TCDF investiga contrato de R$ 20 mi da PM autorizado por coronel preso
Em meio à Operação Mamon, que investiga extorsão a empresários, Tribunal de Contas analisa licitação para sistema de comunicação da polícia
atualizado
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Em meio à Operação Mamon, deflagrada na terça-feira (14/11) pelo Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), as licitações realizadas pela Polícia Militar nos últimos anos se tornaram alvo de apurações dos órgãos de controle. As investigações apontam que o coronel Francisco Eronildo Feitosa Rodrigues, ex-chefe do Departamento de Logística e Finanças (DLF) da corporação, liderava uma organização criminosa que cobrava propina para fraudar contratos públicos. Agora, as autoridades trabalham para localizar as irregularidades.
Finalizada em outubro, a licitação passou a ser investigada pelo Tribunal de Contas do DF (TCDF) depois que uma das empresas concorrentes do processo entrou com representação na Corte. A Stelmat Teleinformática Ltda. acusa a T&S Telemática Engenharia e Sistemas, vencedora de três dos cinco lotes do edital, de cometer irregularidades para conseguir o contrato.Uma das licitações que deve ser investigada com mais afinco é o Pregão Eletrônico n° 31/2017, que está em fase de homologação e adjudicação. A concorrência pública tem como objeto o fornecimento e a manutenção de equipamentos para o sistema de comunicação da PMDF. Câmeras, antenas, cabos e monitores estão entre os itens incluídos no certame, orçado em R$ 19.984.770,03.
Na versão da companhia perdedora, a T&S “manipulou valores para ocultar a real cifra da proposta apresentada”, descumpriu termos do edital e fez conluio com outra empresa para direcionar o resultado da licitação. Ainda de acordo com os concorrentes, a vencedora receberia respostas muito mais rapidamente que as demais interessadas durante a realização do pregão, o que indicaria favorecimento.
Na representação, a Stelmat pede a investigação das irregularidades, a desclassificação da T&S para dois dos três lotes os quais ganhou e a continuação do processo de licitação. No fim do mês passado, o TCDF acatou a representação da empresa e agora apura a possibilidade de desvio no certame.
Já a T&S, acusada na peça, nega todas as acusações. De acordo com Mário Batista de Oliveira, sócio da empresa, as denúncias feitas pela concorrente não têm nenhum fundamento e não foram provadas. “Estou muito tranquilo quanto a isso. Não cometemos nenhuma irregularidade e vamos continuar participando da licitação quantas vezes ela ocorrer”, afirmou à reportagem.
O empresário alegou ainda que não foi citado pelo TCDF para se defender das acusações e que já está processando a Stelmat por conta das declarações que classifica como falsas: “Esse é um mercado muito competitivo, e a empresa está preocupada em perder o contrato que já possui com a PMDF”, finaliza.
Caso o resultado da licitação seja homologado, a T&S Telemática Engenharia e Sistemas abocanharia R$ 12.356.359, o equivalente a 61,8% do valor total do contrato. Além da representação no TCDF, a concorrente também entrou com recurso contra o resultado do certame. Acionada pelo Metrópoles, a Polícia Militar do DF disse que “as questões acima relacionadas estão com o Ministério Público”. No MPDFT, as investigações correm em segredo de Justiça, segundo o GDF, “a fim de se preservar a efetividade das apurações”.
TCDF – Contrato PMDF by Metropoles on Scribd
Problemas antigos
Essa não é a primeira vez que o processo de aquisição de serviços e equipamentos de telecomunicação para a PMDF passa por problemas. Na verdade, a questão está no centro de um imbróglio desde 2015. No fim daquele ano, a Polícia Militar abriu o Pregão n° 57/2015 para a manutenção e o fornecimento de equipamentos para o sistema de comunicação da corporação, orçado em R$ 20.969.298,77.
À época, o chefe do Departamento de Logística e Finanças da PM era o coronel Jean Rodrigues Oliveira, exonerado em setembro de 2016. Após o lançamento, no entanto, a licitação passou por um vai e vem no Tribunal de Contas.
Em 13 de janeiro do ano passado, o coronel Francisco Feitosa assumiu o DLF. Oito dias antes, a Corte de Contas suspendeu a licitação dos serviços de telecomunicações citando problemas no edital e determinou a reformulação do documento. Entre as adequações ordenadas pelo TCDF, estava a divisão do objeto em cinco lotes, a revisão dos materiais previstos em edital e o detalhamento das atividades desejadas.
A PMDF realizou as mudanças apontadas pela Corte e, em julho do ano passado, o Tribunal permitiu a continuação da licitação com outra numeração. O certame então se tornou o Pregão n° 23/2016. A esperança de que o processo seguiria sem maiores problemas, no entanto, não se concretizou. Em setembro, o TCDF suspendeu a concorrência pública de novo, após representações de empresas interessadas no contrato.
Nos documentos, as companhias alegavam a existência de irregularidades no edital relacionadas a questões como atestados de capacidade técnica e a existência de sede em Brasília, entre outros. A Corte também acatou as representações, e a PMDF novamente se adequou aos pedidos. O edital, então, passou a ser o Pregão n° 31/2017, que agora está novamente sob apuração na Corte.
Operação Mamon
Deflagrada na terça-feira (14) por promotores da Justiça Militar, do Centro de Informações (CI) e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPDFT, a operação aponta o coronel Francisco Feitosa como um líder de uma organização criminosa que atuava no Departamento de Logística e Finanças.
O Ministério Público suspeita que licitações podem ter sido direcionadas e propinas cobradas em troca do pagamento das notas de serviço. Dezenas de documentos relacionados aos contratos de manutenção, computadores e pendrives foram apreendidos pelos promotores e serão analisados.
Entre os contratos no centro das investigações, estão o da aquisição de 315 veículos modelo ASX, da Mitsubishi, cada um no valor de R$ 124,3 mil, totalizando R$ 39,1 milhões; e o de compra de rádio para viaturas da corporação, ao custo de R$ 6,6 mil cada. Após a deflagração da operação, o coronel Francisco Feitosa foi exonerado.