Serviço público paga até 77% a mais que a iniciativa privada no DF
Salário pago pelos governos federal e distrital é um dos principais atrativos para milhares de concurseiros, ao lado da estabilidade
atualizado
Compartilhar notícia
A proposta da Reforma da Previdência pode ter antecipado a aposentadoria de muitos servidores que estão na ativa. As mudanças previstas, entretanto, não são suficientes para mudar os planos de quem sonha em conseguir passar em um concurso público. Além da estabilidade, o salário pago ao funcionalismo é um atrativo difícil de bater, principalmente no Distrito Federal. A remuneração do serviço público chega ser, em média, 77% maior do que a paga pela iniciativa privada.
O dado faz parte de um estudo realizado pelo doutorando em Economia do Setor Público da Universidade de Brasília (UnB) Thiago Mendes Rosa. Ele avaliou a diferença entre o que ganham os servidores públicos federais do DF, os concursados do GDF e os trabalhadores com carteira assinada. No caso dos salários pagos pela União, a diferença é maior: varia entre 54% e 77%. Levando em consideração apenas o funcionalismo público local, fica entre 50% e 57%.
Ainda segundo a pesquisa, que analisou números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério do Trabalho, se todos os funcionários do DF fossem remunerados com o mesmo valor que os trabalhadores da iniciativa privada, a despesa dos cofres públicos com o pagamento da folha de pessoal poderia ser reduzida em 50%.“No Distrito Federal, a questão de gastos com pessoal aumentou muito nos últimos anos. Precisamos deixar o debate para a sociedade: o quanto ela está disposta a pagar para que o Estado sustente o funcionalismo público?”, questiona Rosa.
Ao analisar as remunerações, o doutorando apontou que o abismo salarial teve seu ápice em 2015. O levantamento analisou remunerações para trabalhadores da mesma faixa etária e de tipos de funções semelhantes, apesar de pontualmente haver disparidades maiores, como aponta o gráfico abaixo.
A discussão vem à tona no momento em que o governo local tenta acabar com algumas regalias do funcionalismo público, como os supersalários.
Como o Metrópoles mostrou, na Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) há uma revisora com salário de R$ 57.054,64 e um diretor na Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap) chega a ganhar R$ 54.204, 45. A mesma história se repete em outras empresas como na Companhia Energética de Brasília (CEB) e na Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), com vencimentos mensais que ultrapassam os R$ 100 mil.
Para o economista e pós-doutor em administração José Matias Pereira, neste momento de crise a diferença de salário entre os setores público e privado fica ainda maior, o que pode começar a mudar quando o país voltar a crescer. No entanto, segundo o especialista, mais do que o contracheque é preciso discutir a produtividade dos servidores públicos.
Apesar dos questionamentos sobre o número de servidores, os valores gastos para manter o pessoal e até mesmo a diminuição dos concursos, há ainda muitas pessoas que têm como objetivo de vida conquistar uma vaga no funcionalismo público. É o caso do brasiliense Ricardo Martins Maciel, 30 anos. Há mais de um ano, ele largou o emprego que tinha para se dedicar aos estudos.
“Claro que, em um período de crise como estamos passando, a estabilidade no trabalho pesa. Mas, logo em seguida, vem a questão do salário mesmo. Como eu sou advogado, se eu for trabalhar em um escritório em começo de carreira vou ganhar R$ 3 mil, enquanto que um concurso simples, para nível médio, já paga R$ 4 mil”, argumenta.