Operação da PM tensiona relação com policiais civis, que reagem
Sinpol divulga lista com recomendações a delegados e agentes. Entre elas, está a denúncia a autoridades de “abuso de poder” caso crimes não sejam configurados. A medida foi adotada após anúncio de uma megaoperação da Polícia Militar no mesmo horário da assembleia da categoria
atualizado
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A guerra entre policiais civis e militares extrapolou os limites da questão salarial. Enquanto a PM se preparava o lançamento de uma megaoperação nesta sexta-feira (9/9), com o objetivo de reduzir os índices de criminalidade, o Sindicato dos Policiais Civis do DF (SInpol) divulgou uma lista com orientações a serem seguidas à medida que os presos forem chegando às delegacias. O registro das ocorrências de casos trazidos durante a operação só será realizado sob condições. E, em caso de não se confirmar crime nas prisões efetuadas, o sindicato recomenda que os militares sejam alvos de uma denúncia por “abuso de autoridade”.
A lista incluiu outras recomendações e mostra a ferida exposta na relação entre as duas principais forças da segurança pública brasiliense. Para a apreensão de drogas, por exemplo, vai ser exigida a emissão de laudo preliminar positivo do entorpecente. Na avaliação dos policiais civis, a operação da PM ocorre em hora imprópria, uma vez que a maioria das chefias entregaram os cargos.
A relação com as orientações não foi o único material distribuído pelo Sinpol. Em outra nota pública, a entidade questiona o motivo de a operação ser realizada apenas em um dia e por que o efetivo total não está nas ruas todos os dias. Além disso, cutuca com vara curta ao perguntar: “Os cerca de 400 PMs lotados no Batalhão do Buriti (Casa Militar) irão participar?”As críticas, endereçadas à Polícia Militar e ao Palácio do Buriti, têm alto teor explosivo, principalmente porque a operação foi marcada para começar no mesmo horário em que estava agendada a assembleia dos policiais civis, que cobram reajuste salarial de 37%, o equivalente ao aumento concedido pela União à Polícia Federal. O fato foi encarado pela categoria como um ataque, um desdém. Durante a assembleia, os civis decidiram manter a Operação Legalidade, iniciada em 4 de julho deste ano.
O clima de tensão é revelado quando o Sinpol deseja sucesso à operação da PMDF, “uma vez que tem acontecido um assalto a cada 12 minutos nas ruas do DF”. O texto afirma que desde o início do governo de Rodrigo Rollemberg (PSB) já ocorreram 50 mil roubos a pedestres e 1.073 mortes violentas. “Finalmente, a PMDF resolveu iniciar hoje, 09/09/16, o programa de redução dos índices de criminalidade”, destaca a nota.
Operação
A operação da PM levará mais 1,2 mil policiais às ruas, que trabalham na área administrativa da corporação e vão reforçar as rondas em viaturas e a pé, pelo menos uma vez por semana. O trabalho contará com o apoio de diversas unidades especializadas da PM, como o Bope, Rotam, RPMon, BPCães, BPChoque e o Batalhão de Operações Aéreas.
Durante o lançamento da operação de combate à criminalidade na tarde desta sexta-feira, o comandante-geral da PM, coronel Marcos Antônio Nunes, comentou sobre as orientações dadas pelo Sinpol e as críticas da Polícia Civil. “Não faremos nada diferente. Esperamos o bom senso e acreditamos que não haverá problemas”, afirmou. “Já conseguimos reduzir índices de crimes graves, como o homicídio, que chegou ao menor patamar em 22 anos. Agora o foco serão roubos e assaltos. Toda sorte é bem-vinda”, disse o comandante, em evento promovido no Museu Nacional.
Apesar do trabalho reforçado, o comandante admitiu que existe um deficit de 5 mil homens na corporação. “Será preciso ainda mais dedicação dos policiais, mas daremos a alma para a segurança do DF”. A Secretaria de Segurança e Paz Social, Márcia Alencar, também presente na cerimônia, mas não quis falar com a imprensa sobre o impasse entre as corporações.