“Tenho certeza que ela está viva”, diz mãe que procura por filha gêmea
Carla Patrícia preparou o enxoval para as duas filhas, mas foi informada no hospital, há 23 anos, que só havia dado à luz uma bebê
atualizado
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Depois de 23 anos, a gestora de negócios Carla Patrícia Furtado, 48, mantém viva a esperança de rever a filha que acredita ter sido tirada dela logo após o parto, em fevereiro de 1996. Ao longo de toda a gestação, os exames anunciavam a vinda de dois bebês. Na data do parto, porém, após acordar de uma cesariana, a mãe recebeu apenas uma criança e a notícia de que os diagnósticos que apontavam a existência de gêmeas estava errado e haveria apenas uma criança em seu útero. Em casa, todos estavam preparados para receber Jéssica e Natália, mas a mulher retornou apenas com uma das meninas nos braços.
O Hospital das Forças Armadas (HFA), local onde Patrícia deu à luz, sustenta que foram abertos uma sindicância e um Inquérito Policial Militar nos quais foram ouvidos todos os integrantes da equipe médica. À época, eles atestaram o nascimento de apenas uma menina.
A mãe espera que, com a repercussão do caso, a filha que teria sido levada se reconheça na imagem da irmã gêmea e as procure. “Estou concentrando, em primeiro lugar, em Deus, porque ele me sustentou até aqui, vivendo essa novela por 23 anos. A única coisa que me resta são as redes sociais”. A gestora não acredita que o hospital ajude a encontrar a filha que ela crê estar desaparecida.
“Eles podem falar o que quiserem. Eu tenho certeza que ela está viva. Fui em quem carregou as duas e sentiu cada mexida. Tive três gestações antes das gêmeas, que foram bem diferentes”, diz Patrícia.
Investigação
A 3ª Delegacia de Polícia (Cruzeiro) apura a denúncia do suposto desaparecimento de uma recém-nascida, em 1996, do Hospital das Forças Armadas (HFA). O caso voltou à tona esta semana, em função da notícia de que uma mulher que estaria grávida de gêmeos, em Goiás, teria recebido apenas uma das crianças após o parto. Depois de tomar conhecimento do fato, Carla Patrícia decidiu procurar novamente a polícia de Brasília. De acordo com a moradora da capital da República, uma das filhas gêmeas foi tirada dela logo após o parto. Desde então, ela nunca parou de procurar a menina.
“Dei entrada no hospital em 16 de fevereiro de 1996 para o parto das gêmeas Jéssica (com a mãe na foto em destaque) e Natália. No dia, recebi a anestesia e, quando acordei, me deram só uma bebê. Perguntei sobre a outra e me disseram que foi um erro de diagnóstico, que era só uma filha mesmo. Todos os meus exames mostraram que eram gêmeas. No pré-natal, ouviam o coração das duas crianças sempre”, relatou Patrícia ao Metrópoles. Enfatizou, inclusive, que todas as ecografias foram entregues à equipe médica que fez a cesariana, mas tais documentos teriam desaparecido do HFA.
A gestora pontuou ainda que, após o parto, passou mal e ficou dois dias sem poder ver as crianças. “Minha mãe foi me visitar e uma enfermeira mostrou duas crianças. Ela até comentou comigo que eram lindas”. Mas, pouco depois, o hospital informou que seria apenas uma menina.
De acordo com Patrícia, depois de receber alta, a enfermeira Maria Rodrigues da Silva, que trabalhava no hospital à época, a teria reconhecido no ônibus e dito ter visto que eram gêmeas. “Ela me aconselhou a ir atrás do hospital. Ela era a minha única testemunha, mas faleceu naquele mesmo ano”, informou.
Na época, a gestora chegou a registrar ocorrência na própria delegacia, mas o caso teria sido arquivado. Agora, os investigadores irão pedir à Justiça Militar o envio do processo para checar se há crimes comuns que fogem à esfera militar para ser investigado. “Vamos aguardar esse processo para saber se há o que investigar ou se o processo já foi finalizado pela Justiça Militar”, explicou a delegada-chefe da 3ª DP, Cláudia Alcântara.
Patrícia recebeu uma informação anônima de que sua outra filha, que se chamaria Natália, estaria no Rio de Janeiro e teria sido dada a um general que teve uma filha natimorta. Ela chegou a ir à capital fluminense e só descobriu que a informação era falsa quando chegou lá e procurou o denunciante para intermediar o contato para que pudesse fazer o DNA.
“Além de todos os exames terem mostrado dois bebês, de os exames de pré-natal terem ouvido dois corações, isso é coisa que mãe sente. Eu tenho certeza de que eram duas. Ainda me lembro dos pezinhos se mexendo dentro da minha barriga, cada uma de um lado”, lembra a mulher.
Sindicância
Em nota enviada ao Metrópoles, o Hospital das Forças Armadas informou ter que “a prova testemunhal revelou que a paciente estava consciente e tomou conhecimento do fato ainda no centro cirúrgico. Especialistas na área de obstetrícia confirmaram ser possível a emissão de pareceres equivocados em exames de imagem pré-natal”.
“Face ao exposto, o Ministério Público do Distrito Federal solicitou o arquivamento do inquérito enviado pela Justiça Militar que foi deferido por sentença transitada em julgado no Juízo de Direito da Vara Criminal de Brasília”, diz trecho do comunicado.
Carla Patrícia afirma que nunca foi ouvida nos processos.