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“Só para me humilhar”, diz motoboy destratado por sócio de restaurante

Elton dos Santos Silva, 30 anos, conversou com o Metrópoles nesta segunda-feira (19/7) e comentou sobre o momento da discussão

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Material cedido ao Metrópoles
Sócio de restaurante briga com motoboy no DF
1 de 1 Sócio de restaurante briga com motoboy no DF - Foto: Material cedido ao Metrópoles

O motoboy que foi destratado por um sócio do restaurante Abbraccio, do ParkShopping, Elton Santos Silva, de 30 anos, diz que se sentiu humilhado durante o episódio ocorrido na tarde de sábado (17/7). O entregador, que presta serviço para aplicativo, conversou com o Metrópoles nesta segunda-feira (19/7) e comentou sobre o momento da discussão.

Inicialmente, o entregador havia se identificado com o Everton, irmão dele, mas diante da repercussão do caso, voltou atrás e corrigiu o nome.  Um vídeo registrou o momento da discussão e viralizou nas redes sociais.

Elton narrou que, há cerca de duas semanas, teve outros problemas com atrasos de pedidos no mesmo restaurante. “A Abbraccio tem esse mal costume de atrasar pedidos para os motoboys, isso todos vão falar. Teve um dia que eles atrasaram uma hora e meia, [contada] de relógio, o meu pedido. Aí, eu reclamei com a funcionária: ‘Cadê meu pedido? Estou há mais de uma hora aguardando meu pedido. Se eu não fizer a entrega, não ganho dinheiro, eu vivo disso'”, relatou.

“No outro dia, esperei quase duas horas. Aí, peguei o telefone da Abbraccio e liguei lá: ‘Vocês estão de marcação comigo? O que está acontecendo?’ Não tem condição de ficar esse tempo todo esperando um pedido”, completou.

Para ele, a discussão ocorrida nesse sábado pode ter sido motivada pelos problemas anteriores entre a loja e o motoboy.

“Passaram dois dias, eu peguei um pedido deles e a minha moto estragou. Não tive como realizar a entrega. Entrei no suporte do iFood, [dizendo] que minha moto tinha dado defeito e não podia finalizar a entrega. Pois, no sábado, esse rapaz aí – não sei se é sócio, se é dono – foi lá: ‘Você é o machão para destratar meus funcionários? Quero ver você falar comigo dessa forma’. Eu falei: ‘De que forma que eu falei? Eu não destratei ninguém, simplesmente falei o que estava acontecendo e que não estava satisfeito com aquilo’.”

“Ele mandou eu dar saída no pedido, eu dei saída, peguei o pedido, e ele começou a cronometrar, colocou o relógio na minha cara: ‘Vai fazer a entrega, seu horário está contando’. Aí eu deixei o pedido lá, porque meu celular estava com pouca carga e eu estava carregando. Se não tiver carga, o iFood entende que você não está apto a fazer a entrega. Então, eu estava ali esperando dar a carga, e ele com a maior ignorância do mundo, e a funcionária dele: ‘Já deu saída, já deu saída?'”, completou.

“Eu não fiz a entrega pelo jeito que ele me destratou e pela forma que ele mandou eu sair para fazer a entrega. Como eu não dei muita importância para o que ele falou, ele começou a questionar o motivo de eu estar ali carregando o celular. Fiquei sem entender, porque se a gente trabalha para eles, entrega para eles, se a gente não tiver o celular com a carga para se comunicar, como é que faz o serviço?”, questionou.

De acordo com Elton, o atraso desta vez foi de mais de 40 minutos. “Ele já veio com o pedido na minha mão, falando para eu dar saída. Aí eu pensei: ‘Não sou cachorro de ninguém, não’. Só peguei o pedido dele, coloquei do lado e continuei com o celular carregando. E ele falando: ‘Já estou cronometrando, vai fazer a entrega’. Eu sei o tempo que eu tenho para fazer a entrega, o iFood estipula um tempo para fazer a sua entrega, então, se eu estava ali ainda, era porque eu sabia que iria dar conta de chegar a tempo”, reclamou.

“Humilhação”

Elton é casado e pai de três filhos. Ele está morando temporariamente na casa da cunhada, na Estrutural, enquanto espera receber a chave do apartamento que comprou em Valparaíso (GO). É com o dinheiro que ganha com as entregas que sustenta a família.

O entregador de aplicativo afirma que trabalha na categoria há quase dois anos e que precisa do emprego. “Eu dependo disso para sobreviver. Trabalho para o iFood, não tenho como escolher. O iFood vai mandar a rota para mim e eu vou ter que ir lá e fazer, cumprir o meu papel”, pontua.

Após a discussão registrada em vídeo, ele conta que ficou mais um tempo no local e depois voltou para casa. “Ali é o ponto de motoboy para beber água, para carregar celular, usar o banheiro. Não tem outro ponto. Os seguranças do shopping falaram que eu agi bem em não ter me exaltado com ele, que ali é para isso mesmo, um apoio para os motoboys. Então, não entendi onde ele queria chegar com aquilo, era só para me humilhar e pronto? Para dizer que é o cara?”, desabafou.

Para ele, a classe de entregadores de aplicativo “é mal vista pela sociedade”. “Tem certos condomínios mesmo em que a gente é tratado como se fosse ladrão. Você só vai entrar se tem contatos. Tem que falar que é pai de família e está trabalhando. É constrangedor. A gente é muito mal visto, a verdade é essa.”

Agora, Elton pretende tomar providências jurídicas em relação ao ocorrido nesse final de semana. “Meus colegas me orientaram a procurar um advogado. Fiquei de ir resolver isso hoje […] porque ele fez isso comigo hoje, mas amanhã pode fazer com outros”, concluiu.

O Metrópoles procurou o iFood, que se pronunciou por meio de nota:

“O iFood não compactua com esse tipo de conduta e repudia qualquer ato de violência – física, moral, psicológica ou verbal -, de acordo com os valores presentes no Código de Ética e Conduta, que também se aplica aos parceiros. Assim que o iFood tomou conhecimento do caso, fez contato com seus parceiros, tanto para esclarecimentos e orientações do estabelecimento, como para apoio ao entregador.”

Entenda o caso

Um sócio do restaurante Abbraccio foi gravado discutindo com o motoboy que estava sentado na entrada do ParkShopping, carregando o celular.

Em vídeo, o empresário aparece no telefone e, quando desliga, diz ao entregador: “Na minha loja, você não pisa mais. Se eu pedir para alguém te ver aqui… Já vou te excluir do Ifood, beleza? Só isso que eu tenho para te falar”. O sócio do restaurante italiano prossegue: “E tu não folga, não. Você não está na sua casa. Eu estou neste shopping tem 15 anos, não vai chegar um motoboy aqui e achar que manda, não, beleza?”

O homem, então, vira-se para um funcionário do shopping e reclama: “Vocês não deviam deixar o cara com isso aqui para carregar. Isso aqui é do shopping. Vou ligar para o Carlos Alberto, porque isso aqui não pode acontecer. Não tem condições. Pago R$ 140 mil de aluguel para o motoboy sentar aqui e colocar o celular dele para carregar? Não vou nem a pau”.

Veja o vídeo:

O outro lado

Em nota enviada à reportagem no domingo (18/7), o Bloomin’ Brands, grupo detentor da marca Abbraccio, informou que “o que é retratado no vídeo não condiz com a nossa relação com os profissionais de entrega”. “Lamentamos o ocorrido”, reforçou.

“Estamos no Brasil há 23 anos, e temos um relacionamento genuíno com as nossas pessoas e os fornecedores que trabalham conosco. Informamos também que já conversamos com o sócio do restaurante em relação à condução do trabalho com os entregadores locais e já estamos apurando toda a situação e tomando as providências necessárias”, acrescentou a empresa.

Confira a nota na íntegra:

“Agradecemos a oportunidade de esclarecer o ocorrido. Nós, da Bloomin’ Brands, grupo detentor da marca Abbraccio, informamos que o que é retratado no vídeo não condiz com a nossa relação com os profissionais de entrega. Lamentamos o ocorrido.

Estamos no Brasil há 23 anos e temos um relacionamento genuíno com as nossas pessoas e os fornecedores que trabalham conosco.

Informamos também que já conversamos com o sócio do restaurante em relação à condução do trabalho com os entregadores locais e já estamos apurando toda a situação e tomando as providências necessárias.

Nada justifica o desalinhamento com nossos procedimentos e, como mencionado, faremos a apuração do caso e já iniciamos a reorientação de todo o time do restaurante em relação à nossa filosofia para que situações como esta não voltem a acontecer.

Para nós, é muito importante reforçar que temos uma relação de respeito e profissionalismo com todos os motoboys responsáveis pela logística do nosso delivery e isso se reflete no dia a dia com o atendimento de milhares de pedidos, todos os meses, em todas as cidades onde estamos presentes.”

Para o Metrópoles, o ParkShopping Multiplan lamentou profundamente o ocorrido e esclareceu que o vídeo foi gravado em local de suporte para trabalhadores das operações de entrega.

“Respeitamos todos os públicos que frequentam o ParkShopping e prezamos pela boa convivência e relacionamento cordial entre lojistas, colaboradores, prestadores de serviço, clientes e todos que circulam e trabalham no shopping”, informou o texto.

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