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Sem carne, escolas chegam a liberar alunos para almoçar em casa

Colégios de ensino integral estão se virando como podem para atender alunos: contam com ajuda dos pais e abusam da criatividade

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1 de 1 WhatsApp-Image-2019-10-10-at-14.43.23 - Foto: Material cedido ao Metrópoles

O drama da falta de carne no cardápio das escolas públicas ainda continua. Nos colégios de ensino integral, a situação é ainda mais preocupante, pois são servidas até cinco refeições por dia a estudantes que, em muitos casos, não têm o que comer em casa. A direção das escolas tem se virado como podem. Há caso em os estudantes são liberados para irem almoçar em suas residências, desde que haja autorização dos pais.

A situação foi mostrada pelo Metrópoles em reportagem no dia último dia 3. Segundo a Secretaria de Educação, o quadro deve ser normalizado até novembro. No Centro de Ensino Fundamental (CEF) 2 da Asa Sul, segundo a coordenadora Marcela Reis Nascente, a carne vermelha não chega há cerca de três meses. “Já passamos por isso algumas vezes. Quando vai acontecer, começamos a nos organizar para ficar numa espécie de estado de sítio, ou seja, prontos para guerra. Os alimentos são bem contadinhos para não faltar”, afirma.

A coordenadora diz que tem contado com o apoio da Associação de Pais e Mestres (APM), que complementa as refeições das crianças. Às vezes com dinheiro, outras com alimentos, geralmente não perecíveis. “Essa situação é bem complexa. Se não fosse essa ajuda da comunidade, não iríamos conseguir”, garante.

Ela lembra que, na leva de alimentos fornecidas pelo Governo do Distrito Federal (GDF), chegou um pouco de frango e nada de peixe. “Estamos usando leguminosas, feijão e ovo como fonte de energia para os alunos. Mas a carne vermelha faz bastante falta”, diz.

Luciano Pereira de Moura é diretor do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 213 de Santa Maria. Ele afirma que há cerca de 15 dias não chega carne vermelha na escola. Frango, desde a semana passada.  Para lidar com a falta da proteína, o colégio conta com o apoio de outras escolas. “O administrativo faz um remanejamento do que sobra em outras instituições e manda para cá. É uma permuta de alimentos, assim conseguimos segurar por aqui”, assinala.

Para atender aos alunos do ensino integral, o colégio tem feito ainda refeições como macarrão com molho de legumes. Mas os alunos chegam a reclamar da falta de carne. “Muitos são carentes e contam com essa refeição”, lamenta.

No Centro de Ensino Fundamental 15, que fica no Gama, a carne acabou no começo dessa semana. De acordo com informações da Secretaria de Educação, dos 589 alunos, 15 estão sendo liberados para almoçar em casa, de 12h30 às 13h20. A medida é feita em acordo com os pais, uma vez que esse grupo de crianças se recusa a comer a refeição caso não haja algum tipo de carne no prato.

Segundo uma das funcionárias do colégio, os pais assinam um termo e os estudantes podem ir comer e voltar para a escola. Porém, não são todos que têm condições de ir e voltar. “A gente coloca ovo, coloca o que tem para eles não ficarem com fome”, conta a servidora.

No Centro de Ensino Fundamental 20, localizado em Ceilândia, são feitas cerca de 500 refeições para o integral – cinco por dia. De acordo com o vice-diretor do colégio, Rodrigo Medeiros, a última remessa de frango chegou no dia 30 de setembro. A escola tem feito uma espécie de racionamento da carne, para não faltar a proteína. “Estamos tentando fazer durar. Preparamos estrogonofe, galinhada, frango com batata. Tentamos diversificar os pratos, mas os meninos já enjoaram”, afirma Medeiros.

Segundo a presidente do conselho escolar, Sandra Reis, há pais que estão preferindo levar comida para os filhos. “As crianças perguntam: ‘É só isso que tem? De novo frango?’ Elas notam essas coisas. Antes era só peixe, agora é só frango”, ressalta. Sandra lembra que no final do ano os pais chegaram a apontar problemas estomacais e até de anemia em uma quantidade significativa de alunos, por conta da alimentação.

No ensino integral do CEF 20, os alunos ficam das 7h30 às 17h30. Segundo os funcionários da instituição, muitos alunos dependem da comida da escola porque não dispõem de boa alimentação em casa. “Muitas vezes, os pais lutam por uma vaga aqui justamente para alimentar o filho. Eles dependem da nossa alimentação”, comenta Sandra.

A presidente do conselho escolar conta que a avó de um menino suspenso pediu para que o colégio revisse a punição porque ela não tinha o que dar de comer a ele em casa.

O outro lado

O Diário Oficial do Distrito Federal (DODF) do dia 3 de outubro trouxe extrato de ata de registro de preços que indica a contratação da empresa Juno Veloso Vidal dos Santos (JVC) para a compra de carne bovina moída de acém e de paleta em iscas, que devem chegar às escolas entre outubro e novembro.

A Secretaria de Educação destaca ainda que o pagamento à empresa fornecedora (JVC) permitirá a reposição de frango na alimentação ainda em outubro. O recurso já foi empenhado, conforme a pasta. A secretaria fez uma licitação emergencial para a aquisição do produto, que deve ser distribuído até o início de novembro.

As 680 escolas da rede pública de ensino do DF oferecem alimentação a cerca de 450 mil estudantes. A carne de frango in natura representa em torno de 65% das fontes de proteína de origem animal dos cardápios ofertados atualmente pelos colégios.

Segundo a Educação, a falta de proteína animal (frango, peixe, ovos e carne suína e bovina) decorre de uma série de fatores, sendo o principal deles o parecer da Procuradoria-Geral do Distrito Federal nº 316/2017, que impediu a renovação de contratos para aquisição de gêneros alimentícios com recursos federais.

“A PGDF entendeu que o fornecimento não é serviço contínuo. Portanto, a Secretaria não pôde renovar os contratos de aquisição desde então.” Além disso, informa que a última licitação para a compra de frango, em julho, fracassou.

Volta do frango

Na noite de quinta (10/10/2019), a Secretaria de Educação informou que, a partir de segunda-feira, terão início as entregas de frango in natura nas escolas da rede pública de todo o Distrito Federal. “Como haverá recesso escolar entre os dias 14 e 16, além de dias letivos móveis (17 e 18), a merenda estará normalizada quando os estudantes retornarem, no dia 21/10/2019”, disse.

(Com informações da Agência Brasília)

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