“Seja deputado ou puta, todo mundo precisa de respeito”, diz prostituta ao defender profissão
A paulista Hera, que chega a faturar mais de R$ 30 mil por mês com seus programas, promete abalar Brasília nesta semana. Ela está na cidade para cobrar a regulamentação da atividade
atualizado
Compartilhar notícia
Cabelos loiros, 1,69 m de altura, silicone nos peitos e corpo esculpido pela academia fazem com que Hera seja uma mulher que facilmente chama atenção na rua. Porém, é na profissão que ela se destaca. Vestida com uma fantasia que lembra as amazonas gregas da Antiguidade, trabalha como prostituta e defende a atividade com unhas e dentes. “Tenho muito orgulho de ser puta, mulher e dona da minha vida”, diz, sem papas na língua. Ela desembarcou em Brasília e promete causar nesta semana. Mas, dessa vez, ela não vem atender a sua seleta carteira de clientes poderosos na capital do país. Chega à cidade para defender a profissão.
Hera promete “fazer barulho” pelo direito de “ser mulher e prostituta”. A ideia é fazer um protesto. Os detalhes, entretanto, são mantidos em segredo a sete chaves. Pura estratégia de marketing. Afinal, ela sabe vender a sua imagem como poucos. “Eu amo Brasília e sinto que a onda tem que começar aqui para passar por todo o país. Então, estarei na cidade para fazer a primeira onda”, antecipa. “Seja deputado ou puta, todo mundo precisa de respeito”, dispara.
Ela conta que costuma vir a Brasília para atender desejos secretos de seus clientes e afirma que eles são “muitos poderosos, cheirosos, loucos por fetiches e nem um pouco mesquinhos”. Hera diz que ganha até R$ 30 mil por mês com seus programas. E está enganado quem pensa que na agenda dela constam apenas nomes de homens. Entre as pessoas que buscam os serviços de Hera há, sim, várias mulheres. “E elas são sempre elegantes e muito bonitas. A brincadeira entre meninas é boa”, brinca.
Na Câmara dos Deputados uma comissão especial foi criada no ano passado para discutir a regulamentação para a atividade dos profissionais do sexo. Um projeto do deputado Jean Wyllys (Psol-RJ) altera o Código Penal para diferenciar a prostituição da exploração sexual. A proposta, que enfrenta forte resistência da bancada religiosa, garante a esses profissionais o acesso à saúde, ao direito do trabalho, à segurança pública e, principalmente, à dignidade humana.
O projeto estabelece como profissional do sexo toda pessoa capaz e maior de 18 anos que, voluntariamente, presta serviços sexuais mediante remuneração. Prevê o direito à aposentadoria especial com 25 anos de serviço.
Confira a entrevista que Hera deu ao Metrópoles:
O tema “mitologia grega” é um fetiche recorrente entre os clientes?
Todo homem adora um fetiche, ser dominado. Literalmente, eles pedem para ser meus servos. As coisas ficaram ainda melhores depois que um estilista desenhou uma roupa temática. Na hora que vi a fantasia, falei: cara… eles vão pirar! (Risos)
Já teve algum fetiche pesado, mas tão pesado, que teve que recusar?
Não. Faço todos, desde que não corra risco físico e para saúde.
A crise econômica já chegou ao mercado da prostituição?
Chegou sim. Tenho várias colegas de profissão que estão reclamando e dizendo que o movimento está fraco. Eu só não senti muito porque tenho vários clientes fixos.
Foi difícil conseguir uma clientela na capital do país?
Conheci o primeiro brasiliense durante um evento fechado em São Paulo. Daí em diante meu nome correude boca em boca. Em dois meses,um cliente me pediu para ficar uma semana em Brasília e fizemos a farra com outros rapazes. Depois, não parei mais de voltar à cidade. Mas te digo que não é fácil atrair esse tipo de cliente. Muitas vezes, são políticos e, por isso, são bem reservados. Além disso, eles têm muito requinte: você precisa saber como se comportar e o que vestir para cada ocasião.
Como é o brasiliense na cama?
Posso dizer que são os mais generosos. São homens muito quentes, loucos por fetiches, cheiram bem e não são nem um pouco mesquinhos. E que mulher não gosta de um macho cheiroso?
Seja sincera: quem manda melhor? Governo ou oposição?
O governo fode bem melhor, é claro… Mas sempre é na cama (risos)
Conte para nós uma situação bastante inusitada que você enfrentou aqui na capital.
Um cliente que já me conhecia bem disse que daria uma festa reservada e que eu seria o presente do aniversariante. Chegando lá, fiquei em um quarto vestida apenas com um laço vermelho na barriga até que, para minha surpresa, a pessoa que me esperava era uma mulher bem poderosa e conhecida de Brasília. A noite foi deliciosa e, desde então, sempre atendo ela quando estou na cidade.
Como é ser mulher e trabalhar nesse ramo?
Para mim, a mulher é livre para fazer o que ela quiser com o próprio corpo. Grito por diretos, por uma lei que me proteja como prostituta e também luto por uma sociedade menos hipócrita. Presto um serviço e se não pagarem, chamo quem? A polícia?
Você já sofreu alguma agressão física, sexual ou psicológica durante seu trabalho?
Nunca passei de fato e espero não passar. Já atendi clientes que beberam e ficaram fora de si, mas eu estava atenta e coloquei ele pra fora antes de algo grave ocorrer.
Há algo que as mulheres possam fazer para escaparem de uma possível agressão sexual?
Eu gostaria de ter uma fórmula para dar segurança para todas as meninas, mas infelizmente estamos à mercê desse tipo de pessoa.Temos que ficar de olho, pois esse tipo de situação ocorre e ninguém faz nada. Eu fui em busca do conhecimento do meu corpo com aulas de defesa pessoal para me sentir mais segura, mas sei que só isso não garante que estou livre desse problema.