Testemunhas não confirmam que professor envenenado bebeu suco
Polícia Civil faz reconstituição do caso no CEF 410 Norte. Ao todo, 12 pessoas que estavam no colégio participam
atualizado
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Não tem hora para terminar a reconstituição do caso do professor envenenado. Investigadores da 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte) estão no Centro de Ensino Fundamental (CEF) 410 Norte, onde Odailton Charles de Albuquerque Silva, 50 anos, começou a passar mal e acabou morrendo dias depois. O docente, que atuou por oito anos como diretor da instituição de ensino, foi envenenado.
Ao todo, 12 testemunhas foram chamadas para ajudar os investigadores a reproduzirem os momentos em que o professor passou dentro do colégio, no dia 30 de janeiro. Ele começou a passar mal, foi socorrido e levado para o Hospital Regional da Asa Norte (Hran), onde ficou cinco dias internado. Mas não resistiu.
“A reprodução simulada está sendo muito produtiva. Estamos pegando o passo a passo de tudo que aconteceu no dia. Queremos fazer isso rápido, porque vem o Carnaval e as pessoas esquecem. Até o momento, não tivemos ninguém falando sobre o suco de uva. Mas estamos analisando e documentando tudo, incluindo a água que ele bebeu na escola”, disse o delegado-chefe da 2ª DP, Laércio Rossetto.
Segundo o delegado, 22 pessoas foram ouvidas pela 2ª DP até agora. “Essa investigação continua sendo prioridade para que nós possamos dar uma resposta rápida e eficiente. Hoje, serão 12 testemunhas, entre policiais militares, professores e o vigia. Pessoas que tiveram contato com a vítima. Isso vai ser transformado em um laudo, que demora 30 dias para ficar pronto. Estamos coletando todas as provas”, explicou Laércio Rossetto.
Um promotor do Tribunal do Júri acompanha a reprodução, assim como os advogados das partes. A cronologia e a ordem da reconstituição serão de acordo com a relevância e a importância dos depoimentos. “No primeiro momento, a suspeita forte era de homicídio, mas não descartamos outra possibilidade”, ressaltou Rossetto.
Uma perita médica legista, especialista em psiquiatria forense reconhecida nacionalmente pela expertise nessa área, também acompanha os trabalhos. “A delegacia está em busca de todos os recursos possíveis que existem na instituição para concluir o caso”, afirmou o investigador.
De dentro da escola, onde participaria de reunião, o professor Odailton enviou áudios angustiantes a familiares e colegas, pedindo socorro e detalhando seu estado de saúde. O docente chegou a dizer nas gravações de WhatsApp que desconfiava de alguma substância estranha em sua bebida. Disse ainda que tinha bebido um suco de uva oferecido por uma colega da escola, mas até o momento a polícia não conseguiu confirmar essa informação.
Confira o áudio:
A direção do CEF 410 Norte afirmou, em nota, que nenhum funcionário do colégio serviu qualquer “substância líquida” a Charles, como Odailton era tratado. “A única substância líquida que o professor Charles ingeriu no CEF 410 Norte foi água, o que o fez por vontade livre, colhendo-a na sala dos professores diante de outras pessoas que ali estavam”, diz o documento.
Ainda no comunicado, o colégio frisa que, no dia do episódio (30/01/2020), apenas alguns servidores terceirizados e educadores estavam na escola, para preparar as dependências que estavam em obras. “Não havia nenhuma reunião agendada entre a atual equipe gestora e o ex-diretor”, pontuou a direção.
Durante as investigações, a 2ª DP apreendeu dois aparelhos celulares de servidores do CEF 410 Norte. E divulgou laudo apontando que o professor foi intoxicado por uma espécie de raticida, chamado de audicarb, populamente conhecido como chumbinho.
Antes de morrer, o professor também falou em áudio sobre suposto esquema de rachadinha no colégio. “Vou botar no pau esse povo, comigo vai ser tudo na Justiça”, finaliza. Em nota, a Secretaria de Educação (SEE-DF) disse que vai aguardar as investigações policiais e a finalização do inquérito para se pronunciar.
Ouça o áudio: