Servidores são orientados a burlar sistema para simular revezamento de ambulâncias nas ruas do DF. Veja prints
Segundo servidores públicos, chefias pediram o registro de ambulâncias paradas quando equipes trabalham com unidades em funcionamento no DF
atualizado
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Como estratégia para omitir que ambulâncias do Serviço Móvel de Urgência (Samu) estão afastadas das ruas, chefes de equipes têm orientado os funcionários a simular o uso das viaturas. Segundo servidores, alguns coordenadores determinaram o revezamento na marcação dos veículos que saem e voltam para a garagem após o atendimento, para disfarçar o número de carros quebrados. Entregue há menos de 5 meses, mais da metade das viaturas novas está parada.
O Metrópoles teve acesso às orientações enviadas às equipes via WhatsApp. Uma troca de mensagens entre servidores do Gama e de Santa Maria mostrou a prática. “Bom dia! Equipe Santa logar e trocar placa de VTR (viatura) para UBS Santa 2* Grata”, digitou a coordenadora. “Só para ressaltar. Segunda, quarta e sexta: Santa 1. Terça, quinta, sábado e domingo: Santa 2.”, completou.
Veja as mensagens:
Servidores denunciam que, quando uma equipe deixa a base do Samu para socorros, ela registra a ambulância no sistema. De acordo com os profissionais de saúde, neste revezamento, a chefia solicitou o registro de ambulâncias que estão paradas, para simular que todos os veículos estão em funcionamento padrão.
O Metrópoles conversou com servidores que pediram anonimato a fim de evitar perseguições. “A chefia pediu para as equipes ativarem a viatura que está quebrada neste dia. Montou um calendário de revezamento para dar o entendimento de que não existe viatura quebrada na região”, detalhou um servidor
Outro profissional de saúde avançou na explicação. “Isso é para enganar o sistema. Ele pensa que a viatura 1 hoje atendeu pacientes e amanhã viatura 2 estaria atendendo. Ou seja, as duas vem produzindo, quando só uma está”, comentou. Ao final das conversas pelo Whatsapp, a única viatura em operação na região no período quebra. E as equipes são direcionadas para outra área.
Ministério da Saúde
Em 2022, o Ministério da Saúde enviou ambulâncias novas para o DF. No entanto, por falta de seguro, os veículos ficaram por meses parados. Após denúncias, a Secretaria de Saúde resolveu imbróglio, ao final de dezembro. A pasta faz repasses mensais ao DF para cada ambulância em atividade. Por isso, o registro de operação é importante.
Segundo os servidores, atualmente o Samu tem 30 viaturas básicas. Deste total, 15 estão quebradas. O serviço conta com 8 avançadas, com suporte de médicos. Entre elas, seis estão quebradas. Parte está estacionado no galpão da Secretaria de Saúde e outras estão espalhadas em concessionárias particulares.
Outro lado
A Secretaria de Saúde disse que não observou problema na prática do revezamento de registro. Por nota, justificou: “O login é o controle usado em cada ambulância para registro da equipe que está atuando, assim como os dados do usuário em atendimento, para controle da central de regulação médica em urgência”.
Segundo a pasta, o contrato de manutenção venceu no começo do ano e um novo foi assinado nesta semana. As ambulâncias deverão começar a ser recuperadas na próxima semana. O Metrópoles também entrou em contato diretamente com a chefia da região e a direção do Samu.
A SES-DF destacou que a atuação do serviço segue vinculada ao “compromisso de cobertura populacional”. Diariamente e em todos os plantões, segundo a pasta, há um “controle rigoroso” do processo, de modo a equalizar os “recursos móveis disponíveis à população, garantindo o acesso e cumprindo a um dos princípios norteadores do SUS [Sistema Único de Saúde]”.
“A produtividade de todas unidades móveis é registrada no sistema de regulação do Samu, vinculada à atividade de uma central. Nesse sentido, é impossível omitir a quantidade de viaturas ativas tanto quanto ‘simular’ o uso das viaturas. A cada plantão, todas as unidades são confirmadas no sistema, inclusive a equipe de plantão e o furgão (ambulância) em uso, pois a frota está a serviço do Samu e pode ser mobilizada conforme a necessidade, o que inclui reservas técnicas”, comunicou a secretaria.