Tigre branco do zoo de Brasília, Dandy morreu por insuficiência renal
Causa da fatalidade foi divulgada nesta quarta-feira (02/10/2019). Irmã gêmea do felino passou por cirurgias e se recupera bem
atualizado
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A morte do tigre branco Dandy, aos 10 anos, no último domingo (29/09/2019) e a divulgação de uma foto na qual a irmã gêmea dele, Maya, está deitada sobre uma poça de sangue levaram a Fundação Jardim Zoológico de Brasília a convocar a imprensa para prestar esclarecimentos nesta quarta-feira (02/10/2019). Segundo o zoo, Dandy morreu em função de insuficiência renal.
Já o estado de saúde de Maya é estável. O animal passou por procedimentos cirúrgicos após uma infecção uterina ter sido detectada – ela teve o útero removido. Agora, passa por cuidados especiais. Durante um exame de ultrassonografia feita na tigresa do Zoológico de Brasília, foi detectada a infeção, também chamada de piometra. Uma cirurgia foi agendada para retirar o útero e a castração, que é recomendada nesse caso.
O problema foi identificado no dia 12 de setembro deste ano. Ocorreu uma sepse em Maya, que dificultou o caso da tigresa. Dois dias depois a cirurgia foi feita. Contudo, após o procedimento, houve rompimento de pontos, com vazamento de ceroma, seguido de um extravasamento intestinal (quando as vísceras saem pelos pontos). Uma alçada do intestino de 1,90m estava com tecido morto, que foi retirado. Com isso, foi feita a ligação entre os tecidos vivos. Ao total, foram três cirurgias, mais a contenção de danos.
Rodrigo Rabelo, intensivista veterinário parceiro do Zoológico, explicou o procedimento feito em Maya durante as cirurgias. De acordo com o especialista, a técnica usada foi exatamente a mesma realizada no presidente Jair Bolsonaro (PSL), quando ele levou uma facada durante a campanha eleitoral.
“Seis dias após a primeira cirurgia, fui contatado, pelo nível de gravidade ser alto. A parede do abdômen não estava fechando. Antes que houvesse nova evisceração, conseguimos conter os danos. Quando a cavidade foi aberta, constatou-se um novo rompimento, no seguimento de alça do intestino. Fizemos e estamos fazendo tudo que é possível, diante do manejo de um tigre de 120kg, que é diferente de um gato pequeno”, explica o médico.
Maya está atualmente se recuperando, com uma bolsa de colostomia. A bolsa é trocada frequentemente e ela toma banho todos os dias. De acordo com o Zoológico, ela está sendo tratada com todo o aparato necessário. Rodrigo Rabelo afirma que os órgãos da tigresa funcionam bem e o abdômen, antes aberto, foi tratado com um dreno. “Ela (Maya) desfila com a bolsinha de colostomia como uma princesa, dentro da condição de tigre branco e selvagem”, conta o veterinário.
Atualmente, a tigresa está estável. Ela ganhou alta da UTI e, de acordo com o Rabelo, está e situação melhor do que há sete dias. “Todos os dias exames são feitos e a equipe acompanha a tigresa 24 horas por dia”, afirma. Uma vez por dia Maya é anestesiada para que toda a higiene e exames possa ser feita. Ainda não se sabe o motivo da infecção inicial.
De acordo com os veterinários, Maya não esteve em coma induzido nesse processo e não houve hemorragia, como havia sido denunciado. A tigresa é medicada sempre, através de um cateter, e tem uma dieta normal. “Ainda não sabemos se ela ficará com a colostomia e se as alças do intestino vão se juntar. Mas ela tem respondido bem aos procedimentos. Foi encomendada uma tela cirúrgica humana, que chega na quinta-feira. Daqui a um tempo, será feita uma cirurgia de correção do abdômen definitiva, se tudo der certo”, afirma Rabelo.
“Conter um animal desse porte, com três próteses ligadas é algo impensável e inédito no cenário mundial, assim como todo o processo e a situação clínica. A gente está com esperança que tudo dê certo. Ela recebeu e ainda recebe um tratamento intenso da equipe”, completa o veterinário.
Betânia Borges, diretora do Hospital Veterinário, comenta que as cirurgias ocorreram bem. Maya está em uma área de contenção, que fica no Hospital Veterinário do Zoológico. Todas as medicações e curativos são feitas lá. “É como se fosse um apartamento só pra ela, tem até colchão e travesseiro. Usamos o nível mínimo de sedação. Ela se movimenta e fica a maior parte do dia sem sedação”, explica Rabelo.
Dandy
Maya foi salva por uma transfusão de sangue feita pelo irmão, o tigre branco Dandy. Por causa do quadro crítico de Maya, que apresentou anemia após a evolução do quadro de infecção, Dandy foi levado para realizar a coleta de sangue, compatível com a irmã. Durante a coleta, foi identificado que o animal estava tendo um retorno mais lento, e a quantidade de sangue retirada foi bem menor, cerca de um litro. “Sem esse um litro, a Maya não teria sobrevivido”, ressalta o veterinário Rodrigo Rabelo.
O médico ressalta que o exame de sangue pré-óbito não acusou anemia em Dandy ou prejuízo por causa da transfusão. Foi constatado que poderia haver um problema renal no animal, após o exame de sangue encomendado durante a transfusão. No resultado dos exames, o tigre apresentou um quadro de insuficiência renal confirmado
Rodrigo Rabelo, veterinário
Ainda segundo o veterinário, Dandy acordou normal e consciente depois da sedação. “Infelizmente faleceu quatro dias depois da transfusão. Não tinha como ter previsto, o check-up dele estava marcado na sequência do feito na Maya”, conta Carlos Henrique Saquetti, médico veterinário da PM. O laudo da morte deve sair em cerca de 30 dias.
“No dia da morte, os tratadores viram que o animal estava apático. Estava estressado e, na hora que os tratadores tentavam a contenção física, ele faleceu”, conta Luísa Helena Rocha, Médica Veterinária do Zoológico.
Segundo Jairo Santos, médico veterinário e anestesista, a contenção do animal sempre é dosada, com o mínimo necessário. “Em se tratando de um tigre, que é um predador, o procedimento é sempre necessário, pois o animal não hesita em acatar”, explica.
Outro caso
Em maio deste ano, outro felino do zoológico teve que passar por cirurgia. Help, uma onça pintada, foi diagnosticada com neoplasia (um tipo de tumor que se forma no organismo). Nos exames de tomografia, foram encontrados nódulos no ovário e no útero. Na longa cirurgia, feita para retirar esses nódulos, uma massa de tumor de 7kg foi retirada. Help passou por cuidados semelhantes aos de Maya.
Hoje, está recuperada. De acordo com a equipe do zoológico, a onça passa por exames e também é monitorada todo o tempo.
O papel do zoológico
Quase 1 mil animais de 170 espécies estão sob os cuidados da Fundação Jardim Zoológico. A maioria são aves, seguidas de répteis e mamíferos. A maior parte é nativa do Cerrado, mas o zoológico também trabalha com espécies ameaçadas.
De acordo com Ana Raquel Faria, superintendente de Conservação e Pesquisa do Zoológico de Brasília, os óbitos, laudos e atestados são acompanhados por uma fiscalização do governo. Os documentos são feitos em parceria com a Universidade de Brasília (UnB). “É muito importante saber o porquê do que está acontecendo para melhorar cada vez mais a saúde desses animais.”
De acordo com Ana Raquel Faria, este ano morreram 53 animais no Zoológico – sendo cinco de grande porte –, o que corresponde a cerca de 6% do total. “Parte deles vem de fora para ser atendida aqui. A maioria é de animais resgatados, entre eles, os que vêm de queimadas. Eles passam pela triagem, e os que não têm condições de retornar à natureza ficam no Zoológico”, afirma a especialista.
Ainda de acordo com a pesquisadora, 50% dos animais passam da expectativa de vida normal. A do tigre branco, por exemplo é de 12 anos. Dandy tinha 10, a mesma idade de Maya.