/2009), dia em que os corpos foram encontrados. A acusada disse que não tinha hábito de preocupar-se com os pais. “Eles tinham plena autonomia, sempre foram pessoas fortes, tranquilas e que faziam a vida sozinhas”.

A preocupação dela só veio quando a filha, Carolina, ligou no início da noite de segunda-feira, três dias após o triplo homicídio. A ré afirmou que, naquela tarde, almoçou com Carolina, foi para casa, entregou o almoço para a empregada e terminou um trabalho. “Quando ainda estava no computador, minha filha ligou às 18h10 ou 18h15”, lembrou Adriana.

“Ela (Carolina) falou: ‘Mãe, estou muito preocupada porque meus avós não foram trabalhar’. Quando ela disse que meus pais não foram trabalhar, foi o alarme de preocupação”, frisou. Adriana ainda rebateu a acusação de que teve um “quebra de padrão comportamental” no dia do descobrimento dos corpos.

“São feitas diversas interpretações de que eu tive um padrão para demorar a chegar à casa dos meus pais. Isso só pode ser dito por alguém que não observou o que estava ocorrendo com a gente”, assinalou.

Versões

Adriana Villela declarou que queria ver a mãe quando chegou à 113 Sul. “Um policial disse que eu estava fria e outro disse que estava nervosa tentando subir para adulterar a cena do crime. Eu queria apenas ver a minha mãe e saber o que tinha acontecido com ela, e eu dou graças a Deus por não ter me deixado entrar”, afirmou.

“Um momento depois, pude ver as fotos que foram projetadas aqui na Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida). Durante três meses, todas as vezes que eu fechava os olhos para dormir, essas fotos horrorosas passaram na minha cabeça. Pude ver que a língua da minha mãe estava estufada do lado de fora da boca dela. Pude ver várias coisas horríveis”, descreveu, emocionada.

O juiz questionou o motivo de Adriana ter sugerido à Carolina chamar a polícia, quando a filha afirmou que entraria no apartamento com a ajuda de um chaveiro. “Por algo que ela pudesse ser surpreendida? Ou porque, do ponto de vista legal, poderia chamar a polícia?”, perguntou o magistrado.

“Cidadãos comuns, como nós, não têm esse ponto de vista legal, com essa clareza toda que o senhor tem. Foi apenas o que me ocorreu. Se, eventualmente, eles tivessem sido vítimas de sequestro ou outro crime. Me pareceu, no bom senso lógico, que deveria ser [invadido] com a polícia”, respondeu.

Recesso

Antes da pausa para o almoço, Adriana contou como foi a rotina dela no dia do crime (28/08/2009), uma sexta-feira, e o fim de semana posterior. Deu álibis para todos os momentos, como telefones, curso e jantares.

‘Talvez, hoje, eu não estaria aqui e vocês estariam julgando o meu irmão e a minha filha, ‘naturais herdeiros’, por um homicídio quádruplo”, opinando que poderia ter sido uma das vítimas dos criminosos.

Durante o recesso, Adriana comeu em uma sala reservada com um servidor do Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT). Ela não pode ter contato com ninguém, inclusive com a defesa. O julgamento, nesta terça-feira (01/10/2019), é acompanhado por 224 pessoas no plenário do Tribunal do Júri de Brasília. O local está lotado – cerca de 400 senhas foram distribuídas para o acesso ao órgão.

Manipulação

Em um dos momentos do julgamento, Adriana falou em manipulação da Corvida ao colher os depoimentos durante as investigações. “Levamos ao conhecimento da delegacia algumas questões que achávamos relevantes e que não foram consideradas”, destacou.

Em uma delas, segundo Adriana, após sua mãe voltar de viagem, um porteiro não conhecido pela família entregou para Maria Villela uma chave do apartamento. “Minha mãe reclamou porque não deixava a chave na portaria e ele disse que havia ocorrido um vazamento no 5º andar e o síndico havia pedido que um chaveiro fosse ao local. Depois, descobrimos que esse porteiro seria o Leonardo. Também soubemos que ele foi demitido porque se envolveu em uma briga com um outro porteiro e usou uma faca para ameaçar o colega”, explicou a acusada.

Então, o juiz perguntou sobre trecho de depoimento de Carolina na Corvida sobre discussão por dinheiro entre Adriana e Maria Villela. “Eu acredito que ela falou isso pressionada pelas perguntas da doutora Mabel. Temos frases soltas nesse depoimento”, alegou a arquiteta. “A minha filha está aqui presente todos os dias com o meu irmão e eles se pronunciam claramente de que nunca tiveram nenhuma suspeita sobre mim.”

Outra pergunta feita pelo juiz diz respeito ao uso de drogas e possível internação de Adriana em clínica de reabilitação. “Não bebo muito e não combino com pessoas dependentes de drogas. Já usei maconha uma vez ou outra e, quando era adolescente, experimentei cocaína. Eventualmente, experimentei também ácido e chá de cogumelo. Mas não sou drogada. Meus pais nunca conversaram comigo sobre isso.”

Finanças

A questão financeira e a carta em que a mãe de Adriana critica a acusada foram os principais questionamentos do juiz Paulo Rogério Santos Giordano para a ré.

Adriana contou que recebia uma mesada de José Guilherme e Maria Villela no valor R$ 8,5 mil em dinheiro, além de ajuda com custos fixos com carro e apartamento, plano de saúde e despesas extras de viagem. Com a correção monetária, o valor seria, hoje em dia, de R$ 21 mil.

“O dinheiro era muito mais que suficiente. Sempre honrei receber isso”, ressaltou Adriana. O questionamento do magistrado se deu com o objetivo de completar uma dúvida anterior dele, se os pais aceitavam ou queriam que a filha assumisse uma profissão mais rentável.

“Eu vi meus pais saírem do zero. Cresci com eles e os vi fazerem concurso e conquistarem tudo o que conquistaram. Eles queriam que eu tivesse um cargo público que me desse estabilidade e fosse artística apenas como hobby. Mas eu dizia que queria ser artista e não outra coisa”, explicou Adriana.

Em uma das respostas, a acusada começou a chorar, dizendo que os pais realmente não a apoiavam na carreira escolhida. “É isso que eu tenho para oferecer para o mundo.” E disse aos pais: “Vocês já ganham muito mais do que eu e meu irmão precisamos. Tenho alma de artista e quero ser artista”.

Olho nos jurados

Durante toda a explicação, Adriana não tirou os olhos dos jurados. “Nós tínhamos um relacionamento amoroso, mas também havia conflitos. Minha mãe não gostava do jeito que eu me vestia. Nem de que discordassem do que ela dizia. Ela era frágil e insegura e se tornou forte pelas perdas que teve.”

Segundo Adriana, era comum, quando jantavam juntos, Maria Villela olhá-la de cima a baixo, com olhar crítico sobre o modo como se vestia. “Isso era motivo de discórdia. Eu só queria ser amada e respeitada pelo jeito que eu sou.”

E apontou que o texto havia sido obtido de forma ilegal. “Essa carta foi apreendida ilegalmente dentro do escritório de advocacia. Foi eu mesma que assinei para que ela pudesse ser apresentada aqui, pela acusação.” Novamente, com olhar fixo aos jurados, Adriana se dirigiu a eles: “Espero que vocês me ajudem a mostrar o que acontece nos porões da polícia”.

Relacionamento

Antes, neste nono dia do julgamento que é o mais longo na história da Justiça brasiliense, as primeiras palavras de Adriana foram sobre o relacionamento que mantinha com os pais e como eles a viam. “O meu pai e minha mãe sempre foram pessoas com as quais eu sempre pude contar e, ainda hoje, aqui, eu conto com eles. Até pelos meus advogados”, afirmou Adriana Villela.

“Certa vez, eu disse a eles que meu desejo e minha maior ambição é que meu trabalho criativo ajudasse muitos a melhorar de vida. E eu fiz isso um pouco. Até que, de repente, a vida me deu um tropeção e meus pais foram assassinados.”

De acordo com Adriana, apesar de ser “uma filha bastante rebelde”, o pai admirava isso nela. “Sem dúvida, devo ter desrespeitado eles algumas vezes na minha vida. Mas, especialmente quando esse crime aconteceu, a minha família vivia um momento de muita felicidade. Eu havia acabado de terminar o meu mestrado e meu pai dizia que finalmente eu estava no meu lugar.”

Sem respostas à acusação

A defesa de Adriana Villela informou que ela não vai responder nem ao MPDFT nem aos assistentes de acusação. Foi um pedido de ordem assim que iniciou a sessão. A arquiteta só falará com juiz, defesa e jurados. O procurador Maurício Miranda registrou protesto de que o contraditório fica prejudicado com a decisão.

Sobre o assunto, Kakay se posicionou da seguinte forma: “Nós entendemos que a prova está pronta e ela vai responder quem tem que responder. Para as outras partes, ela não vai responder. Pode haver tumulto e isso é ruim para o processo. Isso é uma orientação técnica”, argumentou.

O promotor Marcelo Leite Borges lamentou a postura da defesa, no início do interrogatório, de não responder às questões da acusação. “Não perguntar vai atrapalhar, sim, a análise dos jurados”.

Caso

Segundo a acusação, Adriana contratou Leonardo Campos Alves, porteiro do edifício onde moravam os pais, para matar o casal de advogados e a empregada deles por R$ 60 mil. Ele, por sua vez, teria prometido dar R$ 10 mil a Francisco Mairlon Barros Aguiar para executar o crime. Sobrinho de Leonardo, Paulo Cardoso também foi acusado pelo esfaqueamento do trio. Os três foram condenados e estão presos.

Advogado de Adriana, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirmou à imprensa que os depoimentos selecionados pela acusação são “quase um ato desesperado do Ministério Público”. “Entendo que é desleal, porque deveria ter explicado minuciosamente que são depoimentos posteriores à confissão”, salientou.

Os defensores da arquiteta também reproduziram algumas mídias e documentos, como um depoimento no qual o irmão de Adriana, Augusto Villela, fala à PCDF. “A Adriana tem conflitos normais com a mãe. A tônica dos conflitos não era dinheiro”, frisou. A arquiteta e jornalista é acusada de ser a mandante do triplo homicídio de José Guilherme, Maria Villela e da empregada do casal, Francisca Nascimento Silva. Eles foram mortos a facadas – 73 no total –, em 28 de agosto de 2009.

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