metropoles.com

Solda contra as drogas: mulheres em tratamento aprendem nova profissão

Casa Maria de Magdala oferece curso de especialização de soldadora de estruturas metálicas para inserir as mulheres no mercado de trabalho

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
Mulheres participam de curso
1 de 1 Mulheres participam de curso - Foto: Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

Solidão, vergonha, depressão e preconceito são algumas das batalhas que Luciana Mendes, 42, teve que enfrentar antes de decidir buscar ajuda na comunidade terapêutica Salve a Si. A mulher esteve mergulhada no mundo das drogas durante dois anos e está em tratamento há quatro meses. Com acompanhamento psicológico, atividade física e projetos para inserção no mercado de trabalho, a moradora de Santa Maria diz conseguir imaginar um futuro de mais felicidade e autocuidado.

Luciana é uma das 35 milhões de pessoas que sofrem de transtornos relativos ao uso desenfreado de substâncias psicoativas e necessitam de tratamento. O dado consta no Relatório Mundial sobre Drogas, realizado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC).

No Distrito Federal, há 12 comunidades terapêuticas com tratamento gratuito a dependentes químicos custeados pela Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania do DF (Sejus). Das clínicas, apenas uma recebe mulheres. De acordo com a Sejus, atualmente 11 acolhidas estão em tratamento contra o vício em drogas.

Luciana experimentou cocaína com 40 anos por influência de um namorado usuário de drogas. Ela contou ao Metrópoles que depois da primeira vez, achou que poderia usar o estimulante sem ter prejuízos, mas acabou se afastando da família e dos filhos de 12, 21 e 23 anos. A mulher trabalhava há 10 anos em uma empresa de vigilância quando foi demitida por faltar duas semanas de serviço enquanto usava a droga.

“A cocaína não roubou só o convívio com a minha família, ela me deixou no fundo do poço. Eu cheguei em um ponto que vivia para usar e usava para viver, porque não conseguia mais enfrentar a realidade. Acabei me afastando da minha família por vergonha e deixei meus filhos sem notícias minhas. Tinha um emprego bom, que também tive de abandonar”, lamentou.

6 imagens
Espaço fica em São Sebastião
Luciana começou a usar drogas aos 40 anos
Mulher deve receber alta em março
Ela tem três filhos que esperam ela sair do reabilitação
Luciana é vigilante
1 de 6

Luciana Mendes, 42, está na casa há 4 meses

Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
2 de 6

Espaço fica em São Sebastião

Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
3 de 6

Luciana começou a usar drogas aos 40 anos

Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
4 de 6

Mulher deve receber alta em março

Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
5 de 6

Ela tem três filhos que esperam ela sair do reabilitação

Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
6 de 6

Luciana é vigilante

Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

Luciana conta que os dois irmãos também eram viciados em drogas. O mais velho, de 43, está internado para tratamento; o mais novo, de 30, morreu após uma overdose. “Sempre cuidei dos dois. Lutei a vida toda por eles e era totalmente contra as drogas, mas a gente nunca sabe o dia de amanhã, né? Nunca imaginei que me viciaria também”.

Com dois anos de usuária, a mulher chegou a vender carro, casa e apartamento para comprar droga. Ela relata que vivia em um relacionamento abusivo com o namorado e que diversas vezes foi ameaçada para conseguir mais dinheiro e alimentar o vício dos dois. Quando percebeu que não tinha mais nada, Luciana pediu ajuda ao ex-marido para buscar tratamento.

Empreendedorismo

Em busca de apoio, ela e o ex companheiro acharam a comunidade terapêutica Salve a Si, localizada na área rural de São Sebastião. O local oferece moradia, alimentação e todo suporte que a acolhida precisa para coibir a recaída. Agora, um projeto do espaço oferece às mulheres um curso de soldadora de estruturas metálicas para estimular a reinserção social.

O fundador da Salve a Si, Henrique França, explicou à reportagem que o projeto funciona como um estimulante de empoderamento feminino e oportunidade de inserção no mercado de trabalho, muito importante no tratamento. Além disso, as acolhidas irão construir o próprio galpão de atividades coletivas da clínica.

“Enquanto mulher não dependente química, o seu papel social se desenvolve entre os estigmas da maternidade, fragilidade, fidelidade, entre tantos outros, mas esse papel se modifica quando a dependência química nas mulheres é percebida pela sociedade, incluindo o espaço familiar, que passa a julgá-la como irresponsável, promíscua, amoral, incapaz de cuidar da família e dos filhos. Devolver o empoderamento feminino, a auto estima e o autocuidado à essas mulheres é fundamental para o tratamento”, finalizou Henrique.

Veja mulheres em aula prática 

8 imagens
A mulher está na casa há quatro meses
Mulheres da Casa Maria de Magdalena recebem aulas de serralheria
Thaís de Moura, 30 anos, é uma das acolhidas
Vânia Cortes, 53, está no local por causa do vício em cocaína
Maria Betânia dos Santos, 49, participa do curso de soldador de metal
1 de 8

Deuzeny Araújo, 26, também faz parte das mulheres acolhidas

Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
2 de 8

A mulher está na casa há quatro meses

Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
3 de 8

Mulheres da Casa Maria de Magdalena recebem aulas de serralheria

Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
4 de 8

Thaís de Moura, 30 anos, é uma das acolhidas

Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
5 de 8

Vânia Cortes, 53, está no local por causa do vício em cocaína

Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
6 de 8

Maria Betânia dos Santos, 49, participa do curso de soldador de metal

Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
7 de 8

Mulheres acolhidas na casa recebem curso de serralheria, que facilita a inserção no mercado de trabalho

Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
8 de 8

Casa Maria de Magdala é uma comunidade terapêutica localizada no núcleo rural de São Sebastião

Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

Apesar de já ter uma profissão, Luciana diz que pensa em seguir como soldadora quando sair da clínica. “A possibilidade de aprender algo novo é muito boa. A gente tem realmente a chance de voltar para o mundo com uma nova vida. Eu não sei se vou conseguir seguir na atividade que eu já exercia, então ter uma nova formação é uma felicidade para mim e para todas aqui”, comenta vigilante.

A professora de psicologia na Universidade de Brasília e pesquisadora em autonomia e trabalho feminino, Carla Antloga, explica que o empreendedorismo é um caminho para inserção da dependente química em tratamento no mercado de trabalho.

“Empreender no Brasil é desafiador. Para mulheres, é ainda mais duro. Para adictas é preciso ter um projeto que seja bem estruturado, pensado e responsável, para que essa mulher consiga realmente se estabelecer nesse universo. É realmente um caminho bom, mas em um cenário muito complicado”, explica Carla.

Auditório

O curso de soldador de estruturas metálicas acontece duas vezes na semana para as acolhidas da Casa Maria Magdala. O projeto acontece desde novembro e as meninas já estão na parte prática.

Além de aprenderem todas as técnicas, as alunas estão animadas com a possibilidade de construírem um auditório para a clínica. O espaço será utilizado para aulas de corte e costura, aparelhos de academia e outras atividades coletivas.

“Não temos um espaço como esse que será construído agora. Vai nascer das mãos delas e estão todas muito animadas. É importante se sentir parte do processo, é importante a atividade para ocupar a cabeça e será fundamental ter essa atividade que elas podem exercer quando saírem daqui”, ressalta Henrique.

Veja espaço da casa de acolhimento 

9 imagens
Elas cuidam de uma horta no local
Todos os dias passam por terapeutas, psicólogos e grupos de apoio
Tratamento pode durar até um ano no local
Espaço também recebe mulheres grávidas e com crianças de até um ano
Tratamento é totalmente gratuito
1 de 9

Espaço acolhe mais de 20 mulheres de 18 a 59 anos

Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
2 de 9

Elas cuidam de uma horta no local

Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
3 de 9

Todos os dias passam por terapeutas, psicólogos e grupos de apoio

Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
4 de 9

Tratamento pode durar até um ano no local

Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
5 de 9

Espaço também recebe mulheres grávidas e com crianças de até um ano

Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
6 de 9

Tratamento é totalmente gratuito

Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
7 de 9

Henrique é o fundador e terapeuta das mulheres

Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
8 de 9

Casa se mantém com doações

Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
9 de 9

Mulheres praticam atividades físicas no local

Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

Atualmente, a Salve a Si, conta com duas unidades. O centro de tratamento para dependência química feminina, inaugurado em 2020, em plena pandemia, tem 26 leitos, com 25 ocupados. O espaço também recebe grávidas e mulheres com filhos de até dois anos.

As pacientes contam com cinco refeições por dia, além de assistência 24 horas de diversos profissionais, como conselheira e assistentes sociais. O tratamento é 100% gratuito e pode durar de seis meses a um ano. A casa ainda depende de doações para se manter.

Quem quiser ajudar a Salve a Si pode fazer doações na seguinte contas:

Banco do Brasil

Agência: 2887-8
Conta: 25.050-3
CNPJ: 11.208.669/0001-90

A Organização Não-Governamental (ONG) também disponibiliza uma plataforma on-line para as doações (clique aqui).

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?