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Sem regulamentação, flanelinhas se apoderam dos estacionamentos do DF

Em 2009, os trabalhadores tiveram a profissão regulamentada, mas PGDF alegou inconstitucionalidade e cadastramento foi cancelado

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Brasília (DF), 13/02/2019  – Evento: Tráfico de drogas e assaltos têm assustado moradores –  Local Asa Norte  Foto: JP Rodrigues/ Metrópoles
1 de 1 Brasília (DF), 13/02/2019 – Evento: Tráfico de drogas e assaltos têm assustado moradores – Local Asa Norte Foto: JP Rodrigues/ Metrópoles - Foto: JP Rodrigues/Metrópoles

Figuras cada vez mais presentes nas ruas do Distrito Federal, os guardadores de carro, ou flanelinhas, como são popularmente conhecidos, provocam um dilema entre os motoristas da capital: pagar ou não uma “taxa” aos trabalhadores? A desconfiança surge em meio a recorrentes episódios nos quais proprietários foram extorquidos, intimidados ou tiveram os veículos danificados por se recusarem a contribuir com os cuidadores.

O caso divulgado mais recente ocorreu no último sábado (23/2), quando o influenciador digital Daniel Abem, de 29 anos, casado com Felipe Abem, 30, voltava de um evento de Carnaval no Parque da Cidade. Depois de se negarem a pagar R$ 5 para um homem de colete laranja vigiar o veículo, eles tiveram a palavra “viado” rabiscada no carro. A lateral da Mercedes-Benz GLA também foi arranhada.

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Daniel e Felipe tiveram dificuldades para realizar o boletim de ocorrência on-line e foram à 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul). No entanto, foi pedido a eles que deixassem o automóvel na unidade policial para a realização de perícia, o que levaria cinco dias, segundo foram informados. “Como não posso deixar o carro lá, preferi não fazer. É um absurdo o tanto de gente que está tendo seu carro riscado”, reclamaram.

O Metrópoles esteve no Setor Comercial Sul (SCS) nesta terça-feira (26) e entrevistou proprietários de veículos e flanelinhas. Na região funcionam diversos prédios comerciais, lojas e outros estabelecimentos, e as vagas disponibilizadas para quem trabalha no local não suportam mais o fluxo de pessoas. Sem onde estacionar, os trabalhadores tornam-se “reféns” dos guardadores.

Com medo da insegurança do SCS, um funcionário da Infraero, sob condição de anonimato, denunciou o que chamou de “máfia dos flanelinhas”. “Aqui é complicado, tem muito bandido e morador de rua. Para estacionar, tem que pagar. Na rua onde trabalho, cobra-se R$ 10 para deixar o veículo”, reclamou.

Sei de colegas de trabalho que se recusaram a pagar e tiveram os pneus esvaziados, retrovisores quebrados e até mesmo latarias riscadas. Tem alguns que chegam a reservar a vaga com cones, dependendo do quanto você paga

Funcionário da Infraero

Outro que reclama da situação é o personal trainer Rogério Martins, 41 (foto abaixo). O tio dele teve uma caminhonete D20 levada por um homem que se apresentou como cuidador de carros. “Não tinha vaga, então ele decidiu deixar o carro parado em fila dupla e deixou a chave com o guardador. Até hoje, não encontramos o veículo”, disse à reportagem.

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O tio de Rogério Martins teve uma caminhonete D20 levada por um homem que se apresentou como cuidador de carros

Procurada pela reportagem, a Polícia Militar informou que realiza policiamento nos estacionamentos públicos do DF. A corporação orienta que, quando houver exigência de pagamento adiantado ou posterior, a vítima acione a corporação por meio do telefone 190. O crime é caracterizado como extorsão e, se pego em flagrante, o flanelinha será preso.

Regulamentação
No entanto, há quem valorize o trabalho feito pelos guardadores e pede que a prática seja regulamentada. É o caso de Roberto de Oliveira, 48. “Deixo meu carro com esses caras há 30 anos. Se não fosse por esses camaradas aqui, nós não teríamos como estacionar. Tem que ter respeito pela profissão deles, pois eles fazem a diferença”, disse ao deixar a chave do seu carro com um guardador.

Giovanni Porta, 34, por sua vez, pede que a regulamentação ocorra de maneira “equilibrada”. “[A proposta] É controversa, mas não podemos negar que a forma como acontece hoje em dia é um abuso. Se você não der uma grana, está sujeito a ter o carro riscado. Por outro lado, existem os caras bons, que realmente trabalham. Acredito que deva haver um equilíbrio para ficar interessante para todos os lados”, explicou o agente de viagens.

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Giovanni Porta, 34, por sua vez, pede que a regulamentação ocorra de maneira “equilibrada”
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Roberto de Oliveira pede respeito à profissão e providências para o cadastramento ser retomado

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Giovanni Porta, 34, por sua vez, pede que a regulamentação ocorra de maneira “equilibrada”

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Cadastramento
Não são apenas os motoristas que se mostram favoráveis à regulamentação da prática. Os próprios flanelinhas pedem que o programa de cadastramento dos profissionais seja retomado pelo Governo do Distrito Federal (GDF).

Em 2009, a então Secretaria de Desenvolvimento Social e de Transferência de Renda do DF (Sedest), hoje Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), criou programa que autorizava os guardadores a trabalharem nos estacionamentos públicos, com crachá e colete do órgão – fator que facilitaria a identificação de cada um.

O flanelinha era submetido a um curso de capacitação de caráter eliminatório, exigindo-se comprovação de no mínimo 80% de frequência, segundo informou a Subsecretaria de Cidades. A iniciativa mobilizou os profissionais e até 2011 – ano em que foi extinta pelo GDF – contava com 1.650 cadastrados.

O programa acabou suspenso após a Procuradoria Geral do Distrito Federal emitir parecer indicando que o cadastramento era inconstitucional e somente a União poderia legislar sobre o assunto. “Diante da decisão, o GDF suspendeu a capacitação e o programa de cadastramento destinados aos lavadores e guardadores de veículos”, informou em nota a subsecretaria.

Cuidador de carros das quadras 2 e 3 do SCS desde 1973, Nilson Moreira pede que o projeto volte. “Sou a favor. Hoje, temos muitas pessoas sacaneando os outros, riscando os carros. É uma covardia com o trabalhador sério e com o dono. Todos que me conhecem confiam em mim. Eles deixam as chaves comigo, olha aqui o tanto que tenho na mão”, disse enquanto mostrava um molho de chaves.

Outro cuidador que apoia o cadastramento é Eules Nunes dos Santos, 48. Com o dinheiro que ganhou lavando os automóveis, conseguiu cuidar dos sete filhos e, inclusive, auxilia nas despesas do neto. “Quando virei guardador, meu filho tinha 1 ano. Hoje, está com 30 e já é pai. Foi com o dinheiro daqui que criei todos eles. Aqui, ninguém é obrigado a me dar nada, mas peço um valor se quiser lavar. [A regulamentação] É a melhor coisa que tem, boa para os dois lados”, conta.

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Com o dinheiro que ganhou lavando automóveis, Eules Nunes dos Santos conseguiu cuidar dos sete filhos e, inclusive, auxilia nas despesas do neto
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Nilson Moreira pede a volta do programa de cadastramento

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Com o dinheiro que ganhou lavando automóveis, Eules Nunes dos Santos conseguiu cuidar dos sete filhos e, inclusive, auxilia nas despesas do neto

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