Sol Nascente x Lago Sul: foto compara área verde nas duas regiões e viraliza na web
Imagem revela ausência de vegetação no Sol Nascente, maior favela do país, e predominância de verde no Lago Sul, bairro de alta renda do DF
atualizado
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“Árvore não pode ser um privilégio de cor e classe”, diz publicação no Twitter que faz um contraste entre a quantidade de áreas verdes no Sol Nascente — maior favela do país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) — e no Lago Sul, que, se fosse um município, teria a maior renda média por pessoa entre todas as cidades do Brasil.
A postagem, compartilhada na segunda-feira (20/3) pelo ativista e mestre em planejamento urbano Raphael Sebba, viralizou nas mídias sociais e levantou debates sobre arborização e segregação.
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A publicação sobre as duas cidades, afastadas por 35km, também demonstra os tipos de problemas sociais que a região administrativa do Sol Nascente enfrenta no Distrito Federal.
Nessa imagem temos o Sol Nascente, maior favela do país (segundo IBGE), e o Lago Sul, bairro mais rico do país (segundo FGV)
35 km um do outro. Os dois no DF. Os dois no Cerrado.
Falar sobre clima urbano é falar sobre justiça.
Árvore não pode ser um privilégio de cor e classe! pic.twitter.com/0I4pwDjYJ9
— Raphael Sebba (@raphaelsebba) March 21, 2023
Na maior favela do país, os moradores convivem com lama, falta de saneamento básico e constantes enchentes. Para o geógrafo Mauro Alves, a ausência de áreas verdes agrava as consequências provocadas, por exemplo, pelas chuvas na região.
“A vegetação torna o solo mais permeável. Sem ela, a água da chuva tende a escorrer e, dessa forma, causar o empobrecimento do solo. É o fenômeno que chamamos de erosão hídrica. Com a pavimentação excessiva de ruas, a cidade fica praticamente impermeável, o que impede a absorção da água pelo solo e aumenta o risco de desastres ambientais”, alerta o geógrafo.
A cidade surgiu como área rural, em um setor de chácaras de Ceilândia e, para Mauro Alves, a “pobreza ambiental” é reflexo da desigualdade social entre o Sol Nascente e o Lago Sul.
“A diferença entre as duas regiões deixa de ser só econômica. Vai muito além disso. A desigualdade afeta todas as áreas da vida, inclusive o acesso ao espaço verde. Torna-se, também, uma pobreza ambiental do espaço”, avalia o especialista.
Arborização
Levantamento da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) obtido pelo Metrópoles revela que, entre outubro de 2022 e fevereiro de 2023, não houve plantio de árvores no Sol Nascente. No período, a região que mais recebeu espécies foi o Park Way, com 7.937 unidades.
O Programa de Arborização da Novacap trabalha com plantio de árvores nas cidades, mas, segundo a empresa, “de fato, há regiões mais arborizadas” — com o Plano Piloto em primeiro lugar. A área tem 1,5 milhão de unidades atualmente.
Confira:
O DF tem cerca de 5,5 milhões de árvores, segundo a Novacap. A empresa ressalta que o “inventário florestal” necessita “muita mão de obra” e recursos. Assim, a companhia faz estudos sobre as espécies adequadas para o plantio em cada região administrativa.
“Sabe-se que, de fato, há regiões mais arborizadas e o Departamento de Parques e Jardins não poupa esforços para contemplar todas as cidades. Contudo, o indivíduo arbóreo, uma vez inserido em ambiente urbano, fora das condições naturais, encontra uma série de impedimentos para o crescimento, e o plantio deve ser feito com muita cautela, para que, no futuro, não leve riscos à população local”, conclui a Novacap.