1 de 1 Raio X – Rodoviária do PLano Piloto
- Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles
Desde sua inauguração, há quase 58 anos, a Rodoviária do Plano Piloto é uma ferida aberta no centro da capital do Brasil. Localizado a 2,8km do Palácio do Buriti, sede do Executivo local, o principal terminal de ônibus do Distrito Federal tem problemas crônicos e oferece risco iminente a quem passa por ali: um segundo de descuido pode ocasionar graves acidentes em buracos no piso e fiação elétrica exposta. O ponto de cruzamento dos eixos Rodoviário e Monumental da cidade é um canteiro de obras que parece inacabável.
Nesta quarta reportagem da série DF na Real, o Metrópoles aborda os problemas da rodoviária. Nas outras três matérias, os temas foram, respectivamente, saúde, segurança pública e educação. Em cada edição, os 11 candidatos ao Governo do Distrito Federal (GDF) são questionados sobre o que pretendem fazer, caso eleitos, para solucionar as principais mazelas afetando a capital.
Cerca de 700 mil pessoas circulam pela Rodoviária do Plano Piloto todos os dias. Aos olhos delas, saltam diversos problemas estruturais, no chão, nas paredes e no teto. A reportagem percorreu o terminal na quarta (22/8) e quinta-feira (23). Nos dois dias, notou banheiros danificados, escadas rolantes e elevadores quebrados, além de aberturas no piso e fios expostos.
À noite, o local vira ponto de moradores de rua, que buscam abrigo para varar a madrugada. As pessoas dormem tanto na plataforma quanto nas imediações.
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Fiação exposta oferece risco para quem caminha pela Rodoviária do Plano Piloto
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Pedestre, por pouco, não cai em buraco próximo a uma faixa de pedestres
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Fendas foram tapadas com chapas de MDF
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Fios cruzam pilastras do local
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Eles pendem do teto no segundo andar
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Também estão expostos em paredes e ao alcance de crianças
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Hidrante está tapado com pedaço de plástico
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Na plataforma superior, fios elétricos estão desprotegidos e à mostra
Os obstáculos representam maior perigo às pessoas com deficiência. “Tenho medo de cair, porque há muitos obstáculos. Por várias vezes, já passei perto de me acidentar”, conta o massoterapeuta cego Luciano Ferreira Martins, 34 anos. Ele caminha com auxílio de bengala.
“Além disso, ficamos desorientados porque falta piso tátil”, reclama. A maior parte do chão da rodoviária não é coberta por esse recurso, cujo objetivo é orientar pessoas com baixa ou nenhuma visão.
Os idosos também integram o grupo dos mais vulneráveis à degradação da rodoviária. O aposentado Francisco Galdino, 81 anos, anda por lá ao menos uma vez por semana. Para acessar a plataforma superior, ele tem de superar as limitações físicas decorrentes da idade e galgar 56 degraus.
Preciso me apoiar em corrimão para subir, devagar, quando as escadas rolantes estão com defeito. Minha condição não é a mesma de quando eu tinha 20 anos. De vez em quando nos atropelam na escada comum, quando o fluxo é alto
Francisco Galdino, aposentado
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Outro problema do terminal é a concentração de moradores de rua
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À noite, eles usam o piso da rodoviária e as imediações para dormir
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O mau funcionamento das escadas rolantes é antigo. Em 2014, elas ficaram paradas por 95 dias, por causa de degraus amassados e entradas de corrimão quebradas, segundo a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap). No ano passado, o número saltou para 110, ou seja, equivalente a quase quatro meses.
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Aos 81 anos, Francisco Galdino tem de recorrer aos degraus comuns por causa de recorrentes defeitos nas escadas rolantes
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Funcionário faz manutenção em um dos elevadores
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O recurso poderia auxiliar pessoas com dificuldade de locomoção
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Escada rolante é interditada para manutenção
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Equipamentos passam por reparos – cenário é comum na Rodoviária do Plano Piloto
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Improviso
Os banheiros da rodoviária também apresentam aspecto de abandono. Eles têm permanecido limpos na maior parte do tempo. Em todos, porém, há portas de cabines com fechaduras danificadas. Uma delas, inclusive, foi “trancada” por um dos funcionários da limpeza com nó feito em um pedaço de plástico.
Os trabalhadores também colocam vasilhames sob mictórios defeituosos, para aparar a urina, um problema já mostrado em outra reportagem do Metrópoles, publicada em junho deste ano. Além disso, há buracos no teto. Faltam ralos no piso, e nas pias há saboneteiras quebradas. “Nós temos privacidade zero nas cabines, não há como fechar algumas delas”, reclama o comerciante Reginaldo Xavier, 37 anos.
Quem sai dos banheiros na plataforma superior depara-se com, pelo menos, 10 aparelhos de ar-condicionado no teto. Os equipamentos não estão completamente montados, mas já despertam indignação dos frequentadores do terminal, pois, a cerca de 50 metros dali, há escadas rolantes que constantemente ficam danificadas.
“Acho que a rodoviária tem problemas mais sérios, com os quais o governo deve se preocupar em vez do calor”, diz o aposentado Adonas Teixeira Neres, 64. Por causa de ferimentos na perna direita, causados por ataque de cachorro, ele caminha com dificuldade. Teve de superá-la para acessar a plataforma superior por degraus, devido à inoperância de uma escada rolante.
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Porta de cabine em um dos banheiros femininos não tem fechadura
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Usuários reclamam de falta de privacidade no local
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Em um dos banheiros masculinos, a fechadura foi improvisada com pedaço de plástico
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No local, há ralos destampados
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Além disso, alguns mictórios estão entupidos. Recipientes abaixo deles aparam a urina que vaza
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Nas pias, os defeitos estão em saboneteiras
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Pelo menos 10 aparelhos de ar-condicionado estão instalados e montados de forma incompleta no segundo pavimento do terminal
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Obras eternas
As reformas na Rodoviária do Plano Piloto parecem infindáveis. As obras começaram em 2014 e, até hoje, não solucionaram os problemas estruturais do terminal. A licitação ocorreu no último ano da gestão do ex-governador Agnelo Queiroz (PT) e previu investimentos da ordem de R$ 36,5 milhões. A quatro meses do encerramento do seu mandato, Rodrigo Rollemberg (PSB) utilizou somente R$ 11,8 milhões do recurso – 32% do valor orçado.
Segundo a Novacap, a reforma deve terminar em junho de 2019 e prevê a correção dos problemas no piso, teto e instalações elétricas, hidráulicas e sanitárias. A obra também tem, de acordo com a companhia, objetivo de aprimorar a sinalização de acessibilidade, recuperação de calçadas e drenagem interna de águas pluviais.
Sobre os banheiros, a empresa pública informou que foram entregues na primeira fase da obra e o local “sofre com vandalismo”. O órgão também atribuiu o mau funcionamento de escadas rolantes e elevadores à depredação causada pelos usuários.
Veja as propostas dos buritizáveis para reformar a Rodoviária do Plano Piloto:
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Eliana Pedrosa (Pros): "Houve uma reforma na rodoviária que prometia padrão de aeroporto para o terminal. Foram gastos milhões e nada efetivamente mudou. No nosso governo, faremos do centro de convergência do Brasil um lugar justo e digno. As pessoas vão efetivamente se sentir valorizadas na rodoviária, um dos símbolos da nossa capital"
Filipe Cardoso/Especial para o Metrópoles
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Rodrigo Rollemberg (PSB): "A rodoviária não está abandonada. As obras de recuperação e revitalização somam R$ 36,5 milhões. O contrato de manutenção de escadas rolantes e elevadores está em vigência e os banheiros foram reformados. A parte elétrica está sendo substituída e tapumes cobrem as obras em execução. Continuaremos investindo para melhor a vida da população."
Rafaela Felicciano/Metrópoles
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Alberto Fraga (DEM): "Quero reformar toda a rodoviária, começando pelos banheiros, velhos e sempre interditados. Toda a parte elétrica deverá ser renovada, pois os fios estão expostos, colocando em risco a vida das pessoas. As escadas rolantes precisam ser avaliadas e, se necessário, substituídas, com manutenções regulares. O piso também precisa passar por manutenção"
Michael Melo/Metrópoles
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Rogério Rosso (PSD): "Notamos o desprezo do atual governo com a população a cada vez que vamos à Rodoviária do Plano Piloto e vemos milhares de pessoas utilizando [o terminal] sem estrutura digna. No meu governo, as escadas rolantes funcionarão e vou modernizar a rodoviária, que está em ponto turístico privilegiado na capital"
Michael Melo/Metrópoles
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Ibaneis Rocha (MDB): "A rodoviária é um retrato do abandono de todo o Distrito Federal e um símbolo do descaso com que o governo trata a população. Só uma grande reforma, modernizando tudo, com obra realmente de qualidade, pode resolver esse problema. As empresas instaladas na rodoviária terão de participar da conservação do local. Quem passa por lá merece ser tratado com conforto e pontualidade"
Filipe Cardodo/Especial para o Metrópoles
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Alexandre Guerra (Novo): "Há pelo menos 20 anos, assisto a reformas na rodoviária, e os problemas não são resolvidos. Vazamentos no teto da plataforma inferior são tão frequentes que parecem fazer parte do projeto original. É simplesmente ridículo que não tenha sido feito diagnóstico decente dos problemas da estação rodoviária e não se tenha apresentado uma solução. Vamos dar atenção para recuperar essa área"
Hugo Barreto/Metrópoles
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Antônio Guillen (PSTU): "O grande problema das creches é a falta de investimentos públicos para construção de novas unidades e de concursos para contratação de profissionais de educação. Cidades como a Estrutural não possuem nenhuma creche pública. Atualmente, o GDF entrega para administração do setor privado creches que foram construídas com dinheiro público. Somos contra esse modelo, defendemos uma gestão 100% estatal da rede de educação pública do DF. Com o fim da política de isenção fiscal às grandes empresas e arrecadando dos grandes empresários a dívida ativa do GDF, que está na casa de R$ 31 bilhões, teremos verbas para construir mais unidades, nomear os aprovados do último concurso e realizar novos concursos para a educação"
Michael Melo/Metrópoles
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Fátima Sousa (PSol): "Nosso plano de investimentos para geração de empregos prevê a recuperação de infraestruturas públicas, e a rodoviária está entre elas. Mas a posição no cronograma de obras depende de um diagnóstico prévio. Tudo indica que a rodoviária será uma das primeiras obras, já nos primeiros meses de governo"
Hugo Barreto/Metrópoles
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Júlio Miragaya (PT): "A rodoviária é o equipamento público mais acessado pela população. A reforma dela será prioridade no meu governo. Respeitando seu tombamento como parte do patrimônio arquitetônico da cidade, iremos transformá-la num ambiente tão acolhedor, confortável, seguro e eficiente como são os aeroportos. Assim, garantindo à população o tratamento que ela merece. Porque é o PT que cuida do povo"
Filipe Cardoso/Especial para o Metrópoles
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Procurado pelo Metrópoles, o candidato Paulo Chagas (PRP) não se manifestou até a publicação desta reportagem
Hugo Barreto/Metrópoles
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Renan Rosa (PCO): "A questão da deterioração do patrimônio público está intimamente ligada à utilização dos recursos do Estado para atender os interesses privados, particularmente o grande capital parasitário. Essa situação tem se agravado exponencialmente. Apenas a luta da população pelo atendimento dos seus reais interesses pode colocar o patrimônio público a serviço da maioria esmagadora do povo"
Michael Melo/Metrópoles
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