Submetralhadora dispara sozinha e policiais denunciam falhas em armas das corporações do DF. Veja vídeo
Segundo um PM, o equipamento da marca Taurus disparou dentro da viatura, mesmo com a trava de segurança. O projétil atingiu o banco e o extintor de incêndio do veículo. Servidores relatam que os problemas com o armamento da empresa gaúcha são recorrentes
atualizado
Compartilhar notícia
Na semana em que a segurança pública do Distrito Federal enfrenta uma grave crise após a fuga de 10 detentos do Complexo Penitenciário da Papuda, policiais alertam que os problemas no setor vão além de questões políticas ou administrativas. Além da falta de manutenção de viaturas, de coletes à prova de balas vencidos e do baixo efetivo, os policiais enfrentam outra adversidade que coloca em risco não apenas a vida dos servidores, mas da população: defeito nas armas.
Um vídeo feito por um policial militar do DF mostra a fragilidade do equipamento. Segundo o policial, a submetralhadora da marca Taurus disparou dentro da viatura, mesmo com a trava de segurança acionada. O projétil atingiu o banco e o extintor de incêndio do veículo, mas poderia ter causado uma fatalidade caso a mira estivesse em outra direção.“Todo cuidado é pouco com essa arma. Não é de hoje que elas apresentam defeito”, alertou o policial na gravação. Em janeiro de 2015, a Polícia Militar determinou a revisão de todas as submetralhadoras SMT.40 da Taurus, empresa nacional que tem sede em Porto Alegre. Uma falha identificada no seletor de disparos de três equipamentos motivou o recall do modelo, cujo preço unitário é de R$ 4 mil.
“Já fui instrutor de tiro e, à época, várias armas dessa marca quebravam ainda durante o treinamento. Elas são de péssima qualidade e oferecem risco tanto aos policiais quanto à comunidade”, afirmou um policial militar que pediu para não ser identificado. “São um lixo. Elas disparam sozinhas, esses casos são recorrentes”, criticou.
Monopólio
Perito criminal e integrante da Força Nacional em Alagoas, Landislau Brito analisou diferentes tipos de arma da marca nacional e detectou problemas. Em 2015, por exemplo, o policial periciou 2 mil pistolas da Taurus e encontrou defeitos em um lote. Os armamentos foram enviados para a empresa e consertados. “O problema do mercado de armas no Brasil é o monopólio. É uma marca que não tem qualidade. Não pode ser comparada com as de origem internacional. É um problema grave que precisa ser tratado com prioridade”, explicou Brito.
A Polícia Militar informou que apura o caso. A corporação alegou ainda que as armas passam por reparos frequentemente, e as que apresentam defeito são encaminhadas para a perícia. Sobre as irregularidades encontradas na inspeção feita no ano passado, a PMDF afirmou, por meio de nota, que “um parecer foi feito e enviado para a fábrica e, por meio disto, os defeitos foram sanados na época”.
Alerta
O Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal (Sinpol-DF) emitiu uma nota em 22 de janeiro alertando para os riscos das armas fabricadas pela empresa nacional. No comunicado, o Sinpol diz que os profissionais da segurança pública de todo o país estão submetidos a uma situação de risco. Mencionam que os casos de disparo acidental das armas fabricadas pela Taurus são cada vez mais comuns.
“A empresa é a principal fornecedora das forças de segurança do Brasil — graças à Lei 10.826/2003, as polícias só podem comprar armas de empresas estrangeiras se não houver modelo semelhante produzido nacionalmente”, diz o comunicado do Sinpol. No Distrito Federal, tanto a Polícia Civil quanto a Militar usam equipamentos da Taurus. O ideal, de acordo com o sindicato, seriam armas importadas de alta qualidade.
Acidente em casa
Luciano Vieira, diretor do Sinpol-DF, foi atingido por um disparo acidental em 2011. Ele estava em seu apartamento quando a pistola caiu no chão. A queda ocasionou um disparo, que atingiu o policial na região do tórax. A bala atravessou o corpo de Vieira e ficou alojada no ombro.
O policial ficou hospitalizado por quatro meses. O sindicato fez um levantamento dos casos registrados no DF e chegou à conclusão que, na maior parte dos incidentes envolvendo o armamento, mesmo com a trava de segurança acionada, se a arma cair no chão ela dispara. O cartucho não é ejetado — o que indica o defeito.
O brasileiro é refém da Taurus. Os armamentos são de baixa qualidade. De 2009 a 2015, registramos seis casos de disparo acidental envolvendo policiais civis e agentes penitenciários
Luciano Vieira, diretor do Sinpol-DF
Segundo dados do sindicato, um agente que trabalha no Presídio Feminino do DF também registrou problemas com a pistola. Em abril de 2015, a arma disparou no momento em que ele caminhava pelos alojamentos. A bala atingiu a perna esquerda do servidor.
Luciano Vieira defende que um recall é necessário e urgente, pois não faltam “evidências da existência do problema”. Ele informa que toda a documentação dos defeitos detectados já foi encaminhada ao Ministério Público para que as providências cabíveis sejam adotadas.
O Metrópoles entrou em contato com a empresa Taurus, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.