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Servidores recolhem corpos em necrotérios do DF sem proteção adequada

O Metrópoles acompanhou auxiliares sociais em um dia de trabalho e constatou a precariedade do serviço prestado na remoção de cadáveres

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
enterro solidário
1 de 1 enterro solidário - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Falta de luvas, sem máscaras e roupas de proteção, mau-cheiro e descaso. É nesse ambiente que trabalham os funcionários lotados no Serviço Social Funerário. Eles são responsáveis por recolher nos necrotérios dos hospitais públicos corpos de pacientes que morreram cujas famílias não têm condições de pagar por um enterro. O esforço de dar um fim digno a essas pessoas, amparando seus familiares, coloca a saúde dos servidores em risco, já que estão vulneráveis à contaminação.

O Metrópoles acompanhou por dois dias o trabalho desses auxiliares sociais, como são chamados. A primeira impressão choca. Num mesmo galpão da Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Sedest), localizado no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), centenas de caixões amontoados dividem espaço com cestas básicas que serão distribuídas pelo governo aos beneficiários de programas sociais.

Sem qualquer tipo de treinamento, os auxiliares transportam até 12 corpos por dia. O serviço começa com a remoção dos corpos e só termina após o sepultamento. Os servidores não recebem, sequer, luvas para trabalhar. Elas são dadas nos hospitais que percorrem. A situação é grave, já que não raras vezes eles entram em contato com sangue e com o chorume que escorre dos corpos.

“A roupa que eu saio de casa é a mesma que eu entro no Instituto Médico Legal (IML) ou na câmara mortuária dos hospitais. Levamos corpos em decomposição nos carros e, muitas vezes, desce chorume dos caixões. O cheiro é insuportável. Ninguém limpa esses carros”, desabafa uma das funcionárias, que com medo de represálias pediu para não ser identificada na reportagem.

 

Veja o vídeo:

 

Ela também relata que em uma das vezes, ficou com as mãos sujas de fezes ao tentar trocar a roupa de um cadáver, já que a família está emocionalmente abalada e não consegue preparar o corpo para o enterro.

Trabalho há mais de 20 anos como auxiliar social e posso relatar que falta tudo. Desde apoio financeiro, até materiais básicos para trabalhar. Temos contato direto com os cadáveres. Tem colegas que já foram infectados por bactérias

Desabafo de um auxiliar social

Sem proteção
Segundo o Sindicato dos Servidores da Assistência Social e Cultural do Distrito Federal (Sindsasc), a falta de condições mínimas de trabalho começa pela ausência de equipamentos de proteção individual (EPIs), passa pela sujeira dos carros funerários – que há cerca de um ano não são higienizados – e chegam até a contaminação de funcionários por contato biológico com cadáveres.

“A exposição a agentes biológicos é considerada fator de insalubridade e acarreta risco para a saúde do trabalhador”, destaca Clayton Avelar, presidente do Sindsasc. De acordo com ele, a lei garante o uso dos equipamentos de proteção individual e os servidores não estão usando porque o governo não disponibiliza.

 

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Segundo denúncia, carros funerários não foram higienizados nenhuma vez em 2016
Agentes sociais carregam os caixões até o veículo
Cadáver aguardando remoção
Familiares ajudam agentes sociais na transferência dos corpos
Sinais de abandono no depósito
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Caixões dividem espaço com cestas básicas no depósito da Sedest

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Segundo denúncia, carros funerários não foram higienizados nenhuma vez em 2016

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Agentes sociais carregam os caixões até o veículo

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Cadáver aguardando remoção

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Familiares ajudam agentes sociais na transferência dos corpos

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Sinais de abandono no depósito

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A falta de condições de trabalho também é comprovada no quantitativo reduzido de servidores. Muitas vezes, os familiares dos mortos precisam carregar os corpos e colocá-los nos caixões. Quando procurou o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) para solicitar o benefício, o padeiro Mário Wilson Faria, de 57 anos, que enterrou sua mulher na última semana, não imaginava que teria que transferir a esposa do necrotério para o caixão.

“A gente é orientado a ajudar, mas foi além do que eu podia esperar. Este é um momento que estamos fragilizados. Nós pagamos um imposto caríssimo para recebermos serviços tão precários. Uma realidade que não gostaríamos de passar. É complicado”, disse.

Benefício
O enterro social é um benefício garantido às famílias que não têm recursos para pagar as despesas do sepultamento. As famílias que têm direito a este serviço são aquelas sem rendimento, ou com renda per capita de até um salário mínimo ou que se encontram em limitação pessoal e social.

Caso estejam em alguma dessas situações, devem se dirigir até o Centro de Referência de Assistência Social mais próximo e apresentar documentos necessários: guia de enterro, certidão de óbito, documentos de identificação própria e de identificação do falecido.

Os sepultamentos sociais gratuitos têm as covas concedidas por somente cinco anos para adultos e três para crianças. Após esse prazo é feita a exumação dos corpos. As covas são coletivas, divididas em três gavetas.

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Sedest), responsável pelo serviço,  por diversas vezes e não obteve retorno até a publicação desta matéria.

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