Zap do tráfico: criminosos usam marketing digital para vender drogas
Um dos traficantes presos pela polícia distribuía panfletos nas ruas do Gama garantindo vender maconha mais barato do que a concorrência
atualizado
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Pensando em turbinar os negócios e fazer o tráfico de drogas prosperar, criminosos que agem no Distrito Federal resolveram investir pesado em “ações de marketing” para atrair usuários. Um dos traficantes recentemente identificados e presos pela Polícia Civil (PCDF) distribuía panfletos nas ruas do Gama. A propaganda garantia vender porções de maconha mais barato do que a concorrência (foto em destaque). Além do boca a boca com a clientela, os suspeitos apostam no alcance das redes sociais e aplicativos quando o assunto é angariar novos fregueses.
As investigações sobre os novos mecanismos adotados pelas quadrilhas do ramo estão a cargo da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord) da PCDF. As apurações recentes resultaram na prisão do traficante panfleteiro, mais conhecido como “príncipe do Gama”: Hudson de Almeida Passos foi preso em flagrante no início de junho, quando vendia drogas na porta de uma escola no Setor Sul do Gama.
Durante o monitoramento da rotina do traficante, os investigadores identificaram que Hudson fazia contato com estudantes da rede pública do Distrito Federal tanto por meio do WhatsApp fazendo publicidade com os panfletos divulgados por ele. Os policiais cumpriram buscas na casa de Almeida e apreenderam porções de crack e maconha, além de dinheiro e materiais usados para embalar droga.
Sem medo
A audácia do traficante panfleteiro chamou atenção das autoridades justamente pela forma ostensiva com que o tráfico de drogas era promovido na região do Gama. Os revendedores, que atuam no chamado “mercado varejista”, passaram a desafiar a polícia para lucrar com a atividade criminosa.
“Nosso foco principal é o grande atacadista, apreender drogas em quantidade, mas agimos quando o criminoso incomoda a sociedade, de forma ostensiva, trazendo insegurança à população”, disse Luiz Henrique Dourado.
No caso de Hudson Passos, foi necessária uma intensa investigação para a corporação conseguir materializar o tráfico, pois o suspeito simulava ser usuário e se misturava aos clientes quando vendia os entorpecentes. “Tivemos preocupação em solucionar esse caso, já que o autor colocava em risco a saúde de adolescentes, seus principais compradores”, explicou o diretor da Cord.
Veja imagens da ação dos investigadores na casa de Hudson:
Tráfico nas redes
Com alcance massivo, relativa segurança e instantaneidade, as redes sociais e aplicativos como WhatsApp tornaram-se ferramentas de negócios para os traficantes do Distrito Federal. Dezenas de grupos fechados foram criados para negociar drogas e fazer divulgação de propagandas da atividade ilegal.
Durante uma semana, o Metrópoles acompanhou as postagens de alguns desses espaços virtuais relacionados ao tráfico e ao uso de drogas. Ao longo das conversas, é comum os criminosos oferecerem oportunidades para usuários adquirirem grandes quantidades de entorpecentes.
Numa das conversas por áudio, um dos traficantes avisa sobre um “canal” para a compra de caixas do medicamento controlado Rohypnol (ouça abaixo). Se associado a álcool ou outras drogas, o sedativo pode provocar alucinações.
O meio de comunicação também é utilizado pelos traficantes para demonstrar a “pureza” dos entorpecentes. Alguns criminosos pedem para usuários postarem vídeos do consumo e informarem se aprovam a qualidade dos produtos. Em uma das gravações, um homem aparece usando cocaína. Logo em seguida, ele compartilha a própria imagem (confira abaixo).
Para investigar o tráfico que ocorre pelas redes sociais e aplicativos, a Cord trabalha em parceria com a Delegacia de Repressão a Crimes Cibernéticos (DRCC). Os investigadores mapeiam a publicação das postagens e produzem uma análise, caso a caso.
“Já tivemos prisões de suspeitos que usavam o mundo digital para promover o tráfico e o uso de drogas. Aos poucos, todos estão sendo identificados e presos”, ressaltou o delegado Luiz Henrique Sampaio.