Sol Nascente: erosão ameaça engolir casas e moradores pedem ajuda
Cratera é antiga e a cada chuva avança em direção à rua e às casas. População cobra providências
atualizado
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Esther Alves, 37 anos, está de mudança da casa onde passou os últimos quatros anos de sua vida. A residência é a vizinha mais próxima de uma erosão que avança sobre em direção à rua e ameaça imóveis no Sol Nascente. A cratera aberta no bairro, uma das maiores favelas brasileiras, é antiga e já foi aterrada em 2017.
Com o início da estação chuvosa, porém, o medo de ter a casa engolida pelo buraco voltou a assolar os moradores da região.
“Eu não tenho coragem de ficar aqui mais não”, confessa Esther, que vive num imóvel de seis cômodos com mais cinco familiares. Segundo ela, quando chove, a água desce forte rua abaixo, danificando o caminho de terra por onde os carros praticamente já não passam mais.
A solução é colocar entulho nos buracos abertos pela enxurrada como forma de tentar garantir o tráfego de veículos.
Além de aumentar a erosão, a chuva traz outros problemas à comunidade. “Aparece rato, barata, escorpião, cobra. Eu mesmo tenho quatro gatos para não deixar entrar rato em casa”, conta a moradora.
No beco onde reside, não há um poste sequer. O medidor de consumo de energia foi furtado e ela acabou puxando a eletricidade diretamente de um poste. A gambiarra elétrica logo trouxe prejuízos.
Um curto-circuito provocou um incêndio que consumiu a cozinha e um dos quartos. “Estou morando só da sala para frente. Ainda bem que os bombeiros vieram, senão teria queimado tudo”, lembra Esther.
Providências
A Defesa Civil esteve no local para avaliar a situação na segunda-feira (06/01/2020) e recomendou à Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) que fizesse a manutenção do local.
Por enquanto, conforme o órgão avaliou, não há risco iminente de desabamento, mas o avanço da cratera em direção às construções pode levar a Defesa Civil à interdição de imóveis e remoção de moradores.
No último sábado (04/01/2020), a equipe do Metrópoles esteve na região. Naquele dia, era possível ver uma placa de advertência sobre a proibição de jogar lixo ou entulho no buraco.
A reportagem retornou ao local na terça-feira (07/01/2020) e a placa já havia sido levada pela chuva para dentro da cratera — um avanço de mais de dois metros em direção à rua.
Segundo o coronel Sérgio Bezerra, subsecretário da Defesa Civil, a erosão no Sol Nascente tem quase três anos e é resultado da ocupação desordenada do solo. “A água vem com força, volume e velocidade. Só vai resolver o problema quando for instalado o sistema de drenagem”, diz o coronel.
O vigilante Manuel Carlos Moreira, 52, o problema precisa de uma solução urgente. “O governo vem aqui, joga um monte de entulho no buraco para deter a erosão, mas só isso não adianta. Se o lixão está recebendo os restos da construção civil, porque não aproveita o material e joga aqui? É muito fácil condenar uma casa e mandar as pessoas saírem. Difícil é achar uma solução”, reclama o vigilante.
Manuel diz que, em dias de chuva moderada a forte, é impossível sair de casa. “A gente fica ilhado, não tem o que fazer a não ser esperar a chuva passar. Quando acaba, já dá para ver o estrado, e a cada vez que chove, a situação aqui piora”, diz.
Improviso
Na falta de uma solução para barrar o avanço da erosão, a população ao redor vem tentando remediar a situação. Localizada na parte baixa do Sol Nascente, a água que vem de cima das ruas leva junto a terra das ruas e desemboca na erosão.
Para conter a força da enxurrada, moradores fazem a contenção com restos de obras. “Derrubaram um barraco aqui ontem e a gente colocou o entulho aqui para barrar a água”, conta Esther, a vizinha mais próxima do buraco.
Para o subsecretário da Defesa Civil, isso não ameniza o problema. “Vai frear, sim, a chuva, mas a água vai escavar para os lados. A tendência é ir aumentando, mesmo com a colocação do entulho”, afirma Bezerra.
Problema recorrente
Também no Sol Nascente, outra cratera, esta com 600 metros de comprimento por 30 metros de profundidade, também ameaçava a população próximo ao Córrego da Coruja. O buraco foi aterrado com mais de mil caminhões de entulho e segue monitorado pelos órgãos de defesa e infraestrutura.
Questionada sobre que medidas serão tomadas para conter a erosão, a Novacap ainda não havia se manifestado até a publicação desta reportagem.