Sesi-DF paga R$ 4 milhões em salários por ano a apenas três empregados
Desde 2017, a Fibra tenta demitir os sindicalistas, mas Justiça os reintegra. Os salários são de R$ 72 mil, R$ 41 mil e R$ 30 mil por mês
atualizado
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Há três anos, o Serviço Social da Indústria (Sesi) tenta demitir três pessoas com supersalários dentro do sistema, mas não consegue. Desde 2017, já na gestão do atual diretor, Jamal Bittar, foi aberto um processo na Justiça para a demissão de Paulo Sérgio Pereira, que recebe salário mensal de R$ 72 mil; de sua ex-esposa Aldair Roberta de Oliveira, com remuneração de R$ 42,3 mil; e do irmão dela, Alair Roberto de Oliveira, que tem vencimentos de R$ 33,1 mil.
Por mês, o trio ganha, no total, R$ 144 mil, gasto que vai a R$ 4 milhões por ano quando são aplicados 13º, encargos e outros diversos penduricalhos acumulados ao longo de vários anos.
Nenhum dos três exerce função dentro do Sesi-DF. Eles são cedidos para o Sindicato dos Empregados em Entidades de Assistência Social e de Formação Profissional do Distrito Federal (Sindaf) há cerca de 15 anos. O primeiro registro de Paulo Sérgio, presidente da entidade, no Sesi-DF, é na função de garçom.
Após assumir o cargo no Sindaf, ele, a então esposa e o cunhado, no entanto, foram realocados em cargos de especialistas. Com baixo orçamento e dificuldade em pagar pelos serviços prestados à comunidade, o Sesi-DF tem trabalhado para cortar supersalários.
Somente os três funcionários são responsáveis por 8,6% de todo o orçamento do Sesi. “Essa turma está dependurada no sistema há muitos anos. Os salários deles não são da nossa gestão e vêm com a incorporação de horas-extras e uma série de outras vantagens. Desde 2017, conseguimos demitir os três por duas vezes, mas a Justiça os reintegra devido à imunidade sindical. Estou tendo que cortar programas importantes para a população carente a fim de atender esses parasitas”, criticou Jamal Bittar, que também preside a Federação das Indústrias do DF (Fibra).
“Estamos recorrendo dessa sentença. Se a decisão proferida pelo juiz Márcio Roberto Andrade Brito, no dia 19 de dezembro de 2019, for mantida, teremos que suspender as atividades oferecidas à comunidade (educação, saúde e lazer). Nosso pleito é oferecer garantias de pagamento até que a ação chegue ao final. Se pagarmos agora e a sentença for modificada em outras instâncias, nunca mais teremos como recuperar esse dinheiro”, disse o advogado Francisco Caputo, que representa a Fibra.
Justa causa
Como eles têm imunidade sindical, prevista na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), não podiam ser demitidos. Mas, segundo processo que corre na 8ª Vara do Trabalho de Brasília, em 2017, invadiram o Sesi e espalharam panfletos difamatórios. Além disso, pen-drives sumiram do local, o que originou um pedido de demissão por justa causa.
“É uma briga judicial. Agora, na última decisão, a Justiça determina o pagamento de R$ 1.607.006,17 adicionado de multa por atraso de R$ 15 mil a ser revertida somente ao garçom Paulo Sérgio Pereira. Se o Sesi for pagar isso, teremos que encerrar mais programas sociais”, lamentou Jamal Bittar.
O Sesi ajuda na capacitação de pessoas, tem a missão de manter a qualidade de vida do trabalhador e de seus dependentes, com foco em educação, saúde e lazer, além de estimular a gestão socialmente responsável da empresa industrial. O sistema é mantido com contribuição dos trabalhadores e empresas do setor industrial.
Outro lado
Hoje, Paulo Sérgio é presidente do Sindaf, que representa os trabalhadores do Sistema S, e está reintegrado desde o final de 2019. A ex-mulher dele e o ex-cunhado trabalham em home office devido à quarentena provocada pela Covid-19.
O advogado do Sindaf, que representa os três sindicalistas, Moisés Marques, conversou com o Metrópoles e fez uma série de apontamentos. Ele ressalta que o salário de um trabalhador não é definido pelos clientes, mas, sim, pelo seu empregador. “A responsabilidade não é do funcionário, mas dos gestores. Além disso, há uma perseguição contra a diretoria do sindicato”, afirmou.
Segundo Marques, o salário mais alto, de Paulo Sérgio, chega a R$ 72 mil porque ele foi demitido em 1993 sem justa causa. Como já tinha estabilidade por ser do sindicato, acabou readmitido. O passivo foi dissolvido em seu salário e, por isso, de acordo com o defensor, chega ao montante.
“Esse sindicato vem travando uma luta de denúncias de malversação de uso de recursos públicos por parte do presidente da Fibra. A perseguição começou em 2017, quando o sindicato soltou um jornal falando sobre os problemas na gestão. Houve uma queixa-crime e os pedidos de demissão por justa causa de 10 diretores”, ressalta o advogado.