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Servidora da saúde denuncia bombeiro à Corregedoria do CBMDF

Militar torceu braço de profissional após divergência em hospital. Caso também é investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal

atualizado

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Material cedido ao Metrópoles
braço de mulher inchado
1 de 1 braço de mulher inchado - Foto: Material cedido ao Metrópoles

Uma das servidoras da Secretaria de Saúde agredidas esta semana no Distrito Federal, Rosângela Mendes denunciou o caso à Corregedoria do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) nessa quinta-feira (23/6). A mulher teve o braço torcido por um cabo da corporação, na última segunda-feira (20), por divergências em protocolo de atendimento.

Tudo começou quando uma equipe dos bombeiros levou uma mulher em trabalho de parto e o marido ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC), por volta das 22h. A ocorrência foi atendida pela enfermeira de plantão da unidade de saúde. A profissional constatou que a mulher não poderia ser atendida no HRC, pois portaria que regulamenta o atendimento a grávidas estabelece que o parto deve ser feito na mesma unidade de saúde do pré-natal.

Por falta de médico, servidora apanha de paciente em UBS da Ceilândia

“Onde a gestante faz o pré-natal é que tem que ganhar o neném, ela [a paciente] fez em Taguatinga. A cidade referência de Taguatinga é Samambaia, e não Ceilândia. Quando o subtenente [do CBMDF] chegou, isso foi explicado pela enfermeira, mas ele não aceitou e pediu pra chamar a chefe da equipe”, explicou Rosângela, que é técnica administrativa e comandava a equipe naquela noite.

A servidora explicou a mesma coisa aos militares e pediu que eles levassem a paciente para Samambaia. “Quando me virei para sair da sala, ele [o subtenente] virou pro esposo da paciente e disse que ia deixar eles lá. Eu escutei aquilo e falei que ele não poderia fazer isso, o paciente era responsabilidade dele, não pode largar assim. Ele respondeu: ‘Então, estou te dando voz de prisão por desacato’. Eu pensei que era brincadeira, não o desrespeitei em nenhum momento e respondi que também dava voz de prisão para ele”, narrou a mulher.

Depois disso, a servidora se virou para sair da sala novamente, quando o subordinado do subtenente tentou segurar Rosângela e torceu o braço da mulher. O momento da confusão chegou a ser gravado em vídeo, pois a servidora começou a gritar por ajuda e pediu para que alguém da equipe registrasse o episódio. No entanto, não há imagens das agressões, apenas dos bombeiros que observam a cena.

Veja a gravação do momento em que servidora é agredida:

Outro vídeo, gravado depois de toda a confusão, mostra a servidora, já com o braço machucado, e a médica de plantão tentando explicar à equipe do Corpo de Bombeiros o regulamento. “Eu a atendi porque não nego atendimento […] mas ela não está com necessidade de internação agora e não é a referência dela aqui”, explicou a profissional de saúde aos militares.

Em seguida, Rosângela citou a legislação que impedia a mulher de ser atendida no HRC, a Portaria nº 1.321 de 2018.

A regra estabelece que, “sobre o processo de vinculação entre a gestante/parturiente de risco habitual e seu hospital de referência, admite-se que […] a vinculação deve ocorrer prioritariamente a partir do local em que essa realizou o pré-natal”.

Veja servidora e a médica explicando regulamento a bombeiros, depois de agressão:

Apesar de seguir o regulamento estabelecido, a técnica administrativa foi levada à 15ª Delegacia de Polícia, responsável pelos flagrantes feitos em Ceilândia. Revoltada, a servidora não aceitou ser conduzida por PMs no cubículo destinado aos criminosos presos em flagrante. Outra gravação feita pelos colegas de Rosângela mostra o bate-boca.

“Pode abrir, eu quero ir atrás, eu sei que eu tô certa, olha como está o meu braço”, protesta a servidora da Saúde. “O lugar onde a gente vai levar quem vai decidir é nois [sic]”, rebate o policial militar. Apesar disso, no fim, os militares cedem, e a mulher é levada à DP na parte de trás da viatura.

Servidora é levada à delegacia em camburão da PMDF:

Humilhação

“Sinto-me muito triste, porque lido com os bombeiros muito bem. Sempre resolvemos tudo conversando, com harmonia, nunca imaginei em toda a minha vida isso acontecer. Foi muito humilhante, muito vergonhoso, me sinto muito humilhada, até hoje não voltei para o hospital”, desabafou Rosângela. “Nunca passei por uma situação de agressão, ainda mais por homem. Por Deus, foi a primeira vez que um homem me agrediu na minha vida”, lamentou a mulher, emocionada.

A revolta de Rosângela aumentou ainda mais quando ela chegou à 15ª DP e, segundo conta, os agentes se negaram a registrar ocorrência por agressão. O boletim confeccionado foi de omissão de socorro, sendo que a mulher ficou como autora do suposto crime. O subtenente que deu a voz de prisão, Florisvaldo da Silva, e o cabo que a agrediu fisicamente, Paulo Henrique de Almeida Gonçalves, constam no registro como testemunhas.

Em vídeo que circula nas redes sociais, a servidora conta o ocorrido e lamenta o tratamento dado pelos policiais. “Hoje, eu fui ver a ocorrência e está lá omissão de socorro. Pedi diversas vezes que queria registrar ocorrência de agressão física, e ninguém me deu ouvidos. A paciente foi atendida na unidade, gente, eu que fui agredida, só porque eu sou negra e, aí, não pude registrar a ocorrência”, queixou-se a mulher, chorando.

Servidora lamenta tratamento dado pelos órgãos de segurança:

Nova ocorrência

A situação mudou quando a ocorrência seguiu para a 23ª Delegacia de Polícia (P Sul, em Ceilândia), a unidade que vai investigar o caso. O delegado dessa unidade ligou para a chefe de Rosângela e pediu para ela ir à delegacia prestar novo depoimento. Desta vez, como vítima.

“Depois de segunda-feira, eu fiquei com tanto medo que jurei nunca mais voltar em delegacia, mas, dessa vez, me trataram muito bem e, finalmente, consegui registrar a ocorrência como agressão”, comemorou a servidora. A nova ocorrência foi registrada na quarta-feira (22).

Com o documento, a vítima abriu processo administrativo na Corregedoria do CBMDF para apurar a atuação do subtenente e do cabo envolvidos na ocorrência. Nesta quinta, o delegado da 15ª DP ligou para a mulher e pediu desculpas pelo ocorrido na segunda-feira.

Outro lado

A reportagem pediu para o Corpo de Bombeiros comentar o ocorrido no Hospital Regional de Ceilândia. A corporação informou que orientou as servidoras a registrar o caso na Corregedoria, o que foi feito pelas profissionais.

“O CBMDF recebeu as informações referentes ao ocorrido no hospital da Ceilândia. Orientou as servidoras a encaminharem os relatos ao corregedor do CBMDF. Ressaltamos, ainda, que haverá uma rigorosa apuração dos fatos”, destacou a corporação.

Protesto

As agressões à servidoras lotadas em unidades de saúde motivaram um protesto nessa quinta. Com o lema “A saúde pede socorro”, os manifestantes levaram cartazes para o ato na Unidade Básica de Saúde 9 (UBS) de Ceilândia, no P Sul. Foi nesta UBS que uma técnica de enfermagem foi agredida nessa quarta-feira (22).

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