Sob escolta policial, pais vão a velório de menina torturada por tios
O corpo de Sabrina de Jesus Cabral, 6 anos, foi velado neste sábado, no Cemitério de Planaltina
atualizado
Compartilhar notícia
O velório de Sabrina de Jesus Cabral, 6 anos, morta após ser torturada pelos tios e deixada ao relento, reuniu familiares e amigos da vítima neste sábado (01/06/2019). O corpo da menina chegou ao Cemitério de Planaltina por volta do meio-dia. Quando foi colocado na capela, houve muita comoção e choro.
Os pais da criança, que cumprem pena por tráfico de drogas, compareceram ao local com forte escolta policial e permaneceram por cerca de 15 minutos. A mãe precisou ser atendida, pois passou mal.
De acordo com o advogado da família, a mulher teve o pedido de prisão domiciliar acatado pela Justiça e vai cuidar dos outros três filhos em uma casa localizada em Planaltina (GO), mesma cidade onde o crime aconteceu. O corpo da menina será enterrado ainda na tarde deste sábado.
A residência do casal acusado de assassinar Sabrina e de maltratar outras três crianças, todas agredidas dentro de casa, foi saqueada e incendiada na madrugada dessa sexta-feira (31/05/2019). Segundo um vizinho que não quis se identificar, desde a prisão dos moradores, pessoas têm pulado a cerca do lote e saído em seguida.
Ainda nessa sexta, uma das irmãs sobreviventes à violência dos tios, de 4 anos, foi transferida do Hospital Regional de Planaltina (HRP) ao Hospital da Criança de Brasília (HCB). Ela apresenta lesões antigas, como marcas de ferro de passar roupa e duas fraturas no braço. Os conselheiros tutelares contaram que as crianças comeram de forma desesperada ao chegar ao centro de saúde. O HCB, no entanto, não divulgou o estado de saúde atual dela.
Tortura e morte
Sabrina de Jesus Cabral foi espancada e deixada ao relento antes de falecer. O irmão relatou que ela foi castigada com um vergalhão de ferro e um pedaço de madeira. Além de Sabrina, os tios maltratavam e agrediam outras três crianças: um menino de 8 anos, uma menina de 4 e outra, de 1. Elas apresentavam sinais de violência que, segundo o delegado do caso, indicam prática de tortura.
O episódio trágico ocorreu no Setor Aeroporto, em Planaltina de Goiás, cidade no Entorno do Distrito Federal, a 65 quilômetros de Brasília. O maior de idade foi indiciado por tortura e homicídio qualificado. Já a adolescente, de 17 anos, responderá por ato infracional análogo aos delitos cometidos pelo namorado.
“Através da coloração das lesões, é possível ter uma ideia de quando elas foram praticadas. Isso é uma característica de tortura”, apontou o delegado Antônio Humberto, do Grupo de Investigações de Homicídios (GIH) do município goiano. “Nós, que estamos acostumados a trabalhar com violência, achamos esse caso particularmente chocante. Uma violência absurda. Um fato animalesco. Uma selvageria sem precedentes”, completou.
Um vizinho que chegou ao local na tentativa de socorrer Sabrina expôs que a menina tinha espuma branca na boca e reclamava de dores no peito.
Agressão
O delegado garantiu que os agressores não demonstraram arrependimento no momento do depoimento. De acordo com a tia, Sabrina tentou se esconder debaixo da mesa e, mesmo assim, foi agredida com chutes na cabeça.
O menino e a garota mais nova foram encaminhadas para um abrigo no município do Entorno após receberem alta médica. Segundo o vice-presidente do Conselho Tutelar, Antônio Freire, o corpo de Sabrina já foi liberado do Instituto de Medicina Legal (IML), mas ainda não há confirmação sobre o velório e sepultamento.
Agressões constantes
De acordo com vizinhos e policiais ouvidos pela reportagem do Metrópoles, os atos de violência contra as crianças eram recorrentes. O pedreiro Antônio Jares, 33 anos, contou que o último episódio presenciado por ele ocorreu na noite de terça-feira (28/05/2019).
“Por volta de meia-noite, eu abro a janela e vejo a tia arrastando a menina pelos cabelos aqui na rua. Era um relacionamento conturbado. Escutávamos brigas todos os dias.”
Ainda segundo o vizinho, o casal circulava com as crianças no bairro, a cerca de cinco meses.
“Nós já havíamos denunciado outras vezes. A polícia vinha, eles não abriam a porta, e as autoridades iam embora. Ouvíamos os meninos chorando. Eles passavam o dia fora e deixavam as crianças chorando em casa, sem comida. Era um casal intimidador. Tínhamos medo de virar alvo e ficávamos neutros. Nessa quarta [29/05/2019], a minha esposa resolveu chamar o conselho [Conselho Tutelar], e foi quando recebemos a informação da morte de uma das crianças”, comentou.
A diarista Maria Josué, 56, é vizinha do casal e mora na casa onde as crianças pediram comida na manhã dessa quarta-feira. “Nós sempre dávamos. Às vezes, ouvia as crianças gritando e perguntava o que estava acontecendo, mas eles diziam que não era nada. Nesse dia, ele se arretou, ficou com raiva e fez o que fez”, observou.
Ela comentou ainda que tinha um bom convívio com Bruno. “Ele vinha aqui e conversávamos. As crianças deles também brincavam com as minhas. Nunca havíamos visto marcas. Eles andavam sempre limpos, calçados e vestidos. Estou chocada”, apontou Maria.
Vídeo feito por policial na hora da ocorrência: