Rollemberg chamará 65 delegados: penúltima vaga é da cunhada do filho
Laryssa Soares Neves é irmã da mulher de Ícaro Rollemberg, filho do governador do DF. Ela passou em 179º lugar no concurso de 2014
atualizado
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Na manhã dessa quarta-feira (14/3), Rodrigo Rollemberg (PSB) anunciou que, em 2018, chamará 2.252 aprovados em concursos, incluindo 65 novos delegados da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). Somando-se à última convocação para o cargo (115 aprovados), o reforço na corporação chegará a 180 servidores nas delegacias do DF. O número é suficiente para que Laryssa Soares Neves seja empossada. A advogada, aprovada em 179º lugar no certame de 2014, é cunhada de Ícaro Rollemberg, um dos filhos do governador.
Embora a convocação de servidores seja vista com bons olhos pelas forças de segurança, que frequentemente reclamam da carência de recursos humanos, futuros colegas de Laryssa estranharam o fato de as nomeações chegarem ao número necessário para o ingresso dela na PCDF.
Parece que foi tudo combinado. De repente, chamam mais 65 aprovados, sendo que já haviam convocado 115 – e, do nada, chegaram ao milagroso número de 180 novos delegados. Ou seja, apenas um convocado a mais que a posição dela no concurso. Isso é, no mínimo, estranho.
João*, concurseiro aprovado no certame de 2014 para delegado da PCDF
Presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Distrito Federal (Sindepo), Rafael Sampaio defende a necessidade de convocação dos profissionais, contanto que os atos não sejam fundamentados em favorecimento pessoal.
“Desde o início do governo, a gente reivindica as convocações, ainda mais porque 60% dos aprovados no último concurso deixaram a corporação. Nós precisamos da nomeação dos delegados que fizeram o curso de formação, mas não defendemos nenhum favorecimento”, afirmou. No fim de 2017, o DF tinha 362 delegados, e o deficit estava em 238 profissionais, segundo o Sindepo.
O Governo do Distrito Federal informou que “o número de convocados e os nomes deles são definidos por critérios estabelecidos pelo órgão gestor – no caso, a Polícia Civil – e pela disponibilidade de recursos”.
O diretor-geral da PCDF, Eric Seba, garantiu ao Metrópoles que não houve qualquer tipo de ingerência externa na convocação. De acordo com ele, as nomeações seguem “critérios objetivos”, como disponibilidade orçamentária (que define quantas vagas poderão ser preenchidas) e a necessidade de cada departamento.
“Gostaria de ter chamado todos, mas não temos recursos”, explicou Seba, afirmando que não teve sequer conhecimento da lista dos nomeados previamente: “Tudo foi feito pela Diretoria de Gestão de Pessoas”.
Laryssa (à esquerda) ao lado da irmã gêmea, Loyane, que é nora do governador
Concurso concorrido
Ao Metrópoles, a advogada Laryssa Soares Neves rechaçou a possibilidade de favorecimento e afirmou ter sido aprovada por mérito. “Estudei mais de dois anos, passei como qualquer outro candidato e, uma hora ou outra, minha convocação chegaria. Sou como todos os outros concurseiros que estudam”, disse.
O processo seletivo que Laryssa prestou teve edital publicado em 2014, com a previsão de 100 vagas imediatas para a contratação de delegados e mais 100 de cadastro reserva. A remuneração inicial, à época, era de R$ 15.370,64. Para estar dentro do número de oportunidades, a advogada teve de passar por pelo menos oito fases diferentes.
A primeira foi uma prova objetiva de conhecimentos gerais e específicos; a segunda, um teste discursivo de conhecimentos jurídicos – as duas de caráter eliminatório. Depois, foram realizados: exames biométricos e avaliação médica; prova de capacidade física; sindicância de vida pregressa e investigação social; prova oral; avaliação psicológica; e, por fim, prova de títulos. Todas as etapas foram aplicadas pela organizadora do concurso, a Fundação Universa.
O certame foi homologado em 2016. O prazo previsto em edital para a convocação dos aprovados é de um ano, prorrogável por mais um. Ou seja, vence em setembro de 2018, daqui a seis meses.
*Nome fictício, a pedido do entrevistado