Tatuagem não é mais sinônimo de rebeldia. Arte homenageia entes e reconstrói a autoestima
É o que mostra a segunda edição da Brasília Tattoo Festival. Evento reúne 400 tatuadores no Centro de Convenções Ulysses Guimarães até este domingo (11/10)
atualizado
Compartilhar notícia
Sinônimo de rebeldia, as tatuagens já não são mais as mesmas. Se antes as pessoas tatuavam no corpo palavras de ordem, dragões, cobras e caveiras, o cenário hoje é bem diferente. As homenagens tomaram conta dos estúdios e os clientes buscam uma forma de gravar no corpo lembranças dos entes queridos. Em alguns deles, a procura por este tipo de serviço ocupa 70% da agenda.
A arte não trabalha somente a reboque de quem presta um tributo a quem ama. Muitas vezes, a máquina de tatuar resgata a autoestima, disfarçando cicatrizes e reconstruindo aréolas mamárias.
O tatuador Cleison Rosa Leite, 38 anos, que atua no ramo há 10 anos, confirma que o perfil dos clientes tem sofrido mudanças constantes. “As pessoas passaram a ver a tatuagem como arte. Não existe mais aquela história de se tatuar para mostrar que é mau”, garante.
Arte a serviço da autoestima
A dona de casa Sirleide Ferreira Gomes, de 38 anos, foi diagnosticada com câncer de mama há 3 anos. Ela passou por uma mastectomia (retirada total da mama), fez a reconstrução do seio e recorreu à tatuagem para refazer a aréola, danificada após a cirurgia.
É uma forma de apagar a tristeza do passado e trazer de volta a feminilidade.
Sirleide Ferreira Gomes
Sirleide é uma das mulheres atendidas na feira dentro da campanha de combate ao câncer de mama “Outubro Rosa”. Para complementar o resultado da cirurgia plástica, os tatuadores usam técnicas de tatuagens como as do realismo, para pigmentação da aréola, reconstituída com o auxílio de tintas e agulhas. O câncer de mama é o segundo tipo da doença mais frequente no mundo. Entre as mulheres, ocupa o primeiro lugar: corresponde a 22% dos novos casos todos os anos.
As interessadas no serviço, que é gratuito, não precisam fazer agendamento. “A melhor sensação do mundo é quando essas mulheres se olham no espelho e choram ao ver o trabalho finalizado. Choro junto com elas porque sei da importância que isso tudo tem para a autoestima de quem enfrentou um câncer”, conta Leite. Há dois anos ele trabalha como voluntário no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) em parceria com mastologistas (responsáveis pela cirurgia de retirada das mamas) e cirurgiões plásticos.
Mercado
No Distrito Federal, o mercado de tatuagens não foi abalado pela crise econômica. “Muita gente ainda procura o serviço. Continuo tendo o mesmo fluxo de clientes e atendo uma média de 70 pessoas por mês”, afirma Cleison Rosa Leite.
O colega de profissão J.R.Tatu, 32 anos, conta que também não teve a clientela reduzida. “Minha agenda está lotada até julho de 2016”, comemora. Em média, os brasilienses que procuram o serviço de um tatuador desembolsam entre R$ 200 e R$ 2 mil, dependendo do estilo e do desenho escolhidos.
Legislação
No Distrito Federal, duas leis regulam o setor. Desde 2005, menores de idade só podem fazer tatuagens com autorização dos pais. Já em 2009, foi adotada legislação que prevê fiscalização dos estúdios pela Vigilância Sanitária e exige uma série de documentos para que os estabelecimentos funcionem de forma regular.
Prova de que o cenário está bom para o ramo é a quantidade de tatuadores que participam do evento em 2015, em comparação ao ano passado. Este ano, 400 profissionais têm estandes montados. Em 2014, não passaram de 150 profissionais. “Hoje até o acesso às ferramentas é mais fácil”, afirma Gilmar Batista, 51 anos, coordenador-geral do evento.
Serviço
Brasília Tattoo Festival
Data: até domingo (11/10)
Horário: a partir das 12h
Local: Centro de Convenções Ulysses Guimarães
Preço: R$ 20 e um quilo de alimento não perecível