Professor faz campanha para conseguir chuteiras para alunos carentes
Cem crianças e adolescentes participam do Centro de Iniciação Esportiva (CID), da Escola Classe Varjão. Maioria treina com os pés descalços
atualizado
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“Mas cê já viu o sorriso no rosto de quem ganhou um boot novo?”. O trecho da música A Cada Vento, do rapper Emicida, motivou o professor de educação física Rafael Rodrigues da Cunha, 32 anos, a fazer uma campanha para conseguir chuteiras para alunos carentes do Centro de Iniciação Esportiva (CID) da Escola Classe Varjão.
A iniciativa está mobilizando e contagiando amigos, colegas, familiares e desconhecidos a conseguirem tênis de futsal para aproximadamente 100 meninos e meninas, de 8 a 17 anos, que praticam a atividade no contraturno escolar. “O esporte é responsável por formar o caráter e sei a importância dessa atividade na vida dessas crianças”, declara Rafael.
A ideia surgiu quando a equipe foi participar do campeonato interno do CID (Intercid) e os alunos preferiram jogar descalços. Segundo Rafael, havia sido feito um esforço para calçar adequadamente todo o time. Aqueles que não participaram da atividade emprestaram seus calçados, e o professor conseguiu outros pares. “Mesmo assim, eles pediram para tirar os tênis”, conta.
Percebi que havia algo errado. Eles queriam jogar descalços porque se adaptaram assim e muitos nem sabem jogar com a chuteira. Estamos mobilizados a adquirir para eles poderem treinar da forma correta.
Rafael Rodrigues da Cunha, professor de educação física
O projeto começou tímido, por meio do “boca a boca” e ganhou forma depois de publicações nos perfis do professor no Instagram e no Facebook, com compartilhamentos no WhatsApp. “Foi uma surpresa boa. Várias pessoas desconhecidas vieram me procurar para ajudar na campanha. Uma verdadeira corrente do bem em meio à névoa negra que está sobre o país neste momento político”, comemora.
Atenção e carinho
Com a ação, o time já conseguiu recolher diversos pares. “Ganhamos de tudo. Desde chuteiras para futsal, tênis de atletismo e até sapato social”, comenta Rafael.
A bancária Marcia Paula Soares Vieira, 40 anos, abraçou a causa. Ela faz parte de um grupo solidário e todo mês procura alguém para ajudar. “Pesquisando sobre o projeto, fiquei encantada com o trabalho realizado com crianças carentes do Varjão”, revela.
Marcia e os amigos escolheram 20 atletas da equipe para presenteá-los. “Acreditamos que ter ocupação para essas crianças é fundamental para elas se desviarem das situações do mal”, avalia a bancária.
O também professor de futsal e idealizador da Escola Ajax, projeto realizado na Cidade Estrutural, Alessandro Seco, mobilizou seus alunos para cooperarem. “O projeto Ajax ganhou uma visibilidade muito grande e todas as vezes que precisamos de ajuda, nós recebemos. Conheço a luta do Rafael, sei que é sincera e decidi pedir aos meus garotos para doar o que ganhamos a mais e não vamos usar aqui [no projeto]. Isso faz com que esses meninos entendam que eles não são os únicos que precisam. É muito bom poder ajudar.”
Agora, o treinador Rafael pretende catalogar os itens recebidos para saber o que ainda falta. Segundo ele, a sobra também será compartilhada. “O restante iremos doar para outros grupos. Os tênis de atletismo serão destinados a um projeto no Paranoá”, afirma.
Rafael explica ter passado por situação semelhante a dos alunos. Morador de Ceilândia, ele participava do CID em Taguatinga. “Só quero retribuir toda a oportunidade que tive. Eles precisam não só de bens materiais, mas de atenção e carinho.”
Veja o relato de Rafael:
Colabore
Para conhecer mais sobre a história do time e ajudar com as doações, o interessado pode acessar o perfil do Instagram @rafilsksdf. Aqueles que desejam contribuir devem deixar os calçados na Escola Classe Varjão, na quadra 7, conjunto D, lote 2, área especial, ou entrar em contato com o treinador pelo número: (61) 99652-6842.
Para entregar as chuteiras aos jovens, o professor pretende fazer um café da manhã no local de treino do grupo. “Ainda não temos a data. Só após recebermos todos os pares vamos programar isso”.
Ele também pretende fazer uma ação para adquirir os uniformes para o time. “Iniciarei uma nova corrente para fazermos as roupas deles. Temos algumas peças que providenciei mais ainda não é o suficiente e nem cabe em todos. Precisamos de ajuda”, conclui.