DF: temporal deixa ruas do Sol Nascente debaixo d’água
Forte chuva inundou casas e avenidas do setor, em Ceilândia, no domingo à tarde. Moradores gravaram imagens. Ruas da região viraram um rio
atualizado
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As chuvas deste domingo (21/10) castigaram o Setor Habitacional Sol Nascente, em Ceilândia. No Trecho III, as precipitações alagaram ruas e avenidas, batendo na cintura de quem precisou se deslocar pela região. A enxurrada lamacenta invadiu casas e comércios. A cena foi filmada por moradores, que reagiram indignados à situação. A terceira etapa do setor – a maior e mais populosa – não recebeu melhorias de infraestrutura: só uma rua é pavimentada.
Em uma das imagens, um homem se queixa da falta de melhorias da região. “Essa obra só atrapalhou. É brincadeira, viu, irmão [sic]. Isso aqui são as obras do Rollemberg, rapaziada”, comenta o rapaz, que gravou vídeo da enchente. Ele se referia ao impacto, no Trecho III, de obras realizadas nos dois outros setores do Sol Nascente pelo Governo do Distrito Federal.
Em outras filmagens encaminhadas por moradores do local ao Metrópoles, é possível ver pessoas caminhando com a água na altura da cintura. Um jovem chegou a se pendurar nas grades de sua casa para sair do caos. Além de adentrar nas residências, a água corria com tal força que causou erosões no asfalto.
Assista aos vídeos:
Obras
O governador Rodrigo Rollemberg (PSB) sempre apontou as obras de infraestrutura do Setor Habitacional Sol Nascente como um dos empreendimentos mais importantes de sua gestão. O governo atual diz ter investido mais de R$ 220 milhões ali – sendo 75% da Caixa Econômica Federal, e garante que 100% do Trecho I está pavimentado.
As intervenções na região ilustraram as primeiras propagandas eleitorais do candidato à reeleição e a comunidade foi escolhida como palco do primeiro compromisso de campanha no primeiro turno. A resposta nas urnas, no entanto, não foi a esperada. O adversário de Rollemberg neste segundo turno eleitoral, o advogado Ibaneis Rocha (MDB), venceu em todas as zonas eleitorais de Ceilândia.
Em 2017, um relatório da Controladoria-Geral do DF (CGDF) apontou irregularidades nas obras de infraestrutura do Sol Nascente. Desde que operários e máquinas iniciaram as intervenções, em fevereiro de 2015, o GDF repassou R$ 13,5 milhões a mais do que a estimativa inicial às construtoras responsáveis por levar drenagem e pavimentação à região. Embora os trabalhos no Trecho III só tenham chegado a uma rua, os recursos para todo o Setor Habitacional já estão empenhados.
Segundo o relatório da CGDF, o problema é que o aditivo milionário pode ter sido empenhado desnecessariamente. Entre setembro e novembro de 2016, auditores do órgão inspecionaram todos os contratos firmados entre a Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos e os três consórcios de construtoras: Consórcio Nascente, Consórcio Nascente II e Consórcio Nascente III.
A auditoria depreendeu que os aportes extraordinários trouxeram “impacto nos princípios da isonomia e da seleção da proposta mais vantajosa”. O Trecho I, licitado por R$ 41,5 milhões, contou com cinco aditivos, que fizeram o custo aumentar em R$ 8,4 milhões. O caso continua sob investigação.
O outro lado
A Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos informou que as equipes das empresas contratadas trabalharam no local para minorar os efeitos dos transtornos causados pela chuva. As obras de infraestrutura do Trecho I do Sol Nascente foram concluídas e entregues à população em junho deste ano.
Quanto à pavimentação e à drenagem do Trecho II e III do Setor, os serviços estão em andamento e a previsão é que sejam finalizados no primeiro semestre de 2019. “Não foram registrados problemas nas áreas onde o serviço já foi concluído”, explicou em nota.
Enxurrada arrastou mulher, em São Sebastião
Também na tarde de domingo (21), uma mulher de 49 anos foi arrastada por uma enxurrada até um bueiro irregular que deságua no Córrego Agudo, na região administrativa de São Sebastião. Os próprios moradores conseguiram fazer o socorro inicial, evitando que ela fosse arrastada pela água até o rio.
Segundo informações do Corpo de Bombeiros, os militares foram acionados para uma ocorrência de afogamento na rua 11 do bairro São Francisco. A vítima foi resgatada, recebeu atendimento no local e acabou sendo transportada ao Instituto Hospital de Base (IHB) com vida.
Ela estava com escoriações e sintomas de afogamento grau 3, quando a vítima ingere bastante água, apresentando sinais de insuficiência respiratória e taquicardia.
Na Vila Roriz, no Gama, a chuva também invadiu casas de moradores e alagou parte da Avenida do Contorno.
Transtornos duram 3 dias
Domingo (21) foi o terceiro dia seguido com fortes precipitações na capital federal. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), no sábado (20), as estações meteorológicas registraram 49 milímetros (mm) de chuva. Até o momento, choveu 113mm em outubro. O esperado para todos os dias do mês é 160mm.
As chuvas registradas no fim de semana, além de causarem transtornos, expuseram velhos problemas em diversas regiões administrativas. Em Vicente Pires, na sexta (19), vias ficaram alagadas e veículos atolados no lamaçal. No Setor P Norte, em Ceilândia, o asfalto cedeu em uma obra para instalação de redes pluviais e uma van caiu no buraco.
Bombeiros tiveram trabalho para retirar uma árvore que caiu em frente ao Ministério da Defesa, na Esplanada dos Ministérios, na madrugada deste domingo (21). Não houve vítimas. Ao todo, 10 militares em duas viaturas atuaram na região onde, provavelmente por conta da chuva, a árvore caiu ocupando cinco da seis faixas do Eixo Monumental. A pista foi liberada às 2h30, segundo informações da corporação.
Tesourinhas alagaram. A chuva também foi registrada por moradores do Cruzeiro, do Plano Piloto, de Samambaia, de Sobradinho e de Taguatinga.
Confira imagens:
Outro lado
Acionada pelo Metrópoles na sexta (19), a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), as secretarias das Cidades e de Infraestrutura e de Serviços Públicos, bem como a Subsecretaria de Defesa Civil disseram trabalhar em conjunto para prevenir e enfrentar os transtornos causados pela chuva à população.
Os órgãos afirmaram que estão fazendo, em Vicente Pires, por exemplo, pelo menos 185,6km de obras de drenagem pluvial. “O sistema contará com 22 bacias de qualidade e detenção, das quais cinco já foram concluídas, além de 136 lançamentos”, destaca nota encaminhada para a reportagem.
Em Santa Luzia, a Defesa Civil e a Administração Regional da Estrutural planejam a “execução de um plano de contingência, caso seja necessário”. Porto Rico, em Santa Maria, por sua vez, segundo o governo, teve “obras de drenagem concluídas e entregues à população em junho”. “Foram executados 15km de rede de drenagem e uma bacia de qualidade e detenção”, completou a Novacap.
“Além disso, pelo segundo ano consecutivo, a Secretaria das Cidades coordenou uma operação de limpeza e desobstrução de bocas de lobo, se antecipando ao período chuvoso. O cronograma de ações seguiu levantamento de pontos críticos de alagamento da Defesa Civil”, destacou a nota.
Ao todo, segundo informou o documento, foram 495 bocas de lobo desentupidas e 76 toneladas de lixo recolhidas no Plano Piloto (com foco nas tesourinhas e na W3 Norte), Taguatinga, Gama, Planaltina, Núcleo Bandeirante e Ceilândia.