Som melancólico: músicos do DF fazem apelo para sobreviver
Problemas financeiros, dificuldade em produzir e depressão. Artistas da cidade contam as dificuldades durante a pandemia do novo coronavírus
atualizado
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Mesmo após a reabertura de bares e restaurantes do Distrito Federal, artistas que se apresentam na noite brasiliense ainda sofrem o impacto da crise deflagrada pela pandemia do novo coronavírus. É que, ao liberar o funcionamento desses estabelecimentos, o governo local vetou a realização de apresentações musicais ao vivo.
Assim, como boa parte dos músicos do Distrito Federal vivia de pequenos shows, em bares, restaurantes e eventos, a categoria tem sofrido com a queda no faturamento. Além disso, há aqueles que estão no grupo de risco da Covid-19 e ainda temem voltar a se apresentar onde o poder público permite.
Integrante do projeto Goiabada Cascão, André Silveira, 33 anos, viu a renda minguar durante a pandemia. Ele vive apenas dos shows em bares, restaurantes e festas particulares. Com a redução dos eventos e, consequentemente, das oportunidades de trabalho, tem conseguido se manter financeiramente graças à ajuda da mãe e a algumas reservas que possuía.
“Nossa profissão exige que você ame muito o que faz. Não é pelo dinheiro, ele é consequência”, afirma.
Para a cantora Stephany Moura, a pandemia chegou acompanhada de muita angústia. “O processo criativo foi totalmente afetado. Eu mesma não estou conseguindo produzir absolutamente nada em casa”, revela.
A artista diz ainda não ser o momento de retornar ao trabalho. “Faz muito tempo que não consigo cantar e, mesmo se estivesse tendo música ao vivo em algum estabelecimento, acredito que não seja o ideal para encarar [o trabalho nesses locais] no momento. Sinto muita saudade, mas não tenho como voltar”, destaca.
Já tive Covid-19 e fiquei bem mal. Só penso em voltar quando a vacina estiver sendo distribuída. Depois que passar tudo isso, eu quero voltar a acreditar no meu sonho, porque deixei ele de escanteio neste período
Stephany Moura, cantora
Na noite de Brasília, Carlos Diego Matheus Dias, 35 anos, é conhecido como Diego Pedigree. Vocalista do grupo de samba Amor Maior, um dos mais tradicionais da cidade, ele depende apenas da renda da música para sobreviver. “Eu até tinha um trabalho antes de tudo começar, em meados de março, trabalhava como técnico de teste de software. Mas depois a empresa começou a dispensar os funcionários”, conta.
“Viver longe dos palcos é ruim. Muitos amigos de profissão estão depressivos e eu, com dois filhos, quase fiquei também. Mas as esperanças me fortalecem. Espero que tudo acabe logo e a gente volte aos palcos”, torce. “Sou do grupo de risco, tenho pneumonia. Meus planos para quando tudo passar é voltar mais capacitado pro mercado. Estou aproveitando pra estudar e fazer cursos on-line”, revela Pedigree.
Apesar de também ser do grupo de risco da Covid-19, devido à obesidade, Eduardo dos Reis Hermógenes, 41 anos, defende a volta das apresentações musicais na capital do país. A música é a principal renda de Hermógenes, que integra a banda da cantora Dhi Ribeiro.
“Precisamos voltar imediatamente. Tomando todos os cuidados necessários, mas precisamos voltar a trabalhar urgente. Está muito difícil. Graças a Deus, minha esposa trabalha e está arcando praticamente com todas as despesas da casa”, afirma.
Ação solidária
Assim como parte da população vem fazendo, os músicos do DF também se uniram para ajudar os colegas que passam por dificuldades na pandemia.
Durante o mês de junho, alguns artistas se uniram no projeto Música que alimenta, com o objetivo de apoiar os companheiros de profissão que estavam em pior situação financeira.
André Silveira; o irmão dele, Alexandre Silveira; e Eduardo Hermógenes lideraram a ação. Foram arrecadados alimentos e produtos de limpeza. O movimento distribuiu, ao todo, 120 cestas básicas, 100 pacotes de saco de lixo, 100 potes de álcool em gel, sabonetes, 100 desinfetantes e detergentes, além de 240 pacotes de papel higiênico.