Gêmeas siamesas completam 15 anos e ganham baile de debutante no DF
A festa foi realizada após empresários e moradores da cidade se comoverem com a história
atualizado
Compartilhar notícia
Gratidão. Esse é o sentimento que melhor define as siamesas brasilienses Letícia e Lorena da Silva Santos, que ganharam uma festa de 15 anos na noite dessa segunda-feira (17/9). Os anjos da guarda responsáveis por realizar o sonho das adolescentes são desconhecidos das garotas. Dos vestidos ao espaço do evento, tudo foi conseguido por meio da solidariedade de diversos moradores e empresários da capital.
“Tudo está exatamente como a gente pretendia. Não faltou nada, nem sei como agradecer”, disse Letícia. “Impossível comentar a sensação. Estou emocionada de verdade”, acrescentou Lorena.
As duas chegaram ao local em um ônibus-balada, com cerca de 40 convidados. As gêmeas vestiram longos rosa-claro e depois trocaram os vestidos por curtos, a fim de aproveitarem a festa.
Um dos momentos mais emocionantes da noite foi a entrada no salão com chuva de prata e a valsa com o pai, os dois irmãos, e os alunos voluntários do Colégio Militar, que foram ao local só para receber as garotas.
Emoção
O pai das meninas, o porteiro Francisco das Chagas da Silva Santos, 43, só tomou conhecimento da magnitude do evento quando chegou ao local. Ele não escondia a alegria em saber da corrente de solidariedade em prol das meninas.
“Estou muito feliz e comovido. Não teria condições e nem imaginaria um evento deste nível e tamanho. Está tudo impecável.” Quem também participou da comemoração foi o cirurgião-pediatra Ubiratan Moreira Santos, responsável pela cirurgia para separar as irmãs. Ele levou de presente para elas dois colares.
“Vivi toda a situação dessas meninas, fui designado para isso. O caso delas é uma conjunção de muita energia boa. Não poderia estar mais do que feliz em estar aqui neste momento tão importante. É uma satisfação imensa”, emocionou-se o profissional.
Campanha
Letícia e Lorena pediram à mãe, Maria José da Silva Santos, 36 anos, uma festa de 15 anos. A dona de casa explicou que passou a noite pensando em como realizaria o sonho das filhas, mas, com poucos recursos, conseguiria juntar dinheiro apenas para comprar um bolo e cantar os parabéns com alguns familiares.
Com o dia do aniversário se aproximando e sem condições financeiras, Maria pediu ajuda da prima e proprietária de um salão de beleza no Riacho Fundo I Naiane da Silva Santos, 28 anos. Naiane fez um publicação em grupos fechados do Facebook e a postagem mobilizou pessoas que ficaram tocadas com a história. A festa foi organizada para aproximadamente 120 convidados, entre familiares, amigos, colaboradores e voluntários.
Surpresa
Entre presentes e depoimentos, as meninas ganharam o projeto e a reforma da casa de dois cômodos que vivem com a mãe e os irmãos, em Samambaia. “É o maior sonho das minhas meninas, para elas terem privacidade: um quarto só delas”, comemorou Maria.
Memória
Lorena e Letícia nasceram unidas pela região umbilical em 17 de setembro de 2003, no Hospital Regional de Taguatinga (HRT). À época, a história ganhou destaque no Distrito Federal. As duas viraram xodó do berçário do Hospital de Base do DF (HBDF), onde a cirurgia para separá-las foi realizada com sucesso. Receberam doações de fraldas, berços, brinquedos e caixas de leite.
A vida seguiu sem sequelas para as duas meninas, mas repleta de dificuldades. Elas dividem um quarto e sala com a mãe, a dona de casa Maria José da Silva Santos, 36; e dois irmãos, Miquéias, 16, e Oséias, 13, em Samambaia.
Orgulhosa, a mãe das gêmeas se emociona ao lembrar do dia do nascimento das filhas. “Carrego todas as recordações comigo. Tive medo de perdê-las. Desejo que as minhas meninas tenham tudo o que eu não tive. Faltou oportunidade para estudar e vejo o esforço dos meus filhos para se tornarem alguém na vida”, diz.
A renda da casa vem apenas do benefício mensal do Bolsa Família, além de bicos como faxineira que Maria José faz vez ou outra. “Jamais teria condições de patrocinar uma festa dessas. Dinheiro nunca sobrou na nossa casa, e continua difícil. Eu iria só cortar um bolo”, acrescenta.