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“Tentou me agarrar à força”, diz outra babá sobre juiz Roberto Caldas

Em um vídeo, Giselle Resio Guimarães revela detalhes de como era tratada na residência da família do magistrado brasiliense

atualizado

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1 de 1 baba - Foto: Reprodução

As denúncias de assédio contra o juiz recém-afastado da Corte Interamericana de Direitos Humanos Roberto de Figueiredo Caldas não cessam. Uma mulher que trabalhou por nove anos como motorista e babá na casa do magistrado brasiliense e da ex-mulher dele, a universitária Michella Marys, conta como foi perseguida por Caldas. Em um vídeo obtido pelo Metrópoles, Giselle Resio Guimarães (foto de destaque) dá detalhes dos abusos sofridos na residência da família.

Ela também registrou em cartório, em dezembro do ano passado, escritura pública declaratória sobre o modus operandi do juiz. Segundo relatou a ex-colaboradora, enquanto dormia, Caldas apareceu no quarto e acariciou o braço dela. “Tentou me agarrar à força”, assinalou. O fato teria ocorrido na casa do casal, há cerca de oito anos.

“O meu patrão forçava a barra tentando me agarrar, ter algo a mais. Sempre fui administrando, porque precisava do trabalho. Como eu ia dizer para a mulher que o marido dela estava dando em cima da empregada? Às vezes, a mulher não acredita, poderia voltar contra mim”, desabafou.

 

Escritura pública declaratória feita por Giselle:

 

Três anos depois, ela relatou ter ocorrido um novo fato. Na ocasião, estava no closet do casal quando o juiz a abordou novamente, tentando agarrá-la. De acordo com Gisele, ela bateu com um pano no magistrado e ele saiu xingando. Conforme ainda ressaltou a funcionária, outras duas colaboradoras da casa foram assediadas. Uma delas teria sido acariciada nos braços e, depois, Caldas tentou beijá-la.

Quando ele está só, vem com a mão, tenta. Sempre coloquei ele no lugar dele. Até então, tinha admiração por ele ser um advogado com nome, defender a área trabalhista. Para mim, desconstruiu. Foi a maior decepção da minha vida

Gisele Resio Guimarães

Em uma gravação enviada à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), Gisele também relata que presenciou o juiz humilhar Michella Marys com xingamentos. Um determinado dia, testemunhou uma agressão e teve de intervir. Foi quando Caldas colocou a ex-mulher para fora de casa.

Conforme detalhou a funcionária, o magistrado arrastou a mulher pelo braço e a empurrou até Michella cair no chão e se machucar. “Foi onde entrei, peguei ela e a ajudei a sair de dentro da casa. Ela estava muito, muito nervosa, e levei ela para a psicóloga (…). Lá, contou que ele vinha batendo nela há muitos anos. Até então, eu não sabia dessa agressão física, para mim era só nas palavras. Isso me deixou muito chocada, muito abalada. Inclusive por isso, depois de ficar calada por tantos anos, decidi falar”, diz Giselle.

Veja o vídeo:

 

Outro caso
Em depoimento ao MetrópolesNalvina Pereira, 35 anos, outra ex-babá da família, acusou Caldas de ter cometido assédio sexual contra ela em pelo menos duas situações. O desespero que acompanhou os abusos a motivaram a tentar tirar a própria vida.

Os episódios fizeram com que a cuidadora registrasse em cartório, em novembro de 2017, uma escritura pública declaratória, com fé pública, para atestar a veracidade dos depoimentos. O ex-representante brasileiro do órgão internacional de defesas humanitárias tentou, segundo a babá, alisá-la na frente do filho bebê, de quem Nalvina cuidava.

“Não gosto disso”, cortou a mulher. Com a reação negativa, o advogado teria deixado o quarto da criança. “Quando olhei para trás, ele não estava mais lá”, lembrou. Em outra oportunidade denunciada pela ex-empregada, Roberto Caldas encontrou a babá no banheiro e recorreu à desculpa de verificar a real cor dos olhos da funcionária para tentar beijá-la à força.

“Ele pediu para ver se os meus olhos eram verdes ou azuis. Foi quando ele tentou me beijar. Corri e entrei no closet. Ele foi embora do quarto. Foi um dia muito difícil”, contou Nalvina, com voz embargada.

Caso Michella
O Metrópoles teve acesso à toda documentação que embasou a denúncia feita à Deam, para o enquadramento na Lei Maria da Penha, incluindo áudios inéditos, os quais comprovariam a brutalidade verbal, psicológica e também física contra a então esposa de Roberto Caldas. O casamento durou 13 anos.

“Cachorra”, “safada”, “víbora”, “filha da puta”, “burra” e “gorda” foram algumas palavras recorrentes usadas por Roberto Caldas para se referir à Michella. Em uma das gravações, a impressão é de que o juiz agride a mulher fisicamente.

O material relata a rotina da sergipana de Itabaiana que teve de conviver com o medo, a dor, a vergonha e o constrangimento, na maior parte das vezes, reflexos de um destempero típico existente em relacionamentos de dominação psicológica. Segundo revelam os áudios aos quais a reportagem teve acesso, Michella acionava o aparelho celular para que pudesse ter o registro do inferno conjugal o qual denuncia ter vivido.

Em nenhuma das brigas registradas houve reação imediata por parte dela. As gravações indicam que as agressões contra ela, das mais diversas formas, foram geradas por motivos fúteis.

Defesa se manifesta
A defesa de Roberto Caldas disse reconhecer “serem graves as inúmeras ofensas verbais feitas pelo casal ao longo de uma tumultuada relação”. Mas, segundo o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, apesar dos áudios apresentados, não houve qualquer agressão física. Nesta segunda-feira (14/5), Kakay ressaltou que vai ler a última petição e “trabalhar na defesa técnica”.

De acordo com o advogado da mulher, Pedro Calmon, os áudios anexos ao processo comprovam as humilhações e que eles não foram feitos de forma profissional. “São 28 áudios amadores, obtidos no celular de Michella nos 13 anos de casamento, que somam menos de uma hora e 40 minutos no seu total”, diz a defesa.

Calmon destacou ainda que “há pelo menos oito testemunhas das agressões físicas contra Michella, sendo cinco do dia da última agressão e três das inúmeras marcas no corpo da ex-esposa em anos anteriores”.

Conforme ressaltou o advogado, a mulher não tem medida protetiva concedida pela Justiça porque em audiência criminal Roberto Caldas teria se comprometido, espontaneamente em juízo, a não se aproximar da esposa. O acusado alegou ao magistrado que a concessão da medida protetiva de forma expressa acabaria com a carreira dele.

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