Técnica que identificou Bernardo foi a mesma usada em Brumadinho
Em menos de seis horas, Instituto de Pesquisa de DNA Forense (IPDNA) identificou o corpo do menino morto pelo pai
atualizado
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O exame que comprovou a identidade do menino Bernardo, de 1 ano e 11 meses, foi concluído em cinco horas e 30 minutos pelo Instituto de Pesquisa de DNA Forense (IPDNA), da Polícia Civil. A agilidade na análise foi motivada pela resposta humanitária que os peritos da PCDF queriam dar à família da criança.
“Quando a avó desceu do avião em Brasília (no sábado), ao lado da equipe policial, ela me fez um apelo emocionado pedindo para que identificássemos o corpo do neto. Temos experiência em situações como essa e entendemos a angústia da família”, o médico legista e geneticista forense, diretor do IPDNA, Samuel Ferreira (foto em destaque).
O especialista detalha que os exames foram feitos com base em tecidos moles do corpo, que já estava em estado avançado de decomposição. Os peritos compararam uma amostra da cartilagem do joelho de Bernardo com a saliva da mãe e do pai. “Não temos dúvidas sobre a identidade”, destacou Samuel.
A técnica faz parte de um protocolo desenvolvido pela PCDF. O mesmo procedimento foi empregado na identificação das vítimas do avião da Gol 1907 e na identificação dos corpos na tragédia de Brumadinho, em Minas. “O diferencial da análise dos tecidos moles, como a cartilagem, é que o resultado é mais rápido do que nos tecidos rígidos, como ossos e dentes. No entanto, é preciso realizar um trabalho prévio minucioso de selecionar locais nos tecidos moles que ainda não foram degradados e que as células ficaram preservadas. Essa foi a primeira etapa das análises que fizemos no instituto ontem. Após essa seleção, iniciamos o processo de extração de DNA. A coleta da amostra foi realizada por colegas da perícia da Bahia, conforme solicitamos, a partir do nosso protocolo que disponibilizamos para eles. Essa colaboração foi importante para os nossos trabalhos”, completou Samuel.
Com a conclusão do exame de DNA, a Divisão Especial de Repressão a Sequestros (DRS) encerra as investigações. A PCDF tem certeza de que o pai do garoto, Paulo Roberto de Caldas Osório, 45 anos, planejou o crime. Chegou a comprar roupas novas para o menino, possivelmente para dificultar a identificação da vítima, achada às margens da BR-242, no povoado Campos de São João, zona rural do município de Palmeiras (BA).
A avó de Bernardo não reconheceu a calça listrada e a blusa branca que o menino estava no momento em que foi encontrado morto por um morador da região. O menino faria 2 anos no dia 31 de dezembro.
O delegado Leandro Ritt, chefe da DRS, concluiu que o pai agiu sozinho. Ele acredita que Paulo saiu com o garoto morto da casa da 712 Sul. O homem não levou roupas para Bernardo, nem mala, a TV ficou ligada, assim como outros aparelhos eletroeletrônicos. O servidor do Metrô também não carregou o tablet que o pequeno tanto gostava.
As investigações apontam que Paulo deixou a casa às 20h52 de sábado (29/11/2019). Às 21h20, passou em um radar na Ponte do Bragueto, na Asa Norte. Dirigiu pela BR-020 até Luís Eduardo Magalhães, na Bahia. “Lá, pernoitou com o menino morto no carro”, disse o delegado. O corpo foi jogado na região de Palmeiras. No sábado (30/11/2019), o homem vai até Salvador. Depois, acaba preso.
O laudo que vai determinar as causas da morte de Bernardo, assim como a perícia no local onde o corpo foi encontrado, será feito pela polícia da Bahia. Porém, a DRS informou que vai relatar o inquérito até quarta-feira (04/12/2019) e encaminhar a Justiça.
Sequestro e morte
No dia 29 de novembro, Bernardo foi levado pelo pai ao sair da creche na Asa Sul. Preso dois dias depois, na Bahia, o servidor do Metrô-DF Paulo Roberto de Caldas Osório disse à polícia ter matado o filho.
Veja vídeo em que Paulo fala sobre o crime:
Muito abalada após ter seu filho sequestrado pelo próprio pai, a advogada Tatiana da Silva, 30, mãe de Bernardo, disse que estava preparando a festinha para comemorar os dois anos do menino, na véspera do Ano-Novo. O tema havia sido escolhido: Mundo Bita. “Mas ele era apaixonado pela Masha e o Urso”, disse Tatiana ao Metrópoles, nesse sábado.
Medicamentos controlados
Paulo Osório usava medicamentos controlados. Para insônia, tomava hemitartarato de zolpidem: remédio que ajuda pacientes com insônia a adormecerem. Aos investigadores da DRS, o homem afirmou ter dopado o pequeno Bernardo com o sonífero usado em seu tratamento. A morte, conforme contou, teria sido provocada por uma superdosagem da substância.
Confira fotos do caso:
Em seu relato à polícia, o homem afirmou ter diluído três comprimidos no suco de uva que deu ao filho. Um copo infantil foi achado na casa de Paulo, na 712 Sul. Dentro do carro dele, havia pacote de biscoito e uma faca.
Depois de descobrir que o filho tinha morrido, Paulo Osório disse ter deixado o corpo às margens de uma rodovia na Bahia com a cadeirinha e fugiu. O município de Palmeiras, onde o cadáver foi localizado, fica a 1.055 km do Distrito Federal.