Vale tudo pelas drogas na Papuda. Elas chegam dentro de bananas, sabonetes, solas de sapato e até nas cavidades íntimas. Veja fotos
Do lado de fora da cadeia, a mesma quantidade do entorpecente é vendida por R$ 150, uma diferença de 13.200%. De janeiro a outubro, 141 pessoas foram presas ao tentar entrar no presídio com substâncias ilícitas
atualizado
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Inflacionado pelo alto risco que envolve a ação, o tráfico de drogas dentro do Complexo Penitenciário da Papuda vive uma realidade distante do comércio de entorpecentes no restante do Distrito Federal. Por trás dos muros de concreto e das barras de ferro das celas, 100 gramas de maconha são vendidos por valores exorbitantes, e alcançam até R$ 20 mil. Do lado de fora da prisão, a mesma quantidade da erva é repassada por R$ 150, uma diferença de 13.200%.
O lucro estratosférico é proporcional ao perigo da empreitada, uma vez que a fiscalização dos agentes penitenciários é rigorosa. Não à toa, o número de pessoas flagradas com drogas tentando ingressar na Papuda nos primeiros 10 meses deste ano já supera o total registrado em 2014. De janeiro a outubro, foram 141 ocorrências, a maioria (113) envolvendo mulheres. No ano passado, foram 117 casos (93 envolvendo mulheres).
As formas para disfarçar a entrada das drogas nas cadeias são cada vez mais engenhosas. Este ano, agentes de atividades penitenciárias já encontraram substâncias ilícitas dentro de bananas, sabonetes, solas de sapato e em cavidades corporais de visitantes.
“Barões”
Em meio à massa carcerária, o consumo de drogas é artigo de luxo e se transforma em uma valiosa moeda de troca. Um pequeno baseado vale mais do que um maço de dólares ou uma garrafa do whisky Royal Salute, envelhecido 21 anos. Além do status, traficantes que conseguem burlar o forte esquema de segurança da Papuda se transformam nos “barões do xilindró”.
A avidez pelos entorpecentes faz os usuários se endividarem por uma simples tragada. Nesse caso, quem assume a conta com o traficante é a família do interno.
Temos dezenas de casos como esse. Esposas, irmãos, pais, todos vítimas de extorsão e ameaçados de morte. Essas pessoas precisam se virar para pagar pela droga que o parente consome na cadeia
Erito Cunha, delegado-chefe da 30ª DP (São Sebastião)
Nas cercanias do complexo, funciona um grande esquema de aliciamento. Os transportadores ou simplesmente “mulas” — pessoas arregimentadas por traficantes para cruzar os portões com a droga — recebem entre R$ 1 mil e R$ 2 mil para enfrentarem a bateria de revistas e dispositivos de segurança até chegar ao pátio, onde se encontram com os presos que recolhem a droga.
Inteligência
Segundo o subsecretário do Sistema Penitenciário (Sesipe), delegado João Carlos Lóssio, houve um reforço na capacidade de inteligência dentro das quatro unidades prisionais da Papuda. “Montamos uma equipe experiente e esse trabalho começou a surtir efeito. O tráfico de drogas sempre existiu no sistema. O que aumentou foi a repressão, por isso o número de ocorrências registradas neste ano é maior do que no ano passado”, explica.
Lóssio destaca ainda que o auxílio dos scanners de corpo instalados na entrada das unidades prisionais tem papel fundamental no combate ao tráfico. “Com o fim das revistas, esses aparelhos passaram a identificar uma grande quantidades de drogas que costumam ser transportadas pelas mulheres em suas cavidades íntimas. Em alguns casos, é necessário até dois dois dias para que os entorpecentes sejam expelidos pelo organismo”, disse o subsecretário.