Traficantes disfarçados de flanelinhas comandam venda de crack no SIA
Investigação da 8ª DP revela que estacionamentos foram “loteados” entre grupos de criminosos, que partilham o comércio de pedras na região
atualizado
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Estacionamentos do Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) se transformaram em território para traficantes de drogas e usuários. Os locais foram “loteados” entre vários grupos de criminosos que exploram o comércio de crack na região. Investigações conduzidas pela 8ª Delegacia de Polícia (SIA) identificaram como funciona o comércio das pedras amarelas nas proximidades da Feira dos Importados, Ceasa e de alguns supermercados.
Boa parte dos traficantes aproveita o grande fluxo de veículos e pessoas que circulam pela Feira do Paraguai ao longo do dia para lucrar com a venda de crack. Os estacionamentos internos ao redor do complexo de compras e os externos, que ficam em ruas paralelas, foram tomados por traficantes que lucram com o movimento de viciados na droga. Pelo menos seis criminosos foram presos nos últimos dois meses vendendo pedras no local.
Os investigadores monitoraram a rotina de cada um dos alvos que faz “ponto” nos estacionamentos. Para não levantar suspeitas, alguns criminosos aliciam adolescentes e repassam para eles a tarefa de fechar as transações. Dessa forma, os chefes do esquema tentam escapar de prisões em flagrante.
O Metrópoles teve acesso com exclusividade a imagens registradas pelos agentes da Seção de Repressão às Drogas (SRD) da 8ª DP. Nelas, um homem repassa a droga para dois adolescentes, entre eles uma jovem, que têm a missão de fazer a revenda do crack.
“Palheteiros”
O trabalho dos investigadores também revelou que, além de guardadores, os traficantes se disfarçam de vendedores de palhetas para limpar para-brisa – seriam os chamados “palheteiros”. Como precisam marcar o ponto nos locais onde fazem as transações, os criminosos usam o disfarce para não levantar suspeitas. Muitas vezes, simulam a venda dos produtos para repassar a droga. A operação é feita em poucos segundos e complica o registro do crime.
Geralmente, os líderes do comércio ilegal escondem as pedras em bolsas e mochilas que ficam penduradas em árvores ou no chão, ocultas entre os carros. Quando um usuário se aproxima, alguns entregam cigarros junto com a droga, simulando a venda de um produto lícito.
“Esses traficantes aproveitam o filão de usuários que circulam pelo SIA para vender crack durante o horário comercial. No entanto, conseguimos identificar os principais e todos foram presos”, explicou o delegado-chefe da 8ª DP, Fernando Grana.
Outros bandidos se fixaram tanto nos estacionamentos internos da Feira dos Importados quanto nos externos, que ficam na pista que circula o centro comercial. Os policiais já receberam denúncias sobre a venda de drogas para pessoas que trabalham na feira. O comércio ocorre nas vielas, entre as bancas, de forma discreta e nos horários de maior movimento.
Chefes do tráfico
As investigações chegaram até os principais traficantes que atuavam nos estacionamentos do SIA, abastecendo outros criminosos de menor porte e alimentando o vício dos usuários. No dia 3 de agosto, os agentes prenderam um dos homens que vendiam crack em um dos estacionamentos internos da Feira dos Importados, próximo às lojas de som automotivo. Pela segunda vez, Jeferson Costa Ribeiro, 23 anos, foi detido em flagrante no momento em que repassava pedras de crack a um usuário. A ação foi monitorada pelos investigadores da 8ª DP.
Drogas no banheiro
Outro traficante também foi preso pelos investigadores e era considerado, junto com Jeferson, um dos principais revendedores de crack na região. Em 27 de julho deste ano, João Ferreira Santana, 38, foi detido por tráfico de drogas após se esconder no banheiro de um supermercado e tentar se livrar da droga jogando-a no vaso sanitário.
Santana também usava um pequeno barraco de madeirite, nos fundos da Ceasa, para guardar entorpecentes e fazer transações rápidas com usuários e pequenos traficantes. Os investigadores flagraram em vídeo o momento em que dois homens compravam pequenas quantidades de crack das mãos do criminoso. O dinheiro costumava ser jogado na grama ao lado do barraco. Usando um colete fluorescente, João entregava as pedras aos compradores.
De acordo com o titular da 8ª DP, durante o trabalho de investigação, os agentes se surpreenderam com o volume de usuários que chegavam ao estacionamento a bordo de carros luxuosos.
Antes, achávamos que os consumidores de crack se resumiam a moradores de rua e pessoas de baixa renda, mas flagramos servidores públicos e pessoas que ocupavam altos cargos em empresas da iniciativa privada. Esse foi um trabalho de apuração importante para retirar esses traficantes de circulação
Fernando Grana, delegado chefe da 8ª DP (SIA)