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Tinder é acusado de banir perfis de mulheres trans: “É transfobia”

Em 2020, usuários relataram dificuldades para manter o perfil ativo. Dois anos depois, mulheres trans e travestis continuam sofrendo no app

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Luísa com mão na cabeça e blusa rosa
1 de 1 Luísa com mão na cabeça e blusa rosa - Foto: Imagens cedidas ao Metrópoles

Os aplicativos têm sido usados como uma boa opção para quem deseja conhecer pessoas que estão fora do ciclo de amigos. Quem usa o Tinder, uma das plataformas de relacionamento mais populares, sabe como é fácil dar “match” com alguém. O espaço é utilizado por usuários com diferentes orientações sexuais e identidade de gênero, mas mulheres transexuais reclamam que estão sendo banidas do app e acusam a ferramenta de transfobia.

A exclusão de homens e mulheres trans do Tinder não é novidade. Em 2020, usuários relataram dificuldades para manter o perfil ativo e criticaram os desenvolvedores do aplicativo. O assunto figurou os Trending Topics Brasil com a hashtag #TinderTransfobico. Dois anos depois, os usuários relatam que o problema não foi resolvido.

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O bloqueio da conta acontece porque o algoritmo do aplicativo permite a exclusão automática de um perfil que receba muitas denúncias. A plataforma não esclarece o motivo de a conta ser banida, nem permite que o usuário faça qualquer tipo de defesa. Todas as pessoas trans que tiveram as contas excluídas apenas foram informadas que infringiram as “regras da comunidade”.

Luisa Martins, 25 anos, passou por isso várias vezes nos últimos dois anos. A modelo chegou a criar mais de seis contas no Tinder, mas todas foram denunciadas e excluídas. Ela vivia um impasse por não saber se deveria ou não colocar na descrição de sua conta que era mulher trans.

“Se eu não colocasse que era trans, os homens se sentiam enganados e denunciavam minha conta. Quando eu colocava, a conta era denunciada do mesmo jeito, porque simplesmente as pessoas não querem que eu esteja ali. Eu ficava abalada porque estava só sendo eu mesma”, lamenta a moradora de Samambaia.

Veja fotos:

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Luísa é uma mulher trans
Além da conta censurada, Luísa revela que sofreu diversos assédios no aplicativo
Cada vez que criava uma conta nova, a mulher precisava de um novo e-mail e novo número de telefone
Lana Larrá é ativista LGBTQIA+
Lana se reconhece como travesti e sofre assédio no aplicativo de relacionamento
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Luísa Martins criou mais de seis contas no Tinder

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Luísa é uma mulher trans

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Além da conta censurada, Luísa revela que sofreu diversos assédios no aplicativo

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Cada vez que criava uma conta nova, a mulher precisava de um novo e-mail e novo número de telefone

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Lana Larrá é ativista LGBTQIA+

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Lana se reconhece como travesti e sofre assédio no aplicativo de relacionamento

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A mulher precisava criar outro e-mail e cadastrar novo número toda vez que abria uma conta. Mesmo assim, o perfil só ficava ativo por, no máximo, três dias antes de começar a ser denunciado. Uma das contas ficou ativa apenas um dia.

“Os homens héteros se frustram ao ver que ficaram atraídos e deram match com uma trans. Sentem-se menos homens e, aí, denunciam a conta. Nenhuma vez o aplicativo apurou a denúncia para saber se eu havia cometido algo de errado, simplesmente, excluía minha conta”, reclama.

A própria Luísa deletou o último perfil criado no aplicativo, em 2021, pois não se sentia mais confortável por lá. Além de se preocupar em ser denunciada, a jovem recebia diversas mensagens de assédio por ser “fetichizada sexualmente”. “Acontecia sempre de ser assediada nas conversas privadas. Sentia-me um objeto sexual”, comenta a jovem.

Perseguição

A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) recebe relatos do tipo desde 2016 e alega que as mulheres trans são as mais perseguidas. Uma cabelereira de 31 anos, que prefere não se identificar, conta que sofre transfobia no aplicativo desde 2015. Com mais de 10 contas derrubadas sem nenhuma explicação, a mulher desistiu de usar o Tinder.

A cabelereira mora em Samambaia e afirma que os episódios causaram muita frustração na vida dela. “Era muito ruim. As contas ficavam, no máximo, uma semana ativa. Depois, eu perdia tudo. O aplicativo exclui as meninas trans de forma automática, sem avaliação; somente pelas denúncias feitas pelos usuários, que, claramente, são transfóbicos. Com o tempo, isso me causou angústia muito grande”, lamenta.

Ela também leu ofensas e discursos de ódio no Tinder. Em uma das ocasiões, a brasiliense recebeu uma mensagem afirmando que “não era mulher de verdade”. Além disso, sofria transfobia sempre que dava “match” com homem cisgênero hétero. “Quando ele descobria que se tratava de uma mulher trans, sempre fazia ofensas”.

“Regras da comunidade”

O Tinder não oferece opções que permitam denunciar o perfil de um usuário pela identidade de gênero. As “regras da comunidade” esclarecem que os usuários podem “se expressar livremente, desde que não ofendam os outros”. O aplicativo oferece as “políticas da comunidade”, que, caso sejam descumpridas, podem resultar na exclusão imediata da conta.

Os motivos que podem fazer uma conta ser denunciada incluem: nudez/conteúdo sexual, assédio, violência, discurso de ódio, informações privadas, spam, promoções e convites, prostituição e tráfico, golpes, falsificação de identidade, menores de 18 anos, violação de direitos autorais, pessoas com mais de uma conta, aplicativos de terceiros e inatividade da conta.

De acordo com Keila Simpson, presidente da Antra, a discriminação nos aplicativos de relacionamento é comum, e pessoas trans, travestis e homossexuais são cada vez mais censurados. Ela pede às pessoas trans que passarem por censura no aplicativo denunciem e procurem ajuda jurídica.

“Não existe liberdade para pessoas trans ocuparem esses espaços. É gritante a discriminação nesse universo de aplicativo de encontros. Não querer se relacionar é um direito seu, mas denunciar uma conta por transfobia é inaceitável. Nós vamos buscar o direito que temos de permanecer nesses espaços”, pontua Keila.

Para a ativista de direitos humanos e LGBTQIA+ Paula Benett, o Tinder se coloca como apoiador da luta contra a LGBTfobia. “Não adianta ser só na teoria, é preciso praticar para não se tornar um discurso contraditório. É preciso que a instituição apure os fatos e os casos, que não são poucos, para corrigir os erros e dar uma devolutiva para a população trans, sobretudo a que foi excluída sem motivo e justa causa. A partir daí, deve-se tornar, na prática, uma rede inclusiva”, avalia.

Denúncia

A ativista Lana Larrá, 27, se reconhece como travesti e usa o Tinder desde 2017. Em fevereiro, a mulher criou uma conta que ficou ativa por apenas três semanas. Ela afirma que as denúncias em seu perfil partiram de alguns homens com quem conversou. “Alguns usuários querem conversar apenas com pessoas que são mulheres na visão deles. Se eles sentem que não parece uma mulher, eles denunciam a conta. É como se eu tivesse desobedecido alguma regra do site”, queixa-se.

Antes, Lana ficava triste com as denúncias e os assédios na plataforma. Agora, acostumou-se com a ideia de que não consegue participar de aplicativos de relacionamento e desistiu de abrir nova conta.

Outro lado

Por meio de nota, a plataforma informou não compactuar com nenhum tipo de preconceito. Veja:

“O Tinder não tolera discriminação de nenhum tipo e não banimos membros devido à identidade de gênero. Nossa equipe de suporte criou um processo para lidar com denúncias de discriminação e ódio, e tomaremos as medidas apropriadas, incluindo a remoção de um usuário que fizer uma denúncia falsa com más intenções.

As plataformas on-line são suscetíveis ao preconceito e estigma que as comunidades vulneráveis enfrentam na sociedade, e o Tinder reconhece o papel que tem para ajudar a apoiar a segurança de todos os membros. Temos colaborado com organizações líderes neste espaço – incluindo Fonatrans e ABGTL no Brasil – em nossos esforços contínuos para ajudar a criar uma plataforma justa e respeitosa que torne a paquera segura para todos.

Se alguém acreditar que sua conta foi removida por engano, pode entrar em contato com nossa equipe de Atendimento ao cliente diretamente por meio deste formulário.”

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