Sem mapa dos focos de contágio, UnB alerta que Covid-19 matará 2.460 no DF
Novo boletim da Universidade de Brasília trata sobre desconhecimento dos pontos de contaminação e necessidade de estruturação dos hospitais
atualizado
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Pela falta de informações sobre a forma de contágio, a pandemia do novo coronavírus ficou mais grave no Distrito Federal. De acordo com a 2ª edição do Boletim Covid-19 DF, produzido por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), a situação local piorou. E os autores alertam: a doença poderá matar mais de 2.460 brasilienses até dezembro de 2020.
O boletim é quinzenal e traça cenários otimistas, típicos e pessimistas de evolução da Covid-19 até o final de 2020. Na comparação com a 1ª edição, a projeção futura de mortes no DF passou de 1.170 para 2.460 novos casos no cenário normal, o que mais tem se aproximado da realidade de contágio registrada nas cidades brasilienses.
Se colocados em perspectivas para o Brasil, os números alarmistas produzidos pela UnB indicariam a morte de 180 mil pessoas por Covid-19. Seria mais que os casos somados da Itália, Espanha e Estados Unidos. O que, nesta altura dos acontecimentos, não soa razoável.
Confira a pesquisa na íntegra no link. O estudo foi divulgado nessa quarta-feira (27/05).
Caso as medidas de contenção da doença adotadas até o momento não forem mantidas, ou a disseminação da Covid-19 se agravar no DF, os pesquisadores advertem que os números podem subir, chegando a 3.600. Mas não é essa a hipótese mais provável para os estudiosos.
No caso das internações, o número quase triplicou, indo de 337 para 882. Mas no cenário pessimista pode alcançar o patamar de 1.960 leitos ocupados.
O pico do uso de unidades de tratamento intensivo (UTIs) aumentou também. Inicialmente, a projeção era de 148 ocupadas. Agora a necessidade é de 386. Na visão pessimista, serão necessários 824 novos leitos de UTIs no Distrito Federal.
A pressão sobre o sistema de saúde público e particular aumentou. O estudo projetava para 25 de maio a necessidade de 121 internações, sendo 44 em UTIs, no cenário típico. Mas, segundo o Governo do Distrito Federal (GDF), foram ocupados 248 leitos e 114 unidades intensivas, o que está dentro da estimativa mais pessimista traçada pelos pesquisadores da Universidade de Brasília.
“O dado real está superestimando o cenário típico. O pico de hospitalização pode ser muito próximo do cenário pessimista”, pontuou o pesquisador do GigaCandanga, Paulo Angelo Alves Resende.
Mapeamento de focos
Do ponto de vista dos autores do boletim, o GDF e demais autoridades não devem tomar novas decisões até o diagnóstico real da pandemia, principalmente no mapeamento dos focos de transmissão da doença.
“Para resolver isso, a gente recomenda que não continuem flexibilizando ou apertando medidas de isolamento. Não tome decisões enquanto não analisar melhor o que está acontecendo”, alertou Resende.
Conforme o boletim, o aumento do número de pacientes hospitalizados desperta outra necessidade: de investimento na infraestrutura hospitalar para tratar dos casos graves da doença.
Segundo Angelo, ao longo dos últimos dias houve aumento sustentável no número de reprodução da epidemia. “A partir do 18 de maio teve uma flexibilização. O esperado era que aumentasse o número de reprodução. Não aumentou”, contou.
Para o especialista, o dado indica que o aumento da contaminação não necessariamente é reflexo da flexibilização ou não das regras de isolamento social. Este é um indicativo da necessidade de uma pesquisa epidemiológica para identificar o foco da contaminação.
“Teve um caso famoso na Inglaterra em que eles tiveram um surto de cólera e foram pesquisando aonde a pessoa foi, o que fez. E identificaram analisando, caso a caso, que era um poço o ponto de contaminação. Fechou e resolveu. Isso nós não temos. Não estamos fazendo”, advertiu Paulo Angelo Alves Resende.
Saiba mais sobre a transmissão da doença:
Isolamento social
O pesquisador avalia que o isolamento social foi importante no começo da pandemia para salvar vidas contra um inimigo desconhecido. Mas, agora, é fundamental a descoberta dos focos de contaminação a fim de garantir a retomada segura das atividades sociais e econômicas, evitando, por exemplo, o desabastecimento de comida.
Até porque, segundo Paulo Angelo Alves Resende, o isolamento social por longo período não é sustentável e compromete, inclusive, a saúde mental da população.
“Fechar tudo e esconder as pessoas dentro de casa é uma medida desesperada e cega. Foi útil no início da pandemia. Passados três meses, não dá para continuar com a medida cega. Temos que sentar com inteligência analisar o que está acontecendo e tomar as medidas acertadas”, aconselhou.
Neste sentindo, o retorno das aulas nas escolas públicas e privadas ainda está descartado, pois os colégios são focos naturais de contágio em qualquer epidemia.
O ideal
De acordo com Rezende, para encontrar os focos da doença as autoridades precisam entrevistar as pessoas contaminadas nas últimas três semanas, perguntando o possível local de infecção, data provável de contaminação e atividades feitas após o contágio.
Segundo a professora, Ana Carla Bittencourt Reis, da Faculdade de Tecnologia da UnB, a ideia é identificar o padrão de comportamento daquelas pessoas infectadas. Ela adverte que não basta mais contabilizar número infectados, curados e óbitos.
Desta forma, antes de novas decisões, as autoridades precisam entender o que está acontecendo e como as pessoas estão sendo contaminadas. Para os pesquisadores, as medidas devem ser embasadas com dados e não sentimentos ou emoção.
Do ponto de vista Paulo Angelo Alves de Rezende, a doença também avança no Brasil pela politização criada em volta do tema. “O que acontece é que as pessoas estão politizando as coisas. Fecha, não fecha. E isso não vai resolver. A gente vai ficar brigando e tanto a parte social e econômica está sendo prejudicada quanto o combate à própria doença está sendo prejudicado”, assinalou.