Taxistas do Aeroporto de Brasília ficam até 6 dias sem corrida
Com redução de 90% dos voos no terminal aéreo, trabalhadores sofrem com a falta de passageiros
atualizado
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Com cada vez menos voos chegando e partindo do Aeroporto Internacional de Brasília, não apenas as companhias aéreas sentem o prejuízo da baixa procura por passagens. Lojas estão fechadas, restaurantes não têm clientes e o setor reservado para taxistas virou um grande estacionamento de viaturas.
Conforme conta Ezoel Valentim, 73 anos, já são mais de quatro décadas dedicadas à profissão de motorista de táxi e ele nunca tinha visto crise parecida. “Entrei na fila de carros na sexta (27/03), às 10h, só para ter uma ideia da situação. Sou o segundo para sair hoje e, mesmo assim, nem sei se conseguirei”, lamenta.
Mesmo com poucos passageiros, Ezoel afirma não ter outra opção que não seja esperar uma corrida. Os outros dois pontos onde ele consegue mais clientes, Rodoviária do Plano Piloto e shoppings, também estão às moscas. “Não adianta. Está tudo fechado ou sem ninguém. Pior é que ainda não há tendência de melhora”, externa.
Pagando para trabalhar
Na mesma situação está Sérgio Henrique da Silva, 60. Inconformado com o que ele chama de “paranoia” pelo novo coronavírus, a única corrida realizada nos últimos seis dias foi do aeroporto para a 703 Sul, na manhã desta quarta-feira (01/04). “Fiz R$ 42. Se for contar que o carro é alugado e o gasto que tenho com almoço e jantar aqui esperando, estou pagando para trabalhar”, reclama.
Morando no apartamento do irmão de favor, ele se preocupa com o momento em que não terá mais condições de se manter. “O dono do carro até chegou a dizer que queria de volta, pois não vou ter dinheiro para pagar depois, mas, se tirar, onde vou dormir?”, pergunta.
Diabético e com idade que já o coloca no grupo de risco, Sérgio diz não ter outra alternativa que não seja sair de casa e trabalhar. “O médico me diz que preciso fazer seis refeições por dia. Vou fazer como? Trabalhando aqui já não consigo, imagina parado”.
Restaurantes pensam em fechar
A praça de alimentação, localizada no último andar do aeroporto, tem ficado vazia na hora do almoço. Ao contrário dos dias comuns, antes da pandemia, quando funcionários e passageiros faziam fila para fazer pedidos, agora é difícil ver uma mesa ocupada. “Aqui, entre 12h e 14h é nosso horário de pico, mas vendemos apenas três sanduíches hoje (01/04)”, conta Rafaela Oliveira, gerente de uma lanchonete no local.
A falta de clientes preocupa. Com faturamento que não tem chegado a R$ 300 por dia, ela diz que o dono da franquia pensa em fechar o estabelecimento até que as coisas melhorem. “A gente depende dos voos. Se não tiver gente viajando, não vai ter como continuar”, explica.
A decisão de interromper o funcionamento não seria novidade. Dos nove restaurantes instalados na praça de alimentação, seis já estão desativados temporariamente, além das várias lanchonetes espalhadas pelos salões comuns de despacho de bagagem, por exemplo.
“Está crítico para todo mundo. Estamos muito apreensivos pois a equipe conta com pais e mães de família”, diz um gerente, que preferiu não se identificar, de outro restaurante no local. “Por enquanto ainda não sabemos como vai funcionar. Já demos férias para muitos funcionários e estamos apenas com o mínimo para funcionar agora”, relata.
O que diz a Inframérica
A Inframérica, administradora do aeroporto, anunciou a redução para 21 o número de pousos e decolagens diárias. A decisão configura uma diminuição de 90% da capacidade total do terminal e é resultado das medidas de restrição à locomoção e viagens implementadas para o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus.
O local tem capacidade para operar até um voo a cada 56 segundos. Entretanto, passará a receber, por dia, o que antes podia fazer em menos de 30 minutos. Antes da crise causada pelo novo coronavírus, o terminal contava, em média, com 380 voos diários, o que o tornou o terceiro maior aeroporto em fluxo do país em movimentação de passageiros.
De acordo com a Inframérica, “os voos que continuarão a operar realizam apenas trechos domésticos. Desde o dia 25 de março, os voos internacionais regulares no terminal brasiliense foram completamente suspensos. Não há previsão para a retomada dos demais voos”.