Sindicato dos policiais civis questiona criação de delegacia para combater racismo e intolerância religiosa
Apesar de o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) ter anunciado a unidade após um incêndio destruir o terreiro Ylê Axé Oyá Bagan, no Paranoá, Sinpol alega que a corporação não tem efetivo suficiente nem para atender à atual demanda
atualizado
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A fé de Rodrigo Rollemberg não é partilhada pelos policiais civis. O anúncio do governador de que criará uma delegacia especializada no combate aos crimes de intolerância religiosa e racismo não caiu bem entre o Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol). A afirmação do socialista foi feita no fim de semana, ao visitar o terreiro Ylê Axé Oyá Bagan, no Paranoá. O espaço foi incendiado na sexta-feira (27/11) e há suspeita de que tenha sido criminoso. O sindicato defende rigor na apuração, mas alega que só com um milagre será possível instalar nova unidade sem reforçar o quadro pessoal.
Metrópoles Presidente do Sinpol, Rodrigo Franco alegou que a decisão é completamente inviável no momento. “Hoje, não há policiais suficientes para a criação de uma delegacia, qualquer que seja ela. Nós já trabalhamos no limite dos nossos recursos humanos, com uma defasagem de até 50% no quadro atual”, explicou ao . O quadro da Polícia Civil, segundo a entidade, é de cerca de 4,8 mil policiais.
Quando se cogita tirar um policial de uma delegacia e colocá-lo em outra, a única possibilidade é trocá-lo com outro agente. Para criar uma delegacia, são necessários pelo menos 40 policiais para que as portas fiquem abertas. Vai tirar de onde?
Rodrigo Franco, presidente do Sindicato dos Policiais Civis do DF
Cargos vagos
Segundo o sindicato, há cerca de 4 mil cargos vagos na Polícia Civil atualmente. São 430 aprovados no último concurso que ainda aguardam a convocação. “Neste ano, cerca de 500 policiais se aposentaram. Para o próximo ano, a previsão é de pelo menos mais 500 novas aposentadorias. O atual governo deu posse para apenas 48 novos policiais. Cerca de 430 aprovados no concurso de 2013 já concluíram o curso da Academia de Polícia Civil e já estão aptos a começarem o trabalho imediatamente. A governança do GDF impede sua contratação alegando a Lei de Responsabilidade Fiscal.”
Apesar do déficit de policiais indicado pelo sindicato, Rollemberg garantiu que a criação da unidade estava entre as medidas a serem tomadas como combate à intolerância religiosa no DF. Ao definir o caso investigado pela Polícia Civil como “inadmissível”, o governador anunciou que determinaria ao diretor-geral da Polícia Civil, Eric Seba, que fosse criada a unidade.
A reação do sindicato foi rápida. Um artigo escrito pelo diretor do Sinpol afirmou que o efetivo atual não é suficiente nem para manter os plantões nas delegacias. “Delegacias circunscricionais têm mantido seus plantões de 24 horas com apenas três ou quatro policias. Entre as consequências, estão a sobrecarga de trabalho, adoecimento dos agentes e atendimento precário. Também há reflexos na demora de um simples registro de ocorrência e, o pior, o atraso no início das investigações e prisão dos criminosos”, afirma o texto.
Em nota, a Divisão de Comunicação da Polícia Civil (Divicom) afirmou que a corporação já começou os estudos para viabilizar a implantação da unidade.”A Direção da PCDF informa que está ultimando estudos no sentido de fazer uma reestruturação administrativa e criar a delegacia especializada na investigação dos crimes de intolerância religiosa, racismo e contra as minorias. A referida unidade será criada o mais breve possível, logo após a conclusão dos trâmites legais. Importante esclarecer que os referidos crimes já são registrados e apurados pelas delegacias circunscricionais”, esclareceu.
Incêndio
O incêndio que destruiu o terreiro liderado por Mãe Baiana começou durante a madrugada. Todos os santos foram queimados, e o barracão ficou destruído. A 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá) investiga as causas do incêndio e não descarta que tenha sido criminoso.