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Sem controle, caça-clientes intimidam usuários na Feira dos Importados

Na porta do centro popular ou nos estacionamentos, os corretas são conhecidos por abordar pessoas na tentativa de angariar compradores

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Raimundo Sampaio/Especial para o Metrópoles
Vendedores ou caça clientes, na feira
1 de 1 Vendedores ou caça clientes, na feira - Foto: Raimundo Sampaio/Especial para o Metrópoles

Toda semana, cerca de 40 mil pessoas visitam o maior centro de compras popular do Distrito Federal, a Feira dos Importados. Situado no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), o espaço abriga 2,1 mil bancas e emprega seis mil trabalhadores. Entre compradores e vendedores, uma figura se tornou comum nas adjacências do local e tem incomodado e amedrontado quem procura o comércio – os “caça-clientes”.

Também apelidados de “corretas”, eles são conhecidos por abordarem e chamarem a atenção de clientes em potencial nos arredores da feira, na tentativa de angariar compradores para bancas e lojas. A prática, apesar de não ser ilegal, tem gerado transtornos aos frequentadores, que reclamam das recorrentes intimidações promovidas pelos ambulantes.

É o caso do engenheiro Rômulo Melo, 36 anos, que disse temer pela segurança dos filhos durante as abordagens. “Incomoda muito, porque nós já sabemos o que vamos comprar e não vejo a necessidade da presença deles. Cheguei agora e já vieram uns cinco. Mesmo com criança, eles vêm em cima, assediando. A gente fica com medo”, contou.

O casal brasiliense Luiz Felipe Maluf, 24, e Thais de Sousa, 22, vai à Feira dos Importados com frequência e questiona a utilidade do serviço. “Eu simplesmente ignoro, passo reto. Não serve de nada. Uma vez, quando estava com meu pai, vi dois desses deles discutindo e brigando por ponto e indicação, mas nunca chegaram a me intimidar de fato”, relatou o rapaz.

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Ele se passava por vendedor de palhetas automotivas
A prática não é ilegal, mas tem incomodado os clientes
Usuários reclamam do assédio constante
Corretas circulam pela feira indicando bancas
Rômulo Melo e os filhos, Estevão e Amadeus
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Caça-clientes abordam compradores nas entradas da feira

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Ele se passava por vendedor de palhetas automotivas

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A prática não é ilegal, mas tem incomodado os clientes

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Usuários reclamam do assédio constante

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Corretas circulam pela feira indicando bancas

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Rômulo Melo e os filhos, Estevão e Amadeus

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Thais Sousa e Luiz Felipe Maluf

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Intimidação

O estudante Victor Luiz de Lima Ribeiro Mendes, 19, diz que a experiência da família com os caça-clientes foi traumática. Ao Metrópoles, o jovem relatou ter presenciado sua mãe sendo constrangida por um deles enquanto entrava na feira na companhia do irmão, Murilo, 15. “A gente frequenta bastante aqui e acho que eles atrapalham muito. Talvez pelo fato de eu ser homem, me deixam passar mais facilmente, mas com a minha mãe foi diferente. Eles realmente a intimidaram”, pontuou.

Victor não é o único a sofrer com a ação dos caça-clientes. Feirantes ouvidos pela reportagem também reclamam dos ambulantes e revelam, inclusive, terem sido ameaçados por eles. “O que a gente pode constatar é que, volta e meia, tem discussão entre eles por aqui. Reiteradamente, aparecem nas nossas lojas querendo que paguemos ‘corretas’ para eles pelas indicações e, se negamos, nos ameaçam mesmo. É gente perigosa”, disse um comerciante, que preferiu não ser identificado por medo de retaliações.

Acerto de contas

O temor dos proprietários de bancas não é mero alarde. No último domingo (21/07/2019), um caça-cliente foi morto depois de ter sido esfaqueado nos arredores da feira, após uma discussão com outro ambulante – o homem segue foragido desde o episódio. Leandro Francisco Nunes Lopes, 31, teria discutido com o seu algoz e o desafiado para um “acerto de contas” na área externa do centro popular.

Em seguida, a vítima acabou ferida na barriga. O correta chegou a ser socorrido, mas morreu no hospital. À reportagem, feirantes relataram que Leandro era conhecido na região por ser uma pessoa violenta e ter ameaçado lojistas e clientes.

“Um homem perigoso. Temos conhecimento de que estava em prisão domiciliar. Tinha passagens por roubo, tráfico de drogas, furto e lesão corporal. Intimidava a todos. Ainda possuía várias marcas de tiro e perfurações de faca pelo corpo e se exibia por isso. Esse elemento, em uma disputa por clientes, golpeou um lojista com uma tesoura”, disse o vendedor.

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Victor Luiz de Lima Ribeiro Mendes e Murilo de Lima Ribeiro Mendes
Antecedentes criminais

De acordo com o delegado-chefe da 8ª DP (SIA), Rodrigo Bonach, a Polícia Civil (PCDF) tem sido comunicada da presença incômoda dos corretas. “É uma prática que tem causado bastante transtorno e constrangido os consumidores. São pessoas que estão gerando desconfortos entre os clientes e no meio dos próprios comerciantes por estarem subtraindo consumidores de uma banca e os direcionando a outra. Em um caso mais grave, houve quem foi ameaçado, por exemplo”, explicou o policial.

Bonach pede aos feirantes que evitem contratar caça-clientes. “A PCDF recomenda a todos que não se utilizem desse meio. É um serviço desnecessário e as pessoas que são atraídas para essa atividade, em sua maioria, tem antecedentes criminais.”

O administrador da Feira dos Importados, Damião Leite Soares, explica que, em decorrência da proximidade entre o comércio popular e o Centro de Progressão Penitenciária (CPP) – ambos localizados no SIA – e da discriminação sofrida pelos detentos que cumprem pena em regime semiaberto, a informalidade é a alternativa mais fácil àqueles que aguardam liberdade. “Não existe um mercado de trabalho para essas pessoas e elas acabam recorrendo a esse serviço”, completou.

Insegurança

O clima tenso na Feira dos Importados vem sendo registrado pelas autoridades de segurança do DF nos últimos 20 dias. A morte de Leandro é o terceiro caso de violência recente no centro de compras.

Na terça-feira da semana passada (16/07/2019), lojistas protagonizaram no local uma cena de batalha (veja abaixo). De acordo com testemunhas, um feirante não gostou que outro, de origem árabe, tivesse estacionado o veículo na frente de seu comércio, fato que resultou em desentendimento entre os dois. Após bate-boca, houve confusão generalizada.

Segundo uma pessoa que presenciou o mal-entendido e não quis se identificar por medo de represália, o confronto parecia “briga de gangues”. “Tudo começou quando o árabe parou com a caminhonete na frente da loja do rapaz. Então, ele reclamou e os dois começaram uma discussão”, afirmou.

De acordo com os relatos, o dono do veículo retornou ao local a fim de retomar a briga. “Quando eles voltaram a discutir, um monte de árabes apareceu de um lado e, do outro lado, vários conhecidos do rapaz. Aí, a confusão veio até aqui”, contou uma comerciante, que disse ter visto facas e tacos de beisebol na pancadaria.

Em 5 de julho, uma operação de retirada de ambulantes que se instalaram ao redor do centro de compras também acabou em confusão. Os camelôs invadiram a pista de acesso gritando: “Queremos trabalhar”.

A briga se estendeu aos feirantes. A PMDF precisou intervir com o uso de spray de pimenta para dispersar a ação. Seis pessoas foram detidas e conduzidas à 1ª DP. Um homem foi preso em flagrante após agredir um policial militar.

A corporação informou que cerca de 100 camelôs protestaram no local. A Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal) teria realizado apreensões de mercadorias e, por isso, os ambulantes se revoltaram. Os feirantes são contrários à permanência dos ambulantes nas adjacências da feira e alegam que eles causam prejuízos.

Veja imagens da confusão:

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Providências

Bebeto, como o administrador é conhecido entre os feirantes, diz que a administração do local tem tomado providências para evitar a contratação dos corretas. “Nós estamos conversando com os empresários para que não incentivem a prática, pois acaba virando uma bola de neve. Uma banca contrata um, depois dois, três, quatro e, então, perde-se o controle da situação. Aqui dentro da feira, eles não podem ficar, são proibidos e vão para a porta da feira”, explicou.

O comerciante reiterou que a parte externa e as adjacências são de responsabilidade da Administração Regional do SIA. “O que fazemos é proibir a presença deles dentro da feira. Quando algum segurança flagra um deles, imediatamente retira o correta, mas eles vão para a porta e eu não posso fazer nada, porque lá é um local público”.

Segundo Bebeto, o espaço teve segurança reforçada após os recentes episódios de violência nos arredores. Ele assegurou que o centro de compras contrata vigilantes terceirizados e possui 80 câmeras para monitorar possíveis práticas criminosas. “Nós também temos cobrado do governo que nos ajude, e ele tem se prontificado a isso. Fomos ao DF Legal e deram início à fiscalização, mas pararam. Com os fiscais, a bandidagem e a malandragem acabam”, acrescentou.

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Ele reiterou que a parte externa e as adjacências são de responsabilidade da Administração Regional do SIA
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Bebeto diz que a administração do local tem tomado providências para evitar a contratação dos corretas

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Ele reiterou que a parte externa e as adjacências são de responsabilidade da Administração Regional do SIA

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Fiscalização

Procurado pela reportagem, o DF Legal informou que não fiscaliza os caça-clientes por se tratar de “uma atividade que não é regulamentada” e pelo fato de não haver legislação vigente que proíba a atuação dos corretas. “Foge ao nosso ofício”, declarou o órgão em nota.

Ainda segundo o DF legal, após a regulamentação da lei dos ambulantes, a pasta tem desenvolvido constantes ações fiscais nas imediações da Feira dos Importados. A medida irá ocorrer “até que haja a conclusão do plano de ocupação e realocação dos ambulantes, que está sendo elaborado pela Administração Regional do SIA”. As inspeções, até o momento, culminaram na retirada de aproximadamente 80 ambulantes que desenvolviam suas atividades irregularmente nas proximidades.

A Polícia Militar do DF, por sua vez, informou realizar policiamento no local com viaturas que fazem a ronda em toda a região, além do apoio a outras unidades, por meio do Serviço Voluntário Gratificado (SVG). De acordo com o sistema Gênesis da corporação, as ocorrências mais atendidas no centro de compras são de vias de fato, ameaça e desacordo comercial. “Sobre o efetivo, por motivo de segurança e estratégia policial, não informamos o quantitativo”, completou em nota.

O Metrópoles tentou falar com os corretas, mas todos se recusaram a dar entrevista.

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