metropoles.com

TCDF apura altos valores pagos para funcionários do ex-distrital Lira

A Corte de Contas aceitou representação do Ministério Público e deu 30 dias para o ex-parlamentar e a CLDF prestarem esclarecimentos

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
RAFAELA FELICCIANO/METRÓPOLES
Lira
1 de 1 Lira - Foto: RAFAELA FELICCIANO/METRÓPOLES

O Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) analisa suposta irregularidade na manobra do ex-deputado distrital Lira (PHS) que garantiu altos valores a comissionados. Como mostrou o Metrópoles em dezembro de 2018, o ex-parlamentar deu, a meia dúzia de funcionários, upgrades nas respectivas remunerações para, depois, demiti-los. Esses ex-servidores ainda doaram dinheiro para a campanha de reeleição malsucedida de Lira.

Em 15 de agosto de 2019, a Corte de Contas tomou conhecimento da representação do Ministério Público de Contas do DF (MPC-DF) sobre o tema e deu 30 dias para que a Câmara Legislativa (CLDF) e o ex-distrital apresentassem esclarecimentos. Depois de receber as manifestações, o corpo técnico do TCDF irá analisá-las para, em seguida, o relator do caso, conselheiro Renato Rainha, emitir voto, que será submetido à sessão na qual o mérito será julgado.

Autor da Representação nº 08/2019, o procurador Demóstenes Tres Albuquerque avaliou que Lira deixou de executar os atos de nomeação baseados na legalidade, no cumprimento dos estatutos e normativos próprios. E mais: para o integrante do MPC-DF, o parlamentar também não atuou com a “probidade (ou boa-fé objetiva) e a moralidade esperada para a sua conduta”.

“Nesse sentido, considero que a rotina encontrada evidencia que as nomeações tiveram como propósito a obtenção de vantagens econômicas pessoais, não alinhadas ao interesse público”, assinalou no documento.

Relembre o caso

As operações para turbinar os contracheques de comissionados ocorreram entre julho e agosto de 2018, um mês antes do início da campanha eleitoral. Em um dos casos, por exemplo, Fernando Antônio de Oliveira recebeu líquido, em julho, o valor de R$ 4.839,37. No contracheque seguinte, esse mesmo funcionário viu a cifra saltar para R$ 92.082,73, um aumento de quase 2.000%.

Fernando ocupava um cargo CL-3 (R$ 4.527,40) e passou a exercer função de CNE-1, com salário de R$ 12.257,77, três vezes maior que o de seu posto de origem.

O que justifica a bolada extraordinária em sua conta de um mês para o outro é que Fernando foi promovido para, imediatamente em seguida, ser exonerado. Só que o departamento de Recursos Humanos da Câmara Legislativa, ao calcular os benefícios decorrentes de uma rescisão, como férias não gozadas e 13º salário, usa como referência o último vencimento. E, neste caso específico, o servidor tinha três férias acumuladas.

O distrital adotou o mesmo modus operandi para “premiar” outros cinco servidores. Primeiro, deu uma promoção substantiva ao funcionário e, em seguida, o demitiu. Somadas, as rescisões dos seis servidores chegaram a R$ 385.845,07.

No caso de Lucas Rodrigues de Freitas, o funcionário recebeu, em julho, salário líquido de R$ 3.728,02. Em agosto, o depósito em sua conta referente a salários e benefícios foi de R$ 61.684,78, ou seja, 16 vezes mais dinheiro em um espaço de 30 dias.

Acomodado no gabinete de Lira, o ex-administrador de São Sebastião Jean Duarte de Carvalho também pegou o trem da alegria promovido pelo distrital. Recebeu R$ 65.850,18 em agosto, oito vezes mais que o valor que lhe foi pago no mês anterior (R$ 8.001,44). Jean ocupou o cargo de administrador no início do governo de Rodrigo Rollemberg (PSB) por indicação do parlamentar.

Também sobrou generosidade com o dinheiro público para o segurança parlamentar Francisco Tácio Araújo da Silva. Embora lotado no gabinete desde 2015, Lira resolveu premiá-lo faltando quatro meses para o fim do mandato e a apenas 30 dias das eleições. O servidor recebia R$ 6.900,54 e passou a ganhar R$ 7.245,55. Avançou um cargo, o suficiente para, com a rescisão, levar a bolada de R$ 27.773,59.

Duas funcionárias ainda tiveram os salários anabolizados na repentina boa ação de Lira: Janaína de Souza Aguiar Lopes levou em agosto rescisão de R$ 69.924,38, e Rayanne Raquel de Souza Almeida recebeu, no mesmo período, R$ 58.529,41.

Cada parlamentar tem direito ao uso de até R$ 219.213,52 para pagar salários de seus comissionados em gabinete, e as rescisões não entram nesse teto. Portanto, em apenas um mês, o gabinete do deputado gerou uma despesa de mais de meio milhão de reais (R$ 541.113,11) apenas com pagamento de salários.

Lira multiplicou salários, mas não seu resultado nas urnas. Teve um dos desempenhos mais sofríveis entre os candidatos à reeleição derrotados: reuniu apenas 3.061 votos.

Outro lado

A Câmara Legislativa disse, em nota, que a notificação do TCDF chegou na quinta-feira (22/08/2019) e a resposta será elaborada de acordo com o prazo estabelecido. Sobre as promoções seguidas de demissões, a CLDF informou que para “normatizar o tema, criou o Ato da Mesa Diretora nº 33/2019, que dispõe sobre férias, 13º salário e regulamenta o acerto financeiro”.

A Casa pontuou, ainda, que o ex-deputado distrital Lira “tinha total responsabilidade sobre seus servidores, cabendo a ele exonerar ou nomear qualquer funcionário de seu gabinete”.

Metrópoles entrou em contato com o ex-deputado sobre o processo do TCDF e aguarda retorno.

Também à época da publicação, Lira disse à reportagem que todos os servidores promovidos foram demitidos porque trabalhariam em seu projeto de reeleição. “Não me senti à vontade para fazer uma campanha na rua com pessoas recebendo salários pela CLDF. Me recusei a usar dinheiro público”, afirmou o ex-distrital.

Sobre as promoções expressivas que antecederam as exonerações e geraram polpudas rescisões, Lira disse que foi “reconhecimento pelos serviços prestados”. Essa graça toda, na melhor das hipóteses, com dinheiro do contribuinte brasiliense.

Os seis servidores foram procurados pela reportagem à época da publicação, quatro preferiram não comentar o assunto e os outros dois não foram localizados.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?