Seu bolso: óleo de soja sobe 99,23% e puxa alta de preços no DF
Quem vai às compras está sentindo a escalada nos preços, em percentuais que superam, em muito, a inflação medida pelo IBGE em 12 meses
atualizado
Compartilhar notícia
Quem vai às compras no Distrito Federal está sentindo no bolso a escalada dos preços, acentuada após o início da pandemia do novo coronavírus. Os valores têm superado, em muito, a inflação oficial medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em alguns casos, a variação é estratosféria em apenas 12 meses, chegando a 99,23%, caso do óleo de soja.
O Metrópoles levantou a variação no preço de produtos essenciais pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nos últimos 12 meses, quando a inflação oficial no DF acumulada ficou em 6,86% entre maio de 2020 e abril de 2021.
O arroz, por exemplo, item que integra a cesta básica, registrou alta de 63,84% no período. O tradicional feijão preto ficou 36,04% mais caro. O preço do coxão mole subiu 40,21%; do acém, 40,76%; e a carne de porco aumentou 44,77%.
Os reajustes bem acima da inflação não tiveram impacto apenas no carrinho do supermercado. O preço da gasolina disparou. A alta em 12 meses foi de 55,04%. Quem precisou trocar o pneu do veículo também teve que se virar para equilibrar o orçamento; o aumento chegou a 41,10%.
Confira abaixo os produtos que mais aumentaram de preço no DF:
A fisioterapeuta Viviane Leoncy, 46 anos, observou o aumento dos preços na prática. A moradora do Guará gastava, em média, R$ 300 no supermercado. Agora, a conta não sai menos de R$ 500. Para fugir dos reajustes, a família de Viviane passou a comprar carne em açougues e casas de churrasco para evitar os valores dos varejos e supermercados.
A despesa com o carro também subiu: “Antes, gastava R$ 120 por semana. Agora, desembolsa R$ 200. Um absurdo”.
A designer Natália Gallo, 21 anos, se revoltou com o preço dos produtos em sua última compra. A artista pagou R$ 30 no saco de arroz. Ela ressalta que seus gastos quase dobraram no supermercado, mesmo comprando a mesma quantidade de itens.
“Existe uma dificuldade para jovens recém inseridos no mercado de trabalho, sobrevivendo a gastos tão exorbitantes”, declara a jovem, que mora com a namorada Camila Marinho, 24. “Nós conseguimos nos virar melhor porque somos duas e trabalhamos. Senão, seria bem mais difícil”, completa.
Vivendo de vender marmitas, Eleusa Guimarães, 38, enfrenta dificuldades para se manter no negócio. “O preço dos alimentos básicos subiu demais. Se a gente repassar para nossos clientes, eles não compram mais. Não sei por quanto tempo mais vou ficar nesse ramo”, desabafa.
Sacrifícios
“Alguns grupos de produtos mais consumidos ou mais importantes foram os que tiveram maior aumento. Aí já se pode constatar o sacrifício das famílias brasilienses. Mas isso é mais significativo quando a gente leva em conta o alto índice de desemprego, o que faz com que a situação se agrave ainda mais”, ressalta o economista e professor da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Piscitelli.
Na avaliação do Presidente do Conselho de Economia do DF, César Bergo, as variações são alarmantes. O combustível, que participa do transporte de todos os produtos de alimentação, foi, para ele, um grande catalisador do aumento geral de preços: “Com a inflação não se brinca. Ela se faz de morta e, de repente, reaparece com força, afetando as camadas de menor renda”.
A mestre em Economia Vivileine Maria Peres reconhece que fica difícil tentar equilibrar o orçamento. “O impacto no consumidor será mais alto na proporção da dificuldade de adaptar hábitos de vida. Se o consumidor deixar de consumir acém e coxão mole e passar a comer mais ovos ou mesmo outros cortes bovinos com menor variação, conseguirá uma diminuição de impacto no seu orçamento doméstico”, afirma.
Entretanto, ela pondera que nem sempre essa adaptação é viável. Querendo fugir do aumento do combustível, por exemplo, o consumidor que escolher ir para o trabalho de transporte público ou de bicicleta também sofrerá impacto, pois os reajustes ocorrem em cascata na cadeia produtiva.