Em greve, servidores da Terracap escancaram supersalários da empresa
Cartazes fixados em frente à sede do órgão expõem os vencimentos dos funcionários do alto escalão, que ultrapassam R$ 100 mil
atualizado
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Em greve a partir desta segunda-feira (15/5), os servidores da Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap) aumentaram o tom do discurso contra a diretoria da empresa. Cartazes fixados em frente à sede do órgão fazem duras críticas aos supersalários dos funcionários do alto escalão.
O diretor financeiro, segundo os trabalhadores, custa R$ 114 mil por mês. Já o diretor administrativo recebe a bagatela de R$ 111 mil. De acordo com o Sindser, sindicato da categoria, o gasto com servidores comissionados chega a R$ 2,3 milhões por mês. Deste total, o salário dos diretores leva R$ 1,3 milhão.
Servidores ouvidos pelo Metrópoles, mas que pediram para não ser identificados, reforçam que os empregados em comissão exercem funções variadas, desde cargos de direção até de secretária, muitos com remuneração superior ao teto constitucional.
“Acontece que, como a remuneração da função comissionada não passa pelo seu órgão de origem, eles não têm o abate-teto, tornando sua remuneração bastante alta, com um custo-benefício negativo para a empresa. A Terracap ressarce o valor dos salários e demais verbas remuneratórias mensalmente aos órgãos de origem e ainda paga a função comissionada e demais benefícios previstos no Acordo Coletivo de Trabalho”, explicou um dos trabalhadores.
O movimento grevista foi definido durante a assembleia que ocorreu na última quinta-feira (11/5). Serviços de atendimento ao público, como a consulta de licitações e negociações de dívidas, serão prejudicados.
Nota
Em nota, a Terracap afirmou que a paralisação ocorre no momento em que a empresa iniciou os procedimentos de venda direta de imóveis em fase de regularização fundiária, “cujos recursos arrecadados deverão possibilitar a recuperação financeira e o aumento da capacidade de investimento da empresa.”
A direção alegou que vem sofrendo as consequências da crise econômica que arrefeceu o mercado imobiliário, “diminuindo significativamente a venda de imóveis, responsável por cerca de 94% das receitas da empresa, gerando grave crise financeira”. Mas que mesmo diante deste cenário, vem cumprindo todas as cláusulas do acordo coletivo de trabalho e que a não reposição salarial já havia sido pactuada com os servidores.
A agência informou ainda que a greve “prejudicará as vendas da empresa, agravando a situação financeira”. Alegou que “sempre esteve e continua aberta ao diálogo e que conta com o bom senso e a colaboração dos servidores da companhia e que adotará todas as medidas necessárias para garantir a continuidade dos serviços prestados à população”. Há uma reunião marcada para esta segunda entre os representantes dos empregados e a direção da empresa a fim de discutir as reivindicações.
Quanto aos supersalários, a Terracap informou que irá, no prazo de 90 dias, adequar a sua folha de pagamento às diretrizes estabelecidas pela lei aprovada no dia 9 de maio pela Câmara Legislativa. Pela norma, os vencimentos das empresas públicas ficam limitados a R$ 30,4 mil.
Supersalários
Em março deste ano, o Metrópoles mostrou que, entre as centenas de servidores que trabalham na Terracap, é difícil achar alguém que ganhe menos de dois dígitos. Mesmo um motorista da agência pode receber, dependendo do tempo de casa, mais de R$ 15 mil. É o caso de um servidor que está no órgão desde 1965, com salário hoje de R$ 16.883,41.
Em março deste ano, diretores da Terracap embolsaram R$ 54,2 mil somente com remuneração permanente. Uma situação comum em outras empresas públicas, como a Caesb. No mesmo período, um analista de sistema de saneamento chegou a receber R$ 82,7 mil, sendo R$ 55,1 mil de salário fixo.