Sem equipamento em UTIs, UPAs do DF recusam pacientes com Covid-19
MPDFT constatou falta de centros cirúrgicos e ausência de aparelhos no Núcleo Bandeirante e Recanto das Emas. Pacientes são transferidos
atualizado
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A força-tarefa do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) que acompanha as medidas de combate à pandemia da Covid-19 encontrou uma série de problemas em duas Unidades de Pronto Atendimento do DF. Em inspeção realizada nas UPAs do Núcleo Bandeirante e do Recanto das Emas, os representantes do órgão verificaram a indisponibilidade de hemodiálise, a falta de centros cirúrgicos e a ausência de aparelhos de tomografia computadorizada em ambas.
As carências, de acordo com a vistoria do MPDFT, dificultam e até impossibilitam o atendimento aos pacientes em estado mais grave e instável, como os que sofrem com a infecção pelo novo coronavírus. Sem condições de atendimento, as UPAs são obrigadas e pedir a transferência dos pacientes para hospitais que tenham os equipamentos.
Para o MPDFT, a quantidade de transferências e de negativas de atendimento devido à falta de estrutura explica, por exemplo, porque a UPA do Núcleo Bandeirante frequentemente possui leitos vagos de acordo com o site da InfoSaúde-DF (antiga Sala de Situação).
Testes de Covid-19
Na UPA do Recanto das Emas, também foi registrada demora de 10 a 14 dias para a liberação dos resultados dos testes de Covid-19 RT-PCR, realizados pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-DF). Segundo os promotores, a lentidão desses resultados, aliada à dificuldade para a realização de tomografias, têm dificultado a efetivação do diagnóstico de pacientes infectados pela Covid-19 e, consequentemente, o encaminhamento para unidades de referência.
Os promotores ainda relatam que a unidade do Recanto das Emas “está visivelmente sobrecarregada”. “Nos dois locais, foram observadas limitações para os doentes em estado crítico permanecerem na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da UPA. Quando necessário, os pacientes precisam ser removidos para os hospitais de referência, na Asa Norte e em Taguatinga”, diz o documento do MPDFT.
Também foi relatado aos representantes do MPDFT, a dificuldade para a obtenção de medicamentos, principalmente alguns tipos específicos de sedativos, mas que têm sido substituídos por outros fármacos com a mesma finalidade, no caso da UPA do Núcleo Bandeirante. No Recanto das Emas, constatou-se a necessidade de empréstimos de medicamentos da empresa que gerencia a UPA para a que administra a Unidade de Tratamento Intensivo.
Os promotores encaminharam ofícios ao Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF), gestor das UPAs, com questionamentos sobre a estrutura e os equipamentos nas unidades do Núcleo Bandeirante e do Recanto das Emas. A medida é resultado de vistorias realizadas no final do mês de julho.
Atendimento e transferência
As pessoas que buscam atendimento nas duas UPAs passam por triagem inicial. Na do Núcleo Bandeirante, quando não há suspeita de infecção pela Covid-19, elas são orientadas a procurar outras unidades de atendimento, ou, em casos graves, são removidas por serviço de ambulância.
Segundo o MPDFT, para reforçar o atendimento para pacientes com suspeita de contágio pelo novo coronavírus, foi instalada na área externa da unidade uma tenda para a avaliação e acompanhamento médico. Quando indicada, a internação segue orientações do sistema gestor, Sisleito. O tempo de permanência na tenda é variável, dependendo da disponibilidade de leitos no sistema e da capacidade de remoção.
Já no Recanto das Emas, a triagem é feita em duas salas. Os profissionais desses locais explicaram ao MPDFT que não estão conseguindo fazer a separação dos pacientes que apresentam sintomas de doença respiratória dos que chegam com outras predisposições.
A justificativa é a desigualdade entre as duas demandas e a superlotação da unidade. Atualmente, cerca de 70% dos pacientes têm suspeita de Covid-19, e muitos dos infectados com o novo coronavírus não possuem sintomas respiratórios.
Para os procuradores e promotores da força-tarefa, a partir das vistorias realizadas nas unidades de saúde “é possível identificar um padrão repetitivo de desvio do atendimento de algumas unidades hospitalares e UPAs que apresentam excesso de demanda, para outras unidades que também operam acima da capacidade, gerando maior comprometimento da qualidade do atendimento nas unidades receptoras”, diz o relato produzido após as vistorias.
Outro lado
Ao Metrópoles, o Iges-DF disse que “não há irregularidade nas Unidades de Pronto Atendimento”. Segundo o instituto, os equipamentos citados pelo relatório não são obrigatórios em leitos de UTI para atendimento de todos os casos de pacientes com Covid-19.
De acordo com o Iges, casos graves de coronavírus, que necessitem de centro cirúrgico, suporte de hemodiálise e tomografia são encaminhados para os hospitais que possuem essa capacidade instalada.
Leia a nota na íntegra:
“O Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IGESDF) informa que não há irregularidade nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Esses equipamentos citados pelo relatório não são obrigatórios em leitos de UTI para atendimento de todos os casos de pacientes acometidos pela covid-19.
Há um fluxo definido onde são estabelecidos diferentes critérios para a classificação dos leitos, sendo que os equipamentos citados devem estar disponíveis para leitos de UTI com suporte avançado, que não é a proposta do que está disponível nas UPAs.
O IGESDF esclarece que os casos graves de covid-19, que necessitem de centro cirúrgico, suporte de hemodiálise e tomografia são encaminhados para os hospitais que possuem essa capacidade instalada.
O instituto salienta que, quando se propôs à instalação de leitos de UTI nas unidades de pronto atendimento, a ideia foi, justamente, diminuir o número de pacientes que buscavam auxílio nos hospitais, otimizando a disponibilidade de leitos nas unidades que fazem as abordagens dos casos mais críticos.
Destaca, ainda, que os atendimentos nas UPAs estão seguindo os critérios estabelecidos pelos órgãos de regulação e o IGESDF trabalha para prestar um serviço eficaz a fim de atender as demandas da população”