Terapia virtual ajuda comunidade escolar a superar isolamento
Mais de 2,1 mil professores e alunos de 42 escolas já passaram pela experiência: diagnósticos de ansiedade e inquietação durante a pandemia
atualizado
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Em tempos de isolamento social, necessário para evitar o contágio pelo novo coronavírus, a saúde mental precisa entrar na lista de cuidados essenciais da população. Com o objetivo de ajudar aquelas pessoas que estão sofrendo as consequências psicológicas da pandemia, a Coordenação Regional de Ensino do Gama (CRE-Gama) desenvolve um projeto de apoio psicológico à comunidade escolar da região administrativa.
A iniciativa já existia antes da pandemia. Com a quarentena, no entanto, os profissionais que atuam com a Terapia Comunitária Integrativa (TCI) – prática reconhecida e adotada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) – resolveram adaptar a iniciativa à nova realidade. Assim, montaram grupos de conversa on-line voltados a estudantes, professores e servidores da rede pública de ensino do Distrito Federal focando na superação do luto e dos impactos do isolamento social.
Francisca Beleza é assessora pedagógica do CRE-Gama e uma das responsáveis pelo projeto. Ela está lotada na Secretária de Estado de Educação do DF (SEEDF) há 30 anos.
“Nós iniciamos o Práticas Integrativas de Saúde (PIS) na escola, para dar acolhimento aos nossos profissionais. Inauguramos o Espaço Olhar na coordenação regional, em 2019, com a ideia de oferecer diversas práticas como reiki, meditação, yoga, automassagem e também com o objetivo de focar na acessibilidade emocional necessária para contribuir na aprendizagem dos nossos meninos e meninas”, afirma Francisca. Trabalho que foi adaptado em tempos de Covid-19.
Agora, na pandemia, segundo a assessora pedagógica, a ideia é auxiliar as pessoas a lidar com esse momento de dificuldade. Das 50 escolas e seis creches atendidas no Gama, o trabalho já foi realizado em, pelo menos, 42 unidades. Os atendimentos chegaram a um total de 2.152 mil professores, funcionários e alunos acompanhados.
“Quando a gente enfrenta a pandemia, percebemos a necessidade de continuar dando suporte aos nossos servidores. Esse é um espaço de escuta e acolhimento. Assim, resolvemos fazer a TCI virtualmente. É um projeto que também está ocorrendo na Universidade de Brasília (UnB).”
Veja fotos do projeto:
Ainda segundo a professora, o grande desafio da nova versão do projeto foi lidar com o psicológico do profissional de Educação.
“Queríamos socorrê-los neste momento. Primeiro porque esse profissional foi pego de surpresa e teve que se adaptar a uma nova realidade com os meninos e mudar o jeito de dar aula. Os professores foram duplamente afetados. Tanto pela pandemia quanto pela reinvenção de descobrir novas ferramentas para atender os alunos”, explica. “Além disso, muitos também tiveram que enfrentar o processo da perda e enlutamento pela morte de colegas e familiares. A prática é importante para colocar para fora os sentimentos guardados”, reforça.
Outra novidade é que os adolescentes estudantes da rede pública de ensino do DF e, especialmente, alunos que se preparam para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) também poderão aderir ao método para a temporada de provas que começa no fim deste mês.
“Não temos claro como será o retorno desse ano letivo de 2021 e, por isso, também vamos aplicar o método, com rodas de terapia comunitária, aos nossos alunos da regional do Gama. Um dos nossos objetivos, agora, é atender os que vão passar pela temporada de provas”, detalha a educadora.
Diagnóstico de ansiedade e inquietação
O projeto tem o apoio da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). A psicóloga e referência técnica distrital de TCI da pasta, Doralice Oliveira Gomes, é quem guia os encontros.
“Durante a mediação, temos utilizado automassagem, técnicas respiratórias e de relaxamento, dentre outros recursos para estimular os grupos”, esclarece Doralice.
A iniciativa reúne outras duas servidoras do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) do Riacho Fundo, Cássia Maria e Maria Angélica, e dois terapeutas voluntários, Fernando Barbosa e Rosângela Lima. Juntos, eles realizaram cerca de 4 mil atendimentos em todo o DF durante a pandemia.
De acordo com Doralice, esse é um trabalho de prevenção, atenção e intervenção. Os diagnósticos principais são de ansiedade e inquietação.
“Essa mudança tão grande na forma de trabalhar e, na vida, teve um impacto muito grande para esses profissionais [da Educação]. Trata-se de um espaço para falar de inquietações, fortalecer a autoestima, falar de sentimentos, aliviar o corpo e confortar a alma. O tema é sempre proposto pelos participantes. Fazemos uma espécie de diagnóstico da saúde emocional das pessoas”, explica a psicóloga da SES-DF.
O resultado, segundo Doralice, é o alívio. “A proposta é se encontrar e partilhar afeto”, conclui.
Compartilhar experiências e sentimentos
Quem vive a experiência, aprova a iniciativa. O professor de matemática do CEF 15 do Gama Francisco de Assis, 44 anos, participa da terapia on-line desde junho.
“Participo semanalmente. Quando estou on-line fico completamente ligado aos temas. É um trabalho muito legal e sério. A dinâmica da terapia é confortável. Nos permite abrir os nossos sentimentos em relação ao momento que estamos vivendo e também de ressignificar tudo, compartilhar experiências. Percebemos que, ao término da sessão, o sentimento é sempre de acolhimento, alívio e gratidão”, pontua o professor.
Assista trecho de um dos encontros virtuais do Centro de Ensino Fundamental 15 do Gama: