Tenda do Circo Khronos não foi registrada no Conselho de Engenharia
Engenheira contratada pelo circo não finalizou o cadastro de responsabilidade técnica no Crea-DF. Sem registro, não podia haver sessões
atualizado
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Mais uma irregularidade entra para a lista de falhas que levaram ao desabamento da tenda do Circo Khronos, no fim da tarde de segunda-feira (27/3), causando a morte de um adolescente de 17 anos. O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Distrito Federal (Crea/DF) confirmou que a engenheira civil contratada pelo circo, Daliane Cardoso Mendonça, não finalizou o cadastro de Anotação de Responsabilidade Técnica (ART).
O registro define o responsável legal pela montagem da tenda e seria obrigatório para liberar o funcionamento do circo. A Lei nº 6.496, de 1977, define a exigência de ART para obras. O Crea/DF multou Daliane em R$ 646,39 e determinou que ela providencie o registro imediatamente. Até a última atualização desta reportagem, o Metrópoles não conseguiu contatar a engenheira civil.
“Qualquer obra pode colocar muitas pessoas em risco. Por isso, o profissional tem que ter uma ART. O documento define quem é o responsável pela montagem”, explica Cássio Oliveira Lopes, chefe do Departamento de Fiscalização do Crea/DF.Sem alvará
Em duas vistorias técnicas, na semana passada e na segunda pela manhã, a Defesa Civil identificou uma série de falhas na parte elétrica e na montagem da estrutura, composta por torres, colunas e vigas de sustentação. O circo está instalado no estacionamento do Shopping Boulevard, na Asa Norte.
Segundo a avaliação técnica, o circo só usava dois pinos de fixação no solo por coluna — quando o exigido são seis — e não tinha aterrado nem a estrutura elétrica nem o gerador de energia, que também não estava isolado corretamente. O relatório apontando todos os erros ficará pronto na próxima semana.
Devido às falhas identificada pela Defesa Civil, o circo não recebeu alvará de funcionamento. A única liberação foi entregue pelo Corpo de Bombeiros, que verificou a presença de saídas de emergência e extintores, além de sinalização dos equipamentos de segurança.
O diretor do circo, Luciano Rangel, rebate as acusações e diz que toda a documentação estava em dia: “A Defesa Civil pediu apenas duas correções elétricas mínimas que já estavam sendo providenciadas”. De acordo com ele, a estrutura não havia sido condenada.
Outra falha do circo seria a visita de estudantes de uma escola particular no dia do desabamento. As crianças teriam assistido ao espetáculo Adoletá e deixado o local uma hora antes do acidente. Se for comprovada a visita, o circo corre risco de ter o contrato com o shopping rescindido, além de ter de responder judicialmente pela irregularidade.
Vento forte
Os donos do Circo Khronos defendem que ventos fortes causaram o acidente. Já a Defesa Civil diz que, se a estrutura estivesse montada corretamente, seguindo o padrão de segurança, seria capaz de suportar ventos de até 120km/h.
Confira o vídeo das câmeras de segurança do shopping enviado à Polícia Civil:
“A lona, mesmo sendo a parte mais frágil, é capaz de suportar ventos muito fortes. Mas, como a estrutura estava fixada de forma incorreta, ela fez um efeito de vela: o vento entrou e a levantou”, explicou o coronel Sérgio Bezerra, coordenador da Defesa Civil.
Perícia
A 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte) investiga o caso. Na manhã desta terça (28), equipes da PCDF iniciaram a perícia na área externa do circo. Os trabalhos só devem ser concluídos na quarta (29) por questão de segurança.
A parte da estrutura de ferro que desabou terá que ser erguida por um guindaste para que os peritos possam atuar. Inicialmente, toda a estrutura de trailers, arquibancada e lona terá que ser desmontada para que o guindaste possa se aproximar.
Confira as imagens após o acidente