Traficantes enviam drogas pelos Correios.Polícia investiga ações no DF
Um dos vendedores diz ter cinco anos de experiência, garante proteger os dados do ‘cliente’ e entregar os produtos de forma discreta e segura
atualizado
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Bem embalada, com garantia e acima de qualquer suspeita. Entre faturas, encomendas e cartas, os mais variados tipos de drogas são entregues pelos Correios nas casas dos usuários. A comodidade de fazer compras on-line que já conquistou o brasileiro é usada agora por traficantes para aumentar o lucro e expandir o mercado. A prática é investigada pela Polícia Civil do Distrito Federal, por meio da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord).
Um dos sites encontrados pelo Metrópoles é especializado no cultivo e venda de skank, substância derivada da maconha com alto teor de THC, princípio ativo do entorpecente. Na página, são publicadas mensagens de clientes, que recomendam a compra e falam sobre a qualidade do produto. O vendedor também explica como planta a erva, garante sigilo das informações e o “melhor preço do mercado”. O origem do traficante ainda não foi descoberta.
Um homem, identificado como Marcos Alexandre, responde os e-mails dos usuários e explica as regras para a entrega dos produtos. São sete tipos de skank e cinco de haxixe, resina da maconha. Ele pede para que confiem no trabalho da “empresa” que atua há cinco anos no ramo.
“Sabemos de todos os procedimentos viáveis para a venda ilícita de skunk. Fazemos um envio com total segurança e sigilo. A sua mercadoria será enviada dentro de caixas discretas e com embalagens personalizadas. Evitando qualquer tipo de problema futuramente”, disse. O máximo permitido para a compra são 200g, equivalente a R$ 3 mil. Dez gramas de qualquer produto custa R$ 25. A encomenda é enviada de dois a três dias depois do pagamento.Por meio de nota, os Correios informaram que adotam ações em conjunto com os órgãos de fiscalização para combater o envio e o recebimento de objetos ilícitos nas remessas postais. As ações são desenvolvidas com o uso de equipamentos de raios-x e espectrômetros de massa (que identificam substâncias por meio da análise de micropartículas).
“A inspeção ocorre de forma sistemática e conta com a parceria dos órgãos de fiscalização. A operação dos equipamentos é feita exclusivamente por empregados treinados e em caráter reservado”, informa nota da empresa.
Quando é identificada a presença de conteúdo proibido, os Correios explicam que fazem a retenção do objeto e informam ao órgão competente para adoção das medidas legais cabíveis. No caso de o conteúdo ilícito ser drogas, a Polícia Civil é acionada para identificar os responsáveis pelo envio do entorpecente. Por ser assunto relacionado com a segurança postal, a empresa não divulgou detalhes dessas ações e estatísticas.
Investigação
O delegado-chefe da Cord, Rodrigo Bonach, afirmou que os perfis que anunciam drogas no Distrito Federal, por meio das redes sociais e sites, são monitorados pela polícia.
“São desde traficantes a aventureiros que tentam faturar. Antigamente, para entrar no tráfico, o criminoso tinha que ter uma rede de contatos. Atualmente, ele pode fazer um perfil falso nas redes sociais e vender os entorpecentes. O volume de tráfico no Brasil é grande e, com o decorrer do tempo, a prática vai sendo aperfeiçoada para dificultar a ação da polícia”, explicou.
Como em qualquer compra realizada pela internet, o risco de pagar e não receber pela mercadoria existe. “Alguns anunciam e não entregam ou o produto enviado não corresponde ao anúncio. É semelhante ao estelionato, no entanto, envolvendo produtos ilícitos. Nesse caso, o prejuízo é apenas do usuário”, contou Bonach. Com relação aos sites, um dos obstáculos é rastrear o IP, endereço físico do portal. “Muitas vezes, as páginas estão registradas em outros países, o que dificulta a localização do criminoso”, ressaltou o delegado.
O marco legal da internet permite uma intervenção rápida apenas nos casos de publicações com cunho sexual. Quando a pessoa exposta consegue denunciar e tirar o conteúdo rapidamente do ar. Em outras situações, é preciso de ordem judicial. Em alguns casos, o servidor é de outro país, com outra legislação. O que é crime para nós pode não ser crime para outras nações
doutor em tecnologia e coordenador do curso no UniCeub, Paulo Rogério Foina
Segundo o especialista, para facilitar a comunicação e investigações da rede global, seria necessário criar uma Corte internacional responsável por julgar esses casos.
Apreensões
A maconha foi a droga que liderou o número de apreensões de entorpecentes no DF nos últimos dois anos. Em 2014, 4.797kg foram tirados das ruas. No ano passado, o número caiu para 2.336 Kg, mas seguiu liderando, seguido do crack e cocaína.
Só em fevereiro, a Cord apreendeu uma tonelada de maconha, em Águas Lindas, no Entorno. A droga seria vendida em Brasília. No mesmo mês, cerca de R$ 200 mil em skank foram apreendidos por agentes da Cord no Aeroporto de Brasília. Em outra ação, a Polícia Federal apreendeu mais uma tonelada do entorpecente próximo à entrada de Anápolis (GO), a droga também tinha o DF como destino final.