TCDF quer acesso à delação de empreiteiro sobre obra do Mané Garrincha
Informações do ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, vão ajudar nas investigações do Tribunal de Contas do DF sobre supostas irregularidades na construção da arena. Resultado preliminar de auditoria aponta para superfaturamento de R$ 365 milhões
atualizado
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O Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) espera, o quanto antes, colocar as mãos no conteúdo da delação premiada de Otávio Azevedo, ex-presidente da construtora Andrade Gutierrez. Com o material, que no momento está sob sigilo de Justiça, os auditores da Corte querem aprofundar as investigações sobre os indícios de irregularidades na construção do estádio Mané Garrincha — que custou R$ 1,7 bilhão aos cofres do Distrito Federal. Ao lado da Via Engenharia, a empreiteira fez parte do consórcio responsável por erguer a arena.
Em entrevista exclusiva ao Metrópoles, o presidente do TCDF, Renato Rainha, disse que o tribunal está de olho nas investigações que envolvem diretamente o Mané Garrincha e a relação das construtoras com figuras da política do DF. “Já temos em nossa auditoria fortes indícios de sobrepreço na construção do estádio, que somam R$ 365 milhões”, antecipou.Para Rainha, novos detalhes contidos na delação vão contribuir com as investigações do TCDF. “Certamente, a delação é feita com outros instrumentos de investigação de que nós não dispomos, como a confissão das pessoas que desviaram dinheiro para tentar reduzir pena e a interceptação telefônica. Caso essas provas venham para os nossos autos, poderão auxiliar no aprofundamento de nossa análise”, disse.
O órgão está em contato permanente com os promotores do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) que participam da força-tarefa da Operação Lava Jato. A delação, segundo Rainha, poderá incrementar a auditoria em andamento e resultar na descoberta de novas irregularidades envolvendo a obra mais cara da Copa do Mundo de 2014. Apurações já realizadas pelo tribunal apontam que o preço da arena poderá chegar a R$ 2 bilhões, devido a um último contrato adicional, que ainda está ativo.
Na mira da Polícia Federal
Matéria publicada no último domingo (10/4) revelou que a delação premiada de Azevedo, já homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), reforça as suspeitas de superfaturamento na construção do estádio. A expectativa é que, nos próximos dias, pessoas e empresas vinculadas às obras listadas pelo empreiteiro sejam alvo de uma nova operação da Polícia Federal.
No depoimento, Azevedo teria afirmado que cinco ex-governadores “embolsaram comissões” para favorecer a empresa nas obras dos estádios da Copa do Mundo, realizada em 2014 no Brasil. Entre os nomes, estariam José Roberto Arruda (na época do DEM) e Agnelo Queiroz (PT).
A Câmara Legislativa também aguarda a liberação do conteúdo da delação de Azevedo. A Casa pretende instalar uma CPI para investigar a acusação de que os ex-governadores Agnelo Queiroz e José Roberto Arruda estariam entre os beneficiários do esquema delatado por Azevedo.
A prisão do ex-senador Gim Argello (PTB) nesta terça-feira (12), em mais uma fase da Operação Lava Jato (foto ao lado), abre um novo capítulo nessa história, que pode virar caso de polícia. Delações premiadas revelaram que empreiteiros teriam pago R$ 5,3 milhões para o petebista evitar uma convocação na CPI da Petrobras, e parte do dinheiro foi parar na conta da Paróquia São Pedro, em Taguatinga, comandada pelo padre Moacir Anastácio.
Ao Metrópoles, o religioso confessou que além de R$ 350 mil da OAS depositados uma conta indicada por Gim Argello, a igreja teria recebido outros R$ 600 mil de doações, sendo R$ 300 mil da Andrade Gutierrez e outros R$ 300 mil da Via Engenharia, a pedido do ex-governador Agnelo Queiroz.
As três empreiteiras eram responsáveis pela construção de estádios utilizados no Mundial, agora também no escopo de investigações da operação da PF e do Ministério Público Federal. O pároco, entretanto, garante que todo o dinheiro foi utilizado pela igreja, principalmente na organzação da tradicional celebração de Pentecostes.
Outras irregularidades
De acordo com Renato Rainha, estão sendo investigados pelos auditores diversos contratos de compra de materiais usados para montar o piso, revestir as paredes, a pintura, e todo o acabamento do estádio: “Queremos saber com que qualidade o serviço foi feito. É dessa forma que a auditoria de qualidade está sendo realizada. Tudo se resume ao fato de que, se a obra ficou com a qualidade abaixo do serviço contratado, algum dinheiro está sendo desviado”.
O resultado do que foi investigado até agora não é nada positivo. “Em conversa com os auditores que estiveram inspecionando o estádio, a interpretação provisória dos profissionais é que a obra tem uma qualidade muito ruim”, antecipou o conselheiro do TCDF.