História de Natal: lutador de jiu-jitsu não perde nem para a cegueira
Railton Alves Pereira, 28 anos, perdeu a visão há uma década. Comerciante e atleta, ele aprendeu a viver com os outros sentidos
atualizado
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Ao contrário da maioria das pessoas, as cores, luzes, enfeites e árvores de Natal, tradicionais nesta época do ano, não fazem tanta diferença para Railton Alves Pereira, de 28 anos. Há uma década, o comerciante e lutador de jiu-jitsu perdeu completamente a visão após ser diagnosticado com retinose pigmentar, doença degenerativa da retina que causa cegueira. Em 2017, outra notícia: a filha mais nova era portadora de Síndrome de Down e precisou de 22 dias de internação para superar uma cardiopatia.
Neste dia 25 de dezembro, apesar dos percalços, Railton deseja estar junto à família e comemorar. A perda da visão e a luta pela recuperação de Gabrielle servem de inspiração para que o atleta siga em frente. “Para 2019, torço para pessoas agarrarem os seus sonhos com a alma. Quem não conquistou os objetivos em 2018, terá uma nova oportunidade.”
Cegueira
Há 10 anos, a deficiência visual fez ele adaptar seu modo de se relacionar com mundo. O faixa-preta de jiu-jitsu usa o tato, olfato, audição e paladar para aproveitar o Natal.
Não consigo mais enxergar, mas a minha lembrança é muito viva e bonita. Essa memória nunca vai ser esquecida dentro de mim. Hoje, eu consigo sentir a data através da energia das pessoas. O mais importante, na minha opinião, é celebrar o verdadeiro sentido do período, que é o nascimento de Jesus Cristo. O significado vai além de todas essas imagens. Tem a ver com sentimentos
Railton Alves Pereira, 28 anos, cego há uma década
Conheça a história:
A cegueira veio sem avisar. Railton conta que só soube da condição quando, aos 18 anos, começou a sentir a visão turva e embaçada. “Procurei o oftalmologista e recebi o diagnóstico. A doença me afetou de maneira rápida. Precisei adaptar a minha vida e foi bastante difícil. Não tem como se acostumar. Cada dia é um desafio a ser superado”, relata.
Atualmente, a rotina do jovem se divide entre o tatame, na escolinha do mestre Djohnso Silva, onde treina e ajuda como instrutor de jiu-jitsu, e as vendas no comércio que toca com a ajuda da esposa, Gelcilene Rodrigues de Sousa, de 32 anos. Uma loja de produtos agropecuários no Recanto das Emas.
Nos momentos vagos, Railton também gosta de colaborar na oficina mecânica do pai – carros são uma de suas paixões. No futuro, o lutador pretende ingressar na graduação no curso de fisioterapia.
Vida no tatame
O amor pelo jiu-jitsu começou em 2006, quando o jovem ainda enxergava. Após descobrir o problema de saúde, ele quase desistiu da luta, porém, contou com o incentivo do mestre Djohnso Silva para seguir sua trajetória nos tatames com força. A escolha, segundo Railton, foi acertada e começa a trazer alguns frutos. “Sou o primeiro cego faixa-preta do Centro-Oeste. Luto torneios com competidores sem deficiência e já coleciono medalhas. Fico feliz em saber que sou referência para as pessoas”, conclui.
As dificuldades, no entanto, trazem alguns estigmas ao atleta. “Além da visão também tenho problemas respiratórios.Certas vezes acabo sendo subestimado. Ser inspiração para os outros, por conta da minha força de vontade, é o combustível para vencer essas limitações. Estou quebrando o tabu de que cego não consegue fazer nada”, atesta.
Paternidade
O lutador é pai de duas crianças. O primogênito, Samuel, é fruto do primeiro casamento e tem 5 anos. No ano passado, do relacionamento com Gelcilene, nasceu Gabrielle. A menina, de apenas um ano, é portadora da síndrome de down. Ela passou 22 dias entubada na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), em tratamento de um problema cardíaco.
“Descobrir que minha filha tinha Down foi muito forte. Nós não imaginávamos e mexeu muito com o meu psicológico saber que ela é uma criança especial. Estou aprendendo a lidar com a realidade e tenho consciência de ser o responsável pelo desenvolvimento dela. Agora estamos focados na recuperação da Gabrielle”, conta.
Para seguir lutando, Railton precisa de patrocínio e ajuda. Quem quiser colaborar, pode entrar em contato pelo telefone (61) 99146-4846.