TCDF quer explicação por ex-secretário acumular cargos no Iges e na Novacap
Conselheiros também autorizaram realização de auditoria nas contratações do instituto com salários considerados acima do mercado de trabalho
atualizado
Compartilhar notícia
O Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) cobrou explicações do Governo do Distrito Federal (GDF) sobre acumulação de cargos pelo ex-secretário de Saúde do DF Francisco Araújo Filho (foto em destaque), hoje preso em decorrência da Operação Falso Negativo.
A determinação da Corte é para que a pasta aponte argumentos para justificar o exercício por Araújo, ao mesmo tempo, dos cargos de presidente do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (Iges-DF) e de membro efetivo do Conselho de Administração da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap).
A decisão é da sessão plenária do dia 16 de setembro, mas apenas nessa terça-feira (22/9) foi tornada pública. Na ocasião, os conselheiros votaram pela admissibilidade de representação apresentada pelo Ministério Público de Contas (MPC-DF). O caso teve como relator o conselheiro do TCDF Paulo Tadeu.
Contra estatuto
De acordo com o TCDF, o art. 57 do Estatuto do Iges-DF veda o acúmulo de cargo da diretoria executiva com qualquer outro de natureza política ou diretiva de entidades públicas ou privadas.
Quando ainda era presidente do Iges, Francisco Araújo foi indicado para o Conselho de Administração da Novacap. No Portal da Transparência, o jeton para esse cargo é de R$ 4.060,67, além da remuneração mensal que ele recebia pelo alto cargo que ocupou na Saúde.
A nomeação para a nova função ocorreu em 9 de abril de 2019, sem a exoneração dele do Iges. Ou seja, em quatro meses, Francisco teria recebido R$ 16.242,68. A situação só foi regularizada no dia 14 de maio.
Contratos e nepotismo
Na mesma sessão plenária, os conselheiros também autorizaram a realização de auditoria, tendo por escopo a contratação de funcionários pelo Iges-DF sem a devida transparência. Muitos deles com salários considerados acima da média de mercado. Além disso, a Corte também quer explicações sobre a possível prática de nepotismo e acerca do processo seletivo para a escolha dos profissionais do instituto.
“Nesse contexto, em relação à contratação de pessoal no âmbito do Iges-DF, ao menos em tese (a par de seu arcabouço normativo), verificou-se que deve ser precedida de processo seletivo público, atendendo aos princípios da publicidade, igualdade, impessoalidade, moralidade, economicidade e eficiência, devidamente compatibilizado com a natureza privada, nos termos da lei civil, dos Serviços Sociais Autônomos, em conformidade com os padrões de mercado e a necessidade de serviço, cabendo ser conduzido de forma pública, objetiva e impessoal”, apontou a procuradora Cláudia Fernanda na representação do MPC.
Pela decisão do TCDF, a Secretaria de Saúde e o Iges terão o prazo de 60 dias para apresentar os esclarecimentos sobre a incompatibilidade de acúmulo de funções do ex-secretário.
Além disso, devem “assegurar que os editais de chamamento público para os processos seletivos de pessoal indiquem – todos eles –, preferencialmente, o número de vagas existentes para cada emprego a ser objeto de concorrência, à luz do princípio da legítima confiança, bem como delimite seu prazo máximo de vigência, uma vez que uma entidade paraestatal, registre-se, sustentada integralmente por recursos públicos, assim como a administração pública, deve buscar selecionar os melhores candidatos”.
Sobre a possível prática de nepotismo, o TCDF fará inspeção para verificar denúncia, além de evitar que a impessoalidade e a moralidade na contratação e lotação de pessoal pelo Iges-DF sejam infirmadas por “práticas como nepotismo, apadrinhamento, tráfico de influência ou outras impropriedades assemelhadas”, diz documento.
O Iges-DF enviou nota à reportagem sobre o assunto. Nela, o instituto “informa que ainda não foi notificado pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF)”.