“Temor é abstrato”, diz Moro sobre Marcola à bancada do DF no Congresso
No encontro com os parlamentares, o ministro da Justiça disse que vai manter o chefe do PCC e o Presídio Federal em funcionamento no DF
atualizado
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Parlamentares da bancada do DF no Congresso Nacional foram nesta sexta-feira (29/3) ao encontro do ministro da Justiça, Sergio Moro. No centro das discussões, a transferência do chefe do Primeiro Comando da Capital (PCC), Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, de Rondônia para Brasília. O ministro disse que “o temor é abstrato” e não fala em recuar da decisão de manter o criminoso na capital do país, pelo menos por enquanto.
Marcola está no Presídio Federal de Brasília desde o dia 22 de março. A transferência dele para Brasília causou reação imediata do governador Ibaneis Rocha (MDB), que chegou a dizer que o ministro “conhece muito de corrução, mas provou que não conhece nada de segurança pública”.
A bancada do DF também se manifestou contrária à presença do líder do PCC no DF. E foi pessoalmente conversar com Moro. O ministro disse aos parlamentares que “não há motivo para pânico”.
Moro ponderou, porém, que, se houver necessidade, fará rodízio entre os presos. Mas avisou que não vai desativar a penitenciária. “Seria um elefante branco no DF. Investimos muito justamente para o local receber esse tipo de criminoso”, destacou o ministro durante a reunião.
Ibaneis prepara uma ação para ser encaminhada à Justiça, contestando não só a presença de Marcola como o funcionamento do presídio federal na capital. Após as críticas contundentes do emedebista, Moro disse aos congressistas do DF que “não havia necessidade de o governador do DF ter criado o clima de tensão para a população”.
A principal preocupação do governo local é com o fortalecimento do PCC em Brasília. De acordo com Moro, se houver alguma alteração nos índices de criminalidade do Distrito Federal, pode rever a decisão.
O senador José Antonio Reguffe (sem partido-DF) perguntou se existe a possibilidade de outros presos serem trazidos para o Presídio Federal de Brasília. Moro disse que sim, pois a penitenciária é de segurança máxima, com capacidade de acolher bandidos de alta periculosidade das mais diversas facções.
Visita ao presídio
Nesta semana, o Ministério da Justiça abriu as portas do presídio para os jornalistas. E mostrou que Marcola está em regime disciplinar diferenciado (RDD) desde o dia 22 de março, quando desembarcou na capital. O cabeça da facção paulista permanecerá em isolamento total por, ao menos, mais 14 dias em uma das 12 celas de 14 m² com cama, banco, mesa e vaso sanitário, todos feitos de concreto.
O período de RDD pode ser prorrogado pela administração do presídio. São oferecidas seis alimentações por dia, e as visitas de familiares e o banho de sol externo da cela estão proibidos. A cela possui uma adaptação que permite a entrada dos raios solares.
O monitoramento do criminoso é feito por agentes, 24 horas por dia, por meio de vídeos e sistema de áudio. As celas não possuem tomadas ou disjuntores. As luzes se acendem às 7h e são apagadas às 22h. A água do chuveiro é aquecida, mas apenas um agente pode ligá-la ou desligá-la, do lado de fora da cela. Os banhos, geralmente, são no fim da tarde.
Agentes que fizeram a escolta de Marcola de Rondônia para Brasília o descreveram como um preso que conhece as regras do sistema. Educado, perguntou apenas sobre informações básicas, como os dias e horários de visita.
Moro aceitou o pedido de audiência feito pelo senador Izalci Lucas (PSDB), que estendeu o convite aos demais integrantes da bancada do DF no Congresso Nacional. Além do tucano, estiveram presentes os senadores José Antônio Reguffe (sem partido-DF) e Leila Barros (PSB-DF); além dos deputados federais Flávia Arruda (PR), Celina Leão (Progressista), Paula Belmonte (Cidadania), Luis Miranda (DEM), Júlio Cesar (PRB) e Bia Kicis (PSL). Apenas Erika Kokay (PT) e Israel Batista (Rede) não compareceram.
Após o encontro, os parlamentares falaram com a imprensa. A eles, Moro afirmou que, das 186 representações diplomáticas em Brasília, nenhuma delas formalizou reclamação quanto à presença de Marcola na capital. “O fato é que nenhum estado quer uma pessoa como ele [Marcola]”, assinalou Izalci.
Segundo Reguffe, Moro garantiu que tanto a inteligência do governo quanto a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) estão monitorando a movimentação em torno da presença do líder criminoso, condenado a mais de 300 anos de prisão por vários crimes. “Considero a decisão de trazer a cúpula do PCC para Brasília absurda e irresponsável”, disparou o senador.